Estudo revela como a Copa e a Olimpíada no Brasil pioraram a imagem do país
Todos os holofotes do mundo estavam apontados para o Brasil, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 foram consideradas sucessos e grandes festas, mas o momento interno do país não poderia ser pior.
As crises da política e da economia acabaram atuando como manchas na imagem mostrada ao mundo no momento crucial criado durante dois dos maiores eventos globais para expor o país ao resto do planeta. Em vez de impulsionar uma imagem positiva do Brasil, a Copa e a Olimpíada acabaram fazendo o país perder força em todos os índices que medem a sua reputação global.
Em um artigo publicado neste mês na revista acadêmica "Trama Interdisciplinar", o autor deste blog Brasilianismo analisou a série histórica de sete dos principais estudos internacionais a respeito da reputação global de nações. O resultado revela que o Brasil viveu um bom momento de projeção da sua imagem no início da década, mas que a Copa e a Olimpíada, que deveriam servir justamente para melhorar ainda mais esta percepção externa, acabaram sendo um ponto de virada para pior. Como diz o título do artigo, "The Tainted Spotlight", havia manchas no holofote internacional.
Em uma retrospectiva de 2017, este blog Brasilianismo já havia revelado o quanto o Brasil havia sido rebaixado em índices internacionais que medem imagem desta forma. Este novo estudo, entretanto, analisou a posição histórica do Brasil em rankings internacionais de imagem como o Anholt-GFK Nation Brands Index, o Country RepTrak (do Reputation Institute), o FutureBrand Country Brand Report, o Soft Power 30, o Best Countries e o Good Country Index, além da pesquisa sobre cobertura da mídia internacional I See Brazil. Em todos eles, é evidente o quanto a reputação Brasil perdeu força e caiu posições na lista de nações após a Copa e a Olimpíada.
A ideia de que os eventos globais haviam sido bem-sucedidos aos olhos do mundo já havia sido comentada antes, e a avaliação era de que a realização de grandes festas globais havia reforçado o estereótipo de Brasil como um país decorativo. O que o estudo mostra é que, mesmo com o sucesso das festas, a imagem do país acabou perdendo força com a exposição dos seus problemas.
O artigo explica como, ao conquistar um aumento do seu reconhecimento, da sua visibilidade internacional e a melhora da sua reputação política e econômica em termos globais, o Brasil adquiriu o direito de sediar dois dos maiores eventos globais na agenda internacional, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Isso fazia parte de uma estratégia de diplomacia pública de longo prazo para atrair os holofotes globais, a fim de chamar a atenção do mundo e exibir um país moderno em desenvolvimento e aumentar o soft power do Brasil.
Este processo também fazia parte de uma ambição histórica do país para se tornar uma grande potência do mundo através do desenvolvimento de seu soft power. Pesquisas internacionais mostram que o país sempre buscou reconhecimento externo, e os eventos seriam um ótimo momento para impulsionar este objetivo internacional. Este é o foco do trabalho dos pesquisadores David Mares e Harold Trinkunas, que deram entrevista sobre isso a este blog Brasilianismo.
No entanto, uma série de crises e problemas internos tomaram conta do país no período em que o Brasil ia se expor ao mundo, gerando instabilidade interna e uma projeção ruim do país. Notícias negativas acabaram ofuscando a organização bem-sucedida dos eventos e, em vez de melhorar a reputação do Brasil, a imagem internacional do país só piorou.
Como revelou o pesquisador chileno Cesar Jímenez-Martinez em uma entrevista a este blog Brasilianismo, os protestos nacionais iniciados em 2013 acabaram se consolidando como um ponto de virada na imagem internacional do Brasil. Ali, o mundo começou a perceber que a narrativa de emergência global do país talvez tivesse exagerado, e as coisas não iam tão bem como se esperava.
A avaliação fica evidente nos dados de pesquisas como a I See Brazil, que faz uma compilação do que se fala sobre o país na mídia internacional. Em pouco tempo, o tom de cobertura mudou de positivo para negativo. Com a exibição ainda mais intensa dessa imagem por conta da Copa e da Olimpíada, o resultado se converteu em uma reputação mais negativa do país.
Embora não haja consenso sobre a definição de "imagem da nação" e sobre uma metodologia para medir seu caráter multidimensional, o artigo analisa índices diferentes que se propõem a fazer isso, através de pesquisas, entrevistas e análises de dados públicos. De acordo com esses diferentes estudos, a percepção global do Brasil mudou para pior nos quatro anos entre 2013, antes da Copa do Mundo, e 2017, após os Jogos Olímpicos.
Isso significa que o resultado não seguiu o plano esperado pelo país, e a estratégia de usar a visibilidade para desenvolver ainda mais o soft power do Brasil aparenta ter repetido um padrão na história do país, onde as instabilidades políticas e econômicas assumem o controle de tempos em tempos, afetando sua ambição internacional.
O artigo foi publicado em uma edição especial bilíngue da revista "Trama" sobre a presença do Brasil no cenário internacional.
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