Mídia estrangeira vê risco de 'crise profunda' em processo de impeachment
A abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff está sendo interpretada no resto do mundo como um grande risco à estabilidade política brasileira. A avaliação inicial da mídia estrangeira é de que o processo vai ser "longo e complicado", e que pode afundar o Brasil em uma crise política e econômica ainda mais grave do que a vivida atualmente. Os jornais de outros países destacam ainda que o processo de impeachment é fruto de uma disputa política entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e Dilma.
A abertura do processo de impeachment gerou uma reação rápida na imprensa internacional. Ao contrário do que acontece normalmente, quando os jornais internacionais demoram para fazer avaliações sobre a política brasileira, em menos de 24 horas da declaração de Cunha, já é possível conhecer uma primeira opinião estrangeira sobre a possível interrupção do mandato da presidente.
Mais de uma dezena de publicações já têm textos próprios e analíticos sobre a perspectiva do Brasil. Apesar de destacar os escândalos de corrupção e a insatisfação dos brasileiros com o governo de Dilma, o tom em geral é bem crítico ao presidente da Câmara e ao processo de impeachment como um todo.
Depois de explicar o significado do pedido de impeachment de Dilma, o jornal francês "Le Monde" criticou a forma como o processo foi iniciado.
"Eduardo Cunha não agiu em nome dos cidadãos descontentes, mas por vingança pessoal", diz. O jornal destaca que o presidente da Câmara está envolvido em escândalos e que ele tinha "uma última esperança de manter o PT refém da ameaça de impeachment".
Para o jornal argentino "La Nación", a medida abre um "julgamento político" contra a presidente.
A rede de TV norte-americana CNN publicou uma reportagem sobre a abertura do processo de impeachment e explicou que "apesar da sua reeleição no ano passado, o segundo mandato de Dilma tem sido marcado por escândalos de corrupção envolvendo o seu Partido dos Trabalhadores, o que derrubou sua popularidade e provocou grandes protestos", disse.
A CNN destacou ainda que o próprio Cunha está sendo investigado após não declarar contas no exterior. "Se for considerado culpado, ele provavelmente perde seu mandato", diz.
Segundo o jornal francês "Le Figaro", a decisão de abrir o processo de impeachment arrisca afundar o Brasil em uma gravíssima crise política que pode paralisar por meses o "gigante da América Latica, já mergulhado em uma profunda recessão econômica e marcado por um gigantesco escândalo de corrupção em torno da estatal Petrobras", diz.
A agência de notícias italiana Ansa ressaltou que o processo para interrompet o governo de Dilma pode ser "longo e complexo".
O jornal italiano "La Repubblica" disse que o mandato de Dilma corre risco, e explicou que o processo de impeachment é um confronto entre o presidente da câmara e a presidente da república.
Os pedidos de impeachment de Dilma têm sido discutidos no resto do mundo desde os primeiros protestos contra ela, no início do ano.
Em princípio, a maior parte das publicações internacionais se colocou desde o princípio contra a interrupção do mandato da presidente, apesar de criticarem fortemente seu governo. Muitos editoriais estrangeiros publicaram opiniões contra o impeachment, e chegou a ser comum ler a comparação do processo com a ideia de golpe.
Após a evolução dos debates, algumas publicações passaram a ver que o impeachment ganhava ímpeto, mas foram raros os veículos da mídia estrangeira a defender a medida. A revista "The Economist" foi uma das primeiras a dizer ser falso comparar impeachment a golpe. E, mesmo sem falar em interrupção do governo Dilma, a Bloomberg chegou a sugerir que o modelo paraguaio para uma mudança na política e na economia do país.
Para analistas estrangeiros, o impeachment também não tem sido tratado como algo positivo. O 'think tank' norte-americano Council on Foreign Relations (CFR) já alegou que não existem até agora motivos legais que justifiquem o impeachment, e derrubar Dilma sem haver provas concretas de crime resultaria em um enfraquecimento da democracia brasileira.
Em entrevista ao blog Brasilianismo no começo do ano, o consultor britânico Simon Anholt disse não acreditar que um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff pudesse afetar de forma profunda e duradoura a imagem internacional do Brasil. Segundo ele, entretanto, o atual debate sobre o assunto é algo que pode envergonhar o país no cenário mundial, pois o tema "é um pouco constrangedor para uma nação que está tentando se apresentar ao mundo como moderna e civilizada".
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