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Blog do Brasilianismo

Mídia estrangeira muda tom e aponta maior ímpeto de impeachment no Brasil

Daniel Buarque

17/09/2015 16h25

Reportagem do

Reportagem do "Financial Times" indica aumento do risco de impeachment no Brasil

Vários textos editoriais publicados na imprensa internacional no mês passado deixaram claro o posicionamento estrangeiro contrário a qualquer ideia de impeachment no Brasil, mesmo com toda a crise política. Pouco antes, o tom geral era até mesmo de que o impeachment seria equivalente a uma tentativa de golpe. Agora, depois do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard and Poor's, da divulgação de indicadores sobre a gravidade da crise econômica, da frustração em torno do pacote de ajustes fiscais do governo e da insistência da oposição em discutir a interrupção do governo de Dilma Rousseff, esta semana foi possível perceber uma mudança de tom na mídia estrangeira. As publicações internacionais passaram a ver ímpeto nas ações deste tipo, e começam a indicar que é possível que o mandato do governo realmente seja abreviado.

Artigo do FT diz que governo está perto do fim da linha

Artigo do 'FT' diz que governo está perto do fim

A mudança de tom foi percebida primeiramente na análise da agência de inteligência geopolítica dos EUA Stratfor. Poucos meses depois de dizer que impeachment era improvável, o think tank indicou nesta semana que o movimento para tirar Dilma do poder ganha força. Além dele, a consultoria internacional Eurasia, especialista em análise de risco político, elevou de 30% para 40% sua perspectiva de possibilidade de impeachment no Brasil.

A partir de análises nesta linha, algumas das principais publicações jornalísticas no resto do mundo começaram a ver o risco de fim antecipado do atual governo como possível (ainda que não necessariamente provável).

O jornal de economia "Financial Times", por exemplo, publicou nesta semana dois textos indicando o possível fim da linha da presidência de Dilma. É importante lembrar que o "FT" tradicionalmente se colocou contra o governo e crticou a condução da economia desde antes da reeleição, no ano passado, mas ainda assim ele indica aumento da força contra a presidente.

Uma análise publicada pelo jornal diz que "os lobos estão se aproximando do governo", e indica que os principais pontos que colocam seu cargo sob risco são a queda na atividade industrial, a diminuição do consumo e da confiança dos consumidores e o aumento do desemprego.

Texto da rede Bloomberg aponta aumento de chances de impeachment

Texto da rede Bloomberg aponta aumento de chances de impeachment

Segundo o "FT", é possível ver o momento como o "começo do fim" do Brasil de Dilma. Texto assinado pelo analista brasileiro Paulo Sotero, do Wilson Center, diz que o governo não tem mais a credibilidade necessária para conter a crise.

Reportagem sobre crise brasileira no 'Washington Post'

Reportagem sobre crise brasileira no 'Washington Post'

Outra rede de economia, Bloomberg publicou uma reportagem sobre a pressão política sobre o governo. "Discussões no Congresso e o apoio ao pedido refletem uma crescente união da oposição em relação ao impeachment enquanto a maior economia da América Latina se afunda na recessão", diz.

Em uma reportagem sobre a crise no país, o jornal americano "Washington Post" lembrou dos protestos contra a presidente e a mobilização popular pelo fim do governo de Dilma. "A questão agora é saber se uma segunda agência de risco também vai rebaixar o Brasil. Se isso acontecer, o impacto pode ser dramático", diz.

A agência de notícias Reuters publicou uma nota sobre o editorial do jornal "Folha de S.Paulo" do domingo, em que o jornal diz que o governo está tendo sua "última chance", reforçando na mídia internacional o sentimento de que o governo está sob risco.

Sem tratar especificamente da questão política do impeachment, a revista "The Economist" publicou nesta quinta-feira uma reportagem sobre o aumento do desemprego do Brasil. Para a publicação, a "mordida" da recessão está sendo sentida por milhares de brasileiros, e pode afetar ainda mais a força do governo Dilma. A revista critica o ajuste fiscal proposto e diz que "assim como esforços anteriores do governo, este ajuste parece insuficiente para reparar as finanças públicas, mas mais de que o necessário para irritar o Congresso, onde a cada vez mais impopular presidente não tem controle e onde o movimento para sua saída tem ganhado força. Dilma está se segurando em seu emprego por enquanto. Muitos brasileiros comuns não tiveram a mesma sorte", diz.

"The Economist" diz que Dilma ainda se segura no emprego, mas que corre risco

Ainda não é uma opinião unânime entre a mídia internacional, mas percebe-se claramente uma nova linha de interpretação do atual momento brasileiro. A análise do posicionamento estrangeiro mostra que o movimento pelo impeachment não chega a ter apoio no resto do mundo, mas que olhares externos já começam a ver a saída de Dilma do governo como uma possibilidade real.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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