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Blog do Brasilianismo

Brasil enfrenta escolha impossível, diz professor de universidade francesa

Daniel Buarque

10/10/2018 05h45

Editorial do 'Le Monde' diz que Bolsonaro ameaça a democracia brasileira

Os eleitores brasileiros viraram reféns da polarização política, e enfrentam uma "escolha impossível" no segundo turno da decisão presidencial, segundo a avaliação do professor Alfredo Valladão, da Sciences Po, em Paris.

Durante uma palestra na série de seminários do Brazil Institute do King's College London, na noite de terça, Valladão analisou o cenário político do país que volta às urnas no fim do mês para escolher entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

Para ele, os brasileiros estão "fartos" da política, não confiam nos partidos tradicionais e estão desesperados pela violência. Além disso, a tática usada por Lula e pelo PT na eleição ajudou a "asfixiar o centro político, e desagregou o meio", o que impulsionou "um candidato homofóbico, misógino e radical, que não entende nada de economia."

"A maioria dos brasileiros são razoáveis e tolerantes, mas foram feitos reféns por duas forças extremas que criaram um clima terrível de 'nós contra eles', de eliminar e destruir o oponente, como se fosse um inimigo, o que torna impossível negociar qualquer coisa. Esse clima é uma das piores coisas que acontecem no Brasil. Ninguém vota em um candidato, vota contra um candidato", disse Valladão.

O professor Alfredo Valladão, durante palestra no King's College London

Além dos riscos gerais trazidos por uma eleição radicalizada, avaliou, a divisão impede que as pessoas pensem em soluções para os problemas do Brasil.

"As minorias radicais transformaram a eleição em uma escolha binária. A narrativa criada é entre as pessoas que têm medo da ditadura militar e as pessoas que têm medo de uma ditadura populista que transformaria o país numa Venezuela. As pessoas acreditaram nessas narrativas, mas acho que elas estão erradas. O Brasil é melhor do que a Venezuela e as instituições estão fortes, então não há espaço para uma ditadura. Além disso, nenhum dos dois lados controla os militares", disse.

Nesse cenário, quem quer que ganhe a eleição vai ter dificuldades para governar "um país dividido e com raiva, fraturado e marcado pela corrupção", disse. "Vamos passar por um longo período de estagnação. Teremos sorte se conseguirmos evitar violência política, o que atrairia os militares e seria desastroso."

Apesar do tom de preocupação com o futuro do Brasil e das críticas ao candidato que venceu o primeiro turno, o professor da universidade francesa minimizou o risco de o país avançar rumo ao autoritarismo sob um eventual governo de Bolsonaro.

"Não há um movimento de extrema-direita no Brasil, como há na França e na Alemanha. Há um político com posições de extrema-direita, que tem alguns seguidores, mas ele não tem um partido que possa ser entendido como um movimento radical", disse.

"Há um sentimento conservador na sociedade brasileira, mas as pessoas não parecem querer se organizar em torno de um partido de extrema-direita. O próprio partido de Bolsonaro é tão diversificado e sem tradição que não vai se organizar como o Front Nacional, por exemplo. Pode haver pequenos grupos radicais fortes, mas não acho que possa haver um movimento de extrema-direita organizado no Brasil mesmo que Bolsonaro vença."

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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