Editoriais estrangeiros criticam política brasileira: 'modelo disfuncional'
O afastamento da presidente Dilma Rousseff foi tema de editoriais em alguns dos principais veículos da imprensa internacional. Os textos de opinião apontam a existência de graves problemas sistêmicos na política brasileira.
Para a mídia internacional, a questão não é mais nem a legalidade do impeachment ou a mudança dos governos, mas o fato de que o processo representa o fracasso do modelo político do país.
Nos editoriais, jornais como o "New York Times", "The Guardian", "Le Monde" e "Financial Times" indicaram que o Brasil precisa de reformas profundas, e que trocar Dilma pelo agora presidente interino, Michel Temer, não é solução para as crises por que o país passa.
O tom crítico não chega a ser novidade. Nesta semana os jornais alemães já diziam que o impeachment era a declaração de "falência" do país.
Bem antes disso, em agosto de 2015, logo após protestos contra o governo por todo o país, a imprensa internacional se colocou fortemente contrária à ideia de um impeachment no Brasil em reportagens e análises internacionais que apontavam que o caminho da retirada da presidente, do ponto de vista internacional, seria um erro.
Naquele momento, de uma única vez, "New York Times", "Financial Times", "El País", "France Presse" e vários outros veículos deixaram bem mais evidente o olhar estrangeiro contrário ao impeachment no Brasil.
Em setembro o tom mudou um pouco, e a imprensa internacional percebia maior ímpeto do movimento pelo impeachment. Depois do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard and Poor's, da divulgação de indicadores sobre a gravidade da crise econômica, da frustração em torno do pacote de ajustes fiscais do governo e da insistência da oposição em discutir a interrupção do governo de Dilma Rousseff, as publicações internacionais passaram a indicar que era possível que o mandato do governo realmente fosse abreviado.
Pouco depois, em dezembro, a abertura de processo de impeachment foi interpretada no resto do mundo como um grande risco à estabilidade política brasileira. A avaliação era de que o impeachment pode afundar o Brasil em uma crise política e econômica ainda mais grave do que a vivida atualmente.
Ao longo de um ano de debate sobre impeachment, mesmo publicações conservadoras, como a revista de economia "Forbes", chegou a dizer que seria um erro pedir o impeachment da presidente.
A crítica ao processo não era uma defesa da presidente, agora afastada. A imprensa estrangeira nunca aceitou abertamente a ideia de que o impeachment era um golpe de Estado, como a presidente disse em seu último pronunciamento.
Essa mídia de outros países sempre foi muito crítica dos últimos anos do governo do PT, apontando erros especialmente na economia, e foram muitos os textos de opinião que atacaram Dilma. A opinião de quem vê o país de fora, entretanto, estava sempre mais voltada à ideia de reforma política, novas eleições e renúncia da presidente, como no editorial da revista "The Economist" e outro do "Le Monde".
Nos editoriais publicados após o afastamento de Dilma há a crítica ao processo do impeachment, e indicações de que o governo do presidente interino, Michel Temer, também vai ser marcado por graves crises e dificuldades. Os principais editoriais continuam sem incorporar o discurso do PT de que o processo é equivalente a um golpe, entretanto.
Além de fortes críticas ao sistema político, é comum na opinião das publicações internacionais a defesa de que novas eleições poderiam ser o melhor caminho para o Brasil sair da atual crise.
'Guardian'
A crítica ao sistema político está evidente no título do texto com a opinião do "Guardian": "O sistema político deveria estar sendo julgado, não uma mulher", diz.
"O Brasil se colocou em uma terrível confusão, e é difícil ver como vai sair dela", explica o jornal. "O que está claro é que não foi apenas a sua carreira [de Dilma] que desabou, mas o sistema democrático do Brasil como um todo", complementa.
Segundo o "Guardian", o modelo político brasileiro fracassou e se tornou disfuncional a ponto de a corrupção ser inescapável e um bom governo é constantemente impedido.
'Financial Times'
A crítica ao sistema político do Brasil também é tema do jornal de economia "Financial Times". O editorial publicado nesta sexta (13) explica que o Brasil enfrenta três grandes crises: econômica, ética e política. E diz que o novo governo do Brasil, apesar das controvérsias, pode ajudar o país a superar os dois primeiros.
"Temer não é um salvador nacional, mas ele pode estabilizar o país", diz o jornal.
Segundo o "FT", mesmo com a mudança de governo, o problema que vai continuar é o do "arranjo político que faz com que o Brasil seja uma das mais fragmentadas e pesadas democracias presidenciais no planeta". Em um mundo ideal, continua o editorial, o Brasil lidaria com as três crises em novas eleições, mas isso exigiria uma reforma eleitoral "altamente improvável na situação política polarizada de hoje", diz, citando críticas ao processo que afastou Dilma Rousseff da Presidência.
"O resultado está longe da perfeição. Ainda assim, é o que é", diz.
'Le Monde'
O francês "Le Monde" diz que Dilma foi retirada do poder de forma brutal após manobras que não honram o conjunto da classe política brasileira, já bastante desacreditada.
"Na verdade, o triste caso e a última manifestação de um enorme mal-estar provocado por um mundo político amplamente corrompido, tanto à direita quanto à esquerda", diz o jornal. "Sem dúvida seria melhor ter novas eleições", completa.
'New York Times'
O jornal norte-americano "The New York Times" também criticou o sistema político do Brasil e disse em seu editorial que a presidente afastada, Dilma Rousseff, pode "pagar um preço desproporcionalmente grande por irregularidades administrativas enquanto vários de seus detratores mais ardentes são acusados de crimes mais escandalosos".
O argumento de que o governo sofre um golpe "é discutível", diz, que as chamadas pedaladas fiscais de que Dilma é acusada foram cometidas por outros governantes sem que eles tenham sofrido o mesmo escrutínio.
"Muitos suspeitam, porém, que os esforços para remover Dilma têm mais a ver com a decisão dela de permitir que procuradores sigam adiante com investigação de esquema na Petrobras", diz o texto.
O "NYT" se posicionou pela realização de novas eleições caso a presidente perca definitivamente seu mandato após julgamento a ser feito pelo Senado.
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