Indicação para embaixada nos EUA ofusca empolgação externa com Previdência
"Para Wall Street, o Brasil está de volta, baby", diz o título de uma reportagem publicada pelo site da revista Forbes a respeito da aprovação da Reforma da Previdência na Câmara, na semana passada.
O tom de comemoração foi frequente na cobertura de veículos de economia da imprensa internacional, onde há muito tempo esta reforma era apontada como fundamental para que o Brasil recupere sua economia. Assim como Forbes, Financial Times, Bloomberg e outros falaram sobre o otimismo que se abriria
Mas a empolgação acabou rapidamente ofuscada na imprensa estrangeira. Pouco depois da percepção de que o governo brasileiro poderia ser levado mais a sério, o anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que pretendia indicar seu filho para a embaixada brasileira em Washington acabou roubando os holofotes, e virando foco de tom crítico e irônico.
A reação imediata de comentaristas estrangeiros à possível indicação de Eduardo Bolsonaro foi de comparar o governo Brasileiro ao dos Estados Unidos. Assim como já acontecia desde antes da eleição, Bolsonaro foi comparado a Donald Trump, que é frequentemente criticado por misturar sua família com questões do governo americano.
A avaliação externa, entretanto, ganhou mais força crítica ao longo da semana. Em entrevistas ao serviço brasileiro da rede britânica BBC, especialistas apontaram problemas da indicação para o Brasil e para sua imagem. Para Peter Hakim, do think tank Inter-American Dialogue, Eduardo como embaixador seria um representante do seu pai, e não do Brasil –o que seria um problema para o país. Com tom igualmente forte, o professor Oliver Stuenkel, da FGV, disse que indicação de parentes para embaixadas é um comportamento associado a repúblicas de bananas.
E além da avaliação crítica ofuscar a atenção antes dada à reforma da Previdência, a avaliação externa é de que uma polêmica como esta tem o potencial de atrapalhar avanços como o que havia sido comemorado com a aprovação da reforma.
"A oposição à nomeação [do filho do presidente] pode colocar em risco a agenda legislativa de Bolsonaro", diz uma reportagem da agência de economia Bloomberg, indicando que futuras reformas esperadas pelo mercado podem perder força por conta da escolha de Eduardo Bolsonaro para a embaixada — e que a própria Previdência ainda pode ter dificuldades.
"O tumulto sobre a possível indicação foi imediato", explica a Bloomberg. "O momento foi terrível, já que duas situações como essa que estão sendo discutidas no Senado quase ao mesmo tempo podem ter uma contaminando a outra, colocando em risco ambas", complementa, citando um analista entrevistado.
A avaliação de que declarações polêmicas do governo atrapalham o avanço de propostas que são defendidas como importantes para a economia tem sido frequente na imprensa estrangeira. Em uma análise mais longa sobre a recuperação da economia publicada pelo think tank Americas Society/Council of the Americas, a pesquisadora Monica De Bolle explicou que o Brasil ainda enfrenta muitos problemas, e que não há um remédio único capaz de salvar o país da crise, mas uma série de reformas e medidas que precisam ser priorizadas.
"Se afundar em polêmicas tem um custo político", diz o texto do think tank. "O tipo de discussão sobre cor de roupas, que as meninas usam rosa e os meninos usam azul, não ajuda nada para a discussão de política que o Brasil precisa", diz De Bolle, em referência a uma polêmica anterior à indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada.
Apesar de a reforma da Previdência ter sido interpretada como um passo importante para o Brasil reorganizar sua economia, a percepção externa é de que nem tudo está resolvido, e é preciso evitar que polêmicas atrapalhem este tipo de avanço.
"Embora os investidores tenham aplaudido o progresso do projeto de reforma do sistema previdenciário do Brasil na semana passada, não há certeza de que sua passagem pelo restante do processo legislativo se mostrará tranquila", disse a Bloomberg logo após a aprovação da reforma na Câmara.
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