Como o mundo viu o discurso de Bolsonaro na ONU: 'Uma experiência surreal'
O presidente Jair Bolsonaro usou o seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para rejeitar críticas ao seu governo. As declarações do governante brasileiro ao mundo ganharam destaque na mídia estrangeira –um dos alvos dos seus ataques– em avaliações sobre o que foi descrito como uma "defesa surreal da sua política para a Amazônia".
"Bolsonaro diz que a Amazônia não está sendo destruída pelo fogo", diz o título de um relato sobre o discurso. "Bolsonaro diz que a mídia mente", diz outra das chamadas estrangeiras. "Bolsonaro diz que a Amazônia pertence ao Brasil", destacou uma terceira.
Contra relatos detalhados e cheios de dados, evidências, análises e estatísticas publicados em todo o mundo ao longo dos últimos meses, o presidente disse simplesmente: "Não".
"Para não-brasileiros, ouvir Bolsonaro falar sobre o assunto deve ter sido uma experiência surreal", avalia o jornalista americano Jon Lee Anderson em texto publicado pela revista The New Yorker.
O artigo relata a polêmica em torno da destruição da Amazônia e diz que ela ocorreu com consentimento do presidente brasileiro. Em vez de mostrar compromisso com a floresta, diz, "Bolsonaro fez uma defesa previsivelmente desafiadora das políticas de seu país em relação ao meio ambiente".
Além de Anderson, outros veículos internacionais também apontaram problemas no discurso de Bolsonaro.
O jornal francês Le Monde disse que o presidente usou "inverdades" em uma fala confusa e cheia de digressões.
O jornal inglês The Guardian chamou o discurso de "uma defesa irritada e conspiratória de seu histórico ambiental" e avaliou que Bolsonaro "negou –ao contrário da evidência– que a maior floresta tropical do mundo" está sendo destruída.
Um dia depois do discurso do presidente, o noticiário internacional dá indicações dessa falta de conexão do Brasil com a realidade –e do erro nas prioridades do governo na relação com o mundo.
Enquanto Bolsonaro usou o palanque para simplesmente rejeitar as críticas ao seu governo (sem dar nenhuma evidência para isso), a imprensa estrangeira usa fatos para mostrar outros problemas.
No resto do mundo, têm destaque nesta quarta-feira, além da repercussão sobre o discurso, a notícia de que criadores de salmão da Noruega suspenderam importação de soja brasileira por conta da destruição da floresta. A agência Associated Press relata que o número de invasões de terras indígenas cresceu sob Bolsonaro, e a Reuters noticia que agência de avaliação Moody's diz que o Brasil precisa mesmo é de crescimento econômico para melhorar sua nota de crédito. Notícias negativas que afetam a percepção sobre o país no mundo ainda mais.
A evidência é de que o discurso do presidente não deve ajudar muito a aliviar a desconfiança internacional sobre o seu governo. Para mudar a imagem negativa do país construída ao longo dos últimos meses é preciso mais do que simples negativas. O governo precisa ir além de declarações combativas e começar a mostrar com medidas e evidências que realmente aceita a responsabilidade que vem junto com a soberania do país e que está interessado em de fato desenvolver o Brasil. Dizer "não", chamar de mentira e apontar outros culpados não vai melhorar a reputação do Brasil.
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