Às vésperas da eleição, opinião internacional se consolida contra Bolsonaro
A liderança de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência do Brasil criou um forte movimento crítico na imprensa internacional –e também de acadêmicos, brasilianistas, intelectuais, políticos e artistas. Enquanto as sondagens apontam que os brasileiros tendem a eleger o candidato do PSL, e o mercado financeiro global indica gostar da decisão, a opinião no resto do mundo parece considerar problemática esta escolha.
Desde antes mesmo do primeiro turno, têm sido muito frequentes as análises e comentários que rejeitam com diferentes ênfases e níveis de preocupação o posicionamento político dele, e que apontam para problemas em sua carreira, suas propostas e para o futuro do país sob um eventual governo do candidato –com raríssimas exceções.
Há tempos a mídia estrangeira acompanha atenta e com olhar analítico a política brasileira. O governo de Dilma Rousseff foi foco de grandes debates, os protestos de junho de 2013 se tornaram temas de pesquisas acadêmicas internacionais e o impeachment mobilizou opiniões contrárias e a favor da saída da presidente, bem como gerou debate sobre o uso do termo "golpe", sem nunca haver um consenso.
Na situação da eleição presidencial, parece não haver divergência, e o posicionamento crítico ao candidato que lidera as pesquisas é quase unânime. Em quase todas as mais relevantes publicações do mundo, como o "New York Times", o "Guardian", a "Economist", o "Monde", o "El País", o posicionamento é contra Bolsonaro –em todos os veículos internacionais monitorados por este blog Brasilianismo, praticamente apenas o "Wall Street Journal" publicou texto minimizando os riscos da eleição de Bolsonaro, e a revista conservadora "Washington Examiner" disse que ele era opção menos ruim do que seu opositor.
Mesmo sem defender Fernando Haddad ou o PT (que também são alvo de críticas na cobertura internacional) o ponto principal de quase tudo o que se lê no exterior é que Bolsonaro é uma aposta equivocada do país, uma escolha triste, como argumentou um editorial do "New York Times".
Com a proximidade das eleições, parte do debate se dá em torno da melhor forma de entender e descrever o fenômeno liderado pelo candidato do PSL, e alguns especialistas avaliam possíveis impactos da vitória de Bolsonaro para a relação do país com o mundo e a forma como o país é visto no exterior. De forma geral, a opinião encontrada na mídia internacional se consolidou contra a possível eleição dele.
Segundo o jornal "Financial Times", Bolsonaro representa uma "bola de demolição" na política brasileira (o mesmo jornal já o chamou de "granada humana"), visto como ameaça por opositores. Segundo a publicação, o apoio ao candidato do PSL pode ser entendido como uma reação à crise econômica e ao aumento da violência no país.
A agência de notícias Associated Press, por outro lado, publicou uma análise discutindo os termos usados para descrever Bolsonaro, avaliando se ele poderia ser chamado de "fascista", "populista" ou "extrema direita".
"Enquanto as eleições de domingo se aproximam, o deputado de sete mandatos é o foco de um debate feroz no Brasil e além sobre como descrever um candidato cuja mistura eclética de políticas e linguagem grosseira emociona os partidários e aterroriza os detratores. A ascensão de Bolsonaro se assemelha à de outros políticos em todo o mundo que costumam empregar retórica semelhante, incluindo o presidente dos EUA, Donald Trump, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e vários líderes em toda a Europa", diz.
Segundo uma análise publicada na agência Reuters, Bolsonaro pode ser uma tragédia para o Brasil — termo parecido com o "desastroso" usado pela revista "The Economist" semanas antes do primeiro turno da eleição.
"Em vez de tornar o Brasil grande de novo, Bolsonaro pode acabar governando um país que se tornará uma tragédia autoritária e ambiental que não respeita os direitos humanos."
O artigo é uma das mais fortes críticas internacionais recentes ao candidato:"Os brasileiros gostam dos planos radicais de Bolsonaro para lidar com a escalada da criminalidade e da violência, que incluem o afrouxamento do controle de armas, a impunidade policial para atirar em criminosos e castração química de estupradores. Eles admiram o discurso anti-corrupção de um dos poucos políticos no Brasil que não foi contaminado por escândalos. Mas enquanto suas promessas de fazer o Brasil uma grande nação ganham apoio, poucos consideraram como o seu provável mandato pode derrubar a visão do mundo sobre o Brasil."
Um dos argumentos centrais do texto assinado pelo correspondente Dom Phillips, é que há uma falta de conexão entre o que os eleitores de Bolsonaro esperam dele e o que ele de fato pretende fazer no governo.
"Os defensores acreditam que Bolsonaro entregará o tão aguardado 'país do futuro'. Em vez disso, como ele mesmo disse, ele quer levá-lo de volta ao passado", diz.
Um dos pontos centrais em que isso acontece, segundo Phillips, é na questão ambiental. O artigo argumenta que Bolsonaro pretende reduzir as áreas de proteção na Amazônia, e diz que isso pode ter impactos na forma como o Brasil é visto no mundo, e como o mundo lida com o país.
"Certamente haverá uma reação internacional quando seus aliados do agronegócio começarem a derrubar a Amazônia. Os consumidores podem parar de comprar carne bovina brasileira –uma das principais exportações do país. Estrelas pop preocupados com a possibilidade de alienar fãs internacionais podem recusar oportunidades lucrativas de se apresentar para brasileiros ricos", diz.
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