Novo governo gera preocupação externa com risco de 'catástrofe ambiental'
A primeira semana de Jair Bolsonaro na Presidência foi marcada por um aumento nas discussões no exterior sobre os riscos do novo governo do Brasil para a Amazônia e para as populações indígenas que vivem nas florestas do país.
Foco de preocupação de analistas e da imprensa internacional desde antes da eleição, o possível impacto do presidente sobre a questão ambiental no Brasil e no resto do mundo foi tema de atenção de alguns dos principais veículos da mídia estrangeira durante a semana da sua posse. O destaque é para medidas que podem afetar o clima do mundo, no que chegou a ser chamado de ameaça de "catástrofe ambiental".
"Horas depois de tomar posse, o novo presidente do Brasil lançou um ataque às proteções ambientais e da Amazônia com uma medida transferindo a regulamentação e a criação de novas reservas indígenas para o Ministério da Agricultura –que é controlado pelo poderoso lobby do agronegócio", diz uma reportagem publicada no jornal britânico The Guardian.
A publicação vinha sendo uma das mais atentas à questão ambiental e antes da eleição chegou a dizer que a eleição de Bolsonaro representaria uma ameaça para todo o planeta. "Durante a campanha eleitoral do ano passado, Bolsonaro prometeu acabar com a demarcação de novas terras indígenas, reduzir o poder dos órgãos ambientais e liberar a mineração e a agricultura comercial nas reservas indígenas", diz.
Na reportagem mais recente, o jornal diz que a decisão do presidente provocou reação de líderes indígenas, que disseram que a medida ameaça suas reservas, "que representam cerca de 13% do território brasileiro, e marcaram uma concessão simbólica aos interesses agrícolas em um momento em que o desmatamento está crescendo novamente".
O jornal americano The New York Times partiu exatamente da questão indígena ao tratar dos problemas do novo governo para a Amazônia e para o ambiente.
"O presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, que comparou comunidades indígenas que vivem em áreas protegidas a animais em zoológicos, deu um grande passo para minar os direitos dos povos indígenas poucas horas depois de tomar posse. Em uma das muitas medidas que podem prejudicar comunidades historicamente marginalizadas, o novo governo transferiu a responsabilidade de certificar territórios indígenas como terras protegidas para o Ministério da Agricultura. O ministério tem tradicionalmente defendido os interesses das indústrias que querem maior acesso a terras protegidas", explica o jornal.
Segundo o jornal francês Le Monde, as primeiras medidas de Bolsonaro com relação à floresta e ao ambiente levam à preocupação com uma possível "catástrofe ambiental" gerada pelo aumento do desmatamento.
"Jair Bolsonaro não é um cético sobre a questão climática. 'Eu acredito em ciência, ponto final', disse ele no início de dezembro. Mas ele critica aqueles que ele chama de 'xiitas do meio ambiente', os fundamentalistas que ele vê na maioria das organizações não-governamentais dedicadas a preservar o planeta. O presidente também mantém um discurso semicolonialista em relação às populações indígenas, consideradas como os melhores protetores da natureza, a quem pretende converter à modernidade do mundo ocidental", diz o Monde.
A preocupação com os possíveis impactos das decisões do novo governo sobre o ambiente também foram foco de reportagem da TV americana CNN.
"A floresta amazônica é uma maravilha ecológica. Seus rios e copa criam um ecossistema rico para um décimo de todas as espécies do mundo e ajudam a regular a temperatura de todo o planeta. Mas a eleição do político de extrema-direita Jair Bolsonaro como novo presidente do Brasil deixou muitos preocupado com o futuro da floresta", explica.
"A saúde da Amazônia tem um efeito direto no aquecimento global", complementa.
Apesar do clima de preocupação no exterior, alguns analistas apontam que o novo governo pode não ter muita liberdade para criar problemas maiores para a Amazônia e o ambiente global.
"A posse do novo presidente do Brasil desencadeou temores de que as taxas de desmatamento na Amazônia aumentem. Há de fato boas razões para preocupação com a administração de Bolsonaro. Mas vários fatores, tanto domésticos quanto transnacionais, podem restringir sua capacidade de causar danos ambientais", diz o diretor do Brazil Institute do King's College London, Anthony Pereira, em artigo publicado no site The Conversation.
Apesar de afirmar que Bolsonaro é um presidente que vê preocupações ambientais como um obstáculo para o desenvolvimento, Pereira diz que o governo não terá facilidades para liberar o desmatamento e a ocupação da floresta.
"O novo presidente fala como se o agronegócio e a proteção do meio ambiente fossem incompatíveis –e parece querer sacrificar o ambiente pela agricultura, mineração e extração de madeira. Mas outras vozes terão espaço, e pelo menos alguma atenção será dada à visão de que a agricultura sustentável que preserva a biodiversidade é melhor tanto para as perspectivas de desenvolvimento do Brasil quanto para o clima mundial", diz.
Segundo o cientista político americano, pressões internas e de outros países podem levar o governo a precisar ceder em seus interesses, e em aceitar a preservação como sendo interesse do país.
"Preservar a floresta amazônica é de fundamental importância para o planeta, e há muitas pessoas no Brasil que querem fazer isso. Elas rejeitam a noção de que o desenvolvimento e a proteção ambiental são mutuamente exclusivos, e apoiam a reorientação da economia amazônica para meios de subsistência sustentáveis. Resta saber se a visão deles prevalecerá nos próximos anos", avalia.
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