Venezuela, Previdência e baleia ofuscam carnaval na imprensa internacional

A agência de economia Bloomberg indicou logo de cara que toda a empolgação do mercado internacional com a reforma da Previdência precisaria aguardar a passagem do carnaval, que tomaria as atenções do país dias depois da apresentação da proposta. Mas, tirando esta menção e um ou outro texto menor sobre a festa que mais simboliza o Brasil aos olhos do resto do mundo, a situação política, econômica e social do país parece ofuscar o carnaval do olhar estrangeiro em 2019.

A poucos dias do início da folia, e depois de um fim de semana de grandes eventos pré-carnavalescos, a imprensa estrangeira quase não tocou no assunto. Ao longo das últimas semanas, a cobertura da mídia internacional parece focada na crise na Venezuela, na reforma da Previdência, em tragédias como a de Brumadinho e do CT do Flamengo, nas crises internas do governo de Jair Bolsonaro, e até mesmo na baleia encontrada na Amazônia, que ganhou destaque global. Pelo que se vê de fora, nem parece que o carnaval já se aproxima.

O silêncio sobre a festa chama a atenção especialmente porque o carnaval brasileiro costuma ser acompanhado intensamente pela mídia de outros países desde semanas antes do começo dos festejos. Seja na cobertura mais marcada por estereótipos e cheia de mulheres seminuas, ou pela análise mais cuidadosa do contexto social e político, não é comum chegar a menos de uma semana antes do carnaval sem ampla atenção global.

No ano passado, por exemplo, o sábado de carnaval foi no dia 10 de fevereiro, mas desde o mês anterior já era possível ver reportagens em grandes veículos da imprensa internacional falando sobre a maior festa brasileira.

Na ocasião, um dos focos da atenção de estrangeiros era o debate sobre a imagem da sensualidade associada ao carnaval e a questão da luta contra o assédio, que ganhava visibilidade no Brasil. Este enfoque ganhou força mesmo durante o carnaval, com uma grande cobertura estrangeira a respeito da defesa do "não é não", que parecia romper um pouco os estereótipos associados à folia.

Com a proximidade da festa, cresceram as menções ao carnaval na imprensa internacional, e também as análises de como a festa se relaciona com outras questões no país. Para algumas publicações em outros países, o carnaval teve um tom mais politizado do que o normal, dando uma amostra do que ocorreria no Brasil nas eleições presidenciais de outubro.

Em 2017, não foi muito diferente. O sábado de carnaval foi no dia 25 de fevereiro, mas desde o começo do mês que já se falava sobre a festa na imprensa estrangeira. Por um lado, havia a ideia de que o carnaval ia voltar a aquecer a economia brasileira após dois anos em que a crise havia ofuscado a festa. Por outro lado, comentaristas estrangeiros tratavam da grande polarização política no país, que ganhava reflexos até mesmo na maior festa do país.

Em 2016, ano de grave crise política e econômica, que acabaria levando ao impeachment de Dilma Rousseff, ainda assim houve espaço na mídia estrangeira para falar da festa. O carnaval ocorreu no primeiro fim de semana de fevereiro, mas em janeiro o resto do mundo já falava sobre os impactos da festa. Primeiro o Financial Times falou de cidades brasileiras que haviam cancelado suas festas por falta de dinheiro, e usava isso para dar uma dimensão do tamanho da crise. Em seguida, a Forbes foi além, e disse que o carnaval daria uma "breve pausa na deterioração do Brasil". E foi naquele ano que a revista The Economist fez uma analogia que ganhou muita repercussão, dizendo que o Brasil ia "festejar à beira do abismo".

Nos últimos anos foi muito clara a atenção dada desde muito cedo ao carnaval. Essa breve revisão da cobertura estrangeira do carnaval ajuda a mostrar o quanto a festa é um símbolo importante do Brasil aos olhos do resto do mundo, e evidencia a falta de notícias sobre ele neste ano. Por um lado, é interessante perceber o silêncio sobre a festa nas principais publicações internacionais, mas seria exagero falar que isso representa alguma mudança no clichê usado no resto do mundo para pensar sobre o Brasil. De fato o noticiário ligado ao Brasil tem estado intenso nas últimas semanas, e não sobra muito fôlego para lembrar do carnaval com antecedência. Ainda assim, é natural esperar que nos próximos dias a imprensa internacional comece a falar da festa, que logo se tornará foco de atenção no próprio Brasil. reforça a relevância do silêncio até aqui.

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