Para brasilianistas, fetiche por Bolsonaro tira foco de problemas do país
Um ano após a eleição de Jair Bolsonaro, o Brasil vive um clima ácido em meio a grande polarização política. Por mais que críticos apontem que o presidente seja responsável pela situação do país, dois brasilianistas preocupados em entender a realidade do Brasil contemporâneo defendem que há certo um exagero em torno das análises sobre o atual governo, e que este exagero pode tirar o foco de soluções para problemas mais profundos do país.
Para Anthony Pereira (diretor do Brazil Institute do King's College de Londres) e Jeff Garmany (professor de estudos latino-americanos na universidade de Melbourne), Bolsonaro é mais um sintoma de problemas profundos da democracia brasileira, e não o único responsável pela situação do país.
"Embora a presidência de Bolsonaro seja sem dúvida sem precedentes, não há necessidade de lhe dar mais crédito do que ele merece. Seja por sua vitória eleitoral ou pelo clima político sombrio que o Brasil enfrenta agora, Bolsonaro é apenas um fator entre muitos", argumentam os acadêmicos em um artigo publicado no site The Conversation.
"Uma série de fatores sociais e políticos produziram o cenário polarizado que o Brasil enfrenta agora e, se a atenção for desviada esmagadoramente para Bolsonaro, é provável que essas questões sejam negligenciadas", avaliam.
Autores do livro "Understanding Contemporary Brazil" (Entendendo o Brasil contemporâneo), lançado no ano passado, Pereira e Garmany fazem questão de não minimizar problemas que percebem no governo de Bolsonaro, entretanto.
"Bolsonaro sem dúvida acendeu as chamas das tensões políticas, sociais e culturais do Brasil", dizem. Eles citam problemas na condução do governo na questão da Amazônia, acusações de nepotismo, proximidade com suspeitos de crimes, casos de misoginia, homofobia e racismo, além da presença dele em redes sociais, o que "contribui para uma maior polarização política e social".
Ainda assim, eles defendem que "Bolsonaro não deve ser fetichizado" por quem tenta entender o Brasil hoje. "Bolsonaro não é necessariamente a causa da polarização política do Brasil, mas sim um sintoma de problemas democráticos mais arraigados."
O argumento já havia sido apresentado por Garmany na época do lançamento do livro, quando concedeu uma entrevista sobre a obra ao blog Brasilianismo. Segundo ele, a atenção dada a Bolsonaro na imprensa internacional vai além do interesse pelo Brasil e é fruto de desconhecimento sobre o país no resto do mundo. "A forma como Bolsonaro está gerando fetichismo na imprensa internacional vem em grande parte da forma como o mundo sabe pouco sobre o Brasil", disse em fevereiro.
No artigo publicado agora, os brasilianistas argumentam que a polarização há muito tempo contribui para a fragmentação política no congresso do Brasil, e que o país também continua sendo socialmente conservador, propenso a casos de sexismo, racismo e indiferença à proteção dos direitos humanos.
"Esses fatores estão nas raízes estruturais e culturais da atual polarização política no Brasil e, recentemente, começaram a borbulhar na superfície", explicam.
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