Wall Street Journal defende Bolsonaro e a 'revolução do mercado' no Brasil
Na contramão da avaliação internacional crítica a Jair Bolsonaro e a seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o jornal americano de economia The Wall Street Journal publicou neste domingo (29) um artigo de opinião defendendo o presidente brasileiro e apoiando o que chama de "revolução do mercado" no Brasil.
Segundo o WSJ, a inflação sob controle, os juros baixos, o alívio na avaliação de risco no crédito do país, a alta da Bolsa e especialmente um novo projeto para o BNDES pintam um cenário positivo para o crescimento futuro do Brasil –e isso tem a ver com o novo governo, avalia a colunista Mary Anastasia O'Grady, que acompanha a economia latino-americana para a a publicação especializada em finanças..
"Essa perspectiva mais positiva, depois de quase três anos de recessão, começou durante a presidência de Michel Temer, que assumiu após o impeachment da presidente do Partido dos Trabalhadores Dilma Rousseff em 2016. Mas ganhou impulso desde a inauguração do presidente Jair Bolsonaro em janeiro", diz.
O WSJ comenta o discurso de Bolsonaro na ONU e as críticas internacionais contra ele, e diz que a fala do brasileiro foi "um desafio à ortodoxia da ONU".
"Bolsonaro se recusa a se curvar aos deuses verdes e à polícia do pensamento internacional e, por isso, é condenado. No entanto, algo novo e importante está acontecendo no Brasil, mesmo que os ideólogos da ONU estejam muito envolvidos em clichês ambientais e políticas de interesses especiais para reconhecê-lo", diz, em claro apoio ao presidente brasileiro.
"Bolsonaro pode se tornar mais um político da velha escola. Mas, surpreendentemente, sua agenda parece um divisor de águas para milhões de brasileiros pobres. Se seus críticos estivessem interessados no futuro do Brasil, eles o cobrariam por suas promessas, em vez de falar mal dele."
O Wall Street Journal destoa do tom de quase toda a imprensa internacional em relação a Bolsonaro desde antes da sua eleição no ano passado. Enquanto quase todos os jornais, site e TVs dão espaço a críticas contra a postura do presidente e falam em ameaças à democracia brasileira, o WSJ foca apenas nas propostas para abrir a economia brasileira, então vê o governo como positivo. Bolsonaro chegou a ser apontado pela publicação como o "maior vencedor" de 2018 em todo o mundo.
Essa postura é diferente até mesmo de outras grandes publicações voltadas à economia como o Financial Times e revista The Economist –veículos ligados a um projeto de democracia liberal que defendem o mercado, mas que também demonstram interesse por instituições políticas democráticas. O WSJ foi o único entre os grandes veículos internacionais a defender Bolsonaro até mesmo no caso das queimadas na Amazônia.
Uma explicação para isso pode ser encontrada em um artigo publicado por outro jornal americano no fim de semana. Segundo o New York Times, o centro financeiro dos Estados Unidos, em Wall Street, não se preocupa com a democracia e simpatiza com líderes autoritários sempre que eles defendem posturas de mercado que interessa aos investidores.
"Os mercados são amorais e não se queixam de comportamento autocrático se produzir crescimento econômico", explica o autor do texto, o estrategista-chefe do Morgan Stanley Ruchir Sharma, autor do livro "The Rise and Fall of Nations: Forces of Change in the Post-Crisis World" (A ascensão e queda das nações: Forças pela mudança em um mundo pós-crise).
O artigo do Times diz que o presidente Brasileiro é um dos principais exemplos de líderes políticos baseados na força e "perigosamente erráticos". Bolsonaro é listado ao lado de outros governantes com tendências autoritárias, como o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi e o príncipe saudita Mohammed bin Salman.
"A dura realidade é que os mercados são barômetros amorais e instintivamente neutros do desempenho econômico, e às vezes ignoram a brutalidade e os excessos dos homens fortes por uma razão simples: enfrentando pouca ou nenhuma resistência de legislaturas, tribunais ou vigias independentes, homens fortes podem avançar reformas abrangentes – particularmente nas economias emergentes, onde as instituições políticas e o estado de direito são relativamente fracos", explica.
A avaliação se encaixa na avaliação do Wall Street Journal, que ignora a relevância de muitas das críticas à postura de Bolsonaro e foca apenas no que vê como efeitos positivos para o mercado em suas proposta econômicas –por mais que também admita que o país ainda está distante do que precisa fazer para se tornar um país desenvolvido.
"Não é que as pessoas de Wall Street sejam amorais ou não se assustem com o excesso de autocratas. Mas o trabalho deles é filtrar as manchetes que consideram os presidentes e os primeiros ministros mais fortes como vilões cruéis e, em vez disso, se concentram em se suas políticas provavelmente estimularão o crescimento", diz Sharma.
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