Bolsonaro reforça estereótipo que fez do Brasil destino de turismo sexual
Quem "quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade". A declaração do presidente Jair Bolsonaro, um contraponto a seu argumento de que o Brasil não pode ser um destino do turismo gay, relembra um passado em que o país fazia do clichê da sensualidade feminina parte da sua divulgação oficial para atrair visitantes. Este discurso reforça estereótipos muito negativos do país e da mulher brasileira, projetando a imagem do país como um destino famoso para o turismo sexual.
Um estudo do material de publicidade da Embratur entre as décadas de 1960 e 2000 evidencia isso claramente, e demonstra os problemas ligados a essa divulgação.
Segundo o trabalho "A Imagem do Brasil no Exterior", realizado pela pesquisadora Kelly Kajihara, a beleza e a sensualidade da mulher brasileira, grandes estereótipos do Brasil no exterior, foram bastante retratadas no material promocional da Embratur ao longo da história.
Foi apenas a partir do ano 2000 que isso começou a diminuir, explica, mas grande parte do material promocional da Embratur até então "mostra a mulher brasileira seminua nas praias, e por décadas a mulher brasileira foi divulgada no exterior como se fosse um atrativo do país".
Segundo o trabalho, publicado pela Revista Acadêmica Observatório de Inovação do Turismo, essa divulgação da sensualidade brasileira foi muito problemática para a imagem do Brasil.
"A perpetuação de tais estereótipos gerou sérias sequelas ao país, como o interesse dos turistas estrangeiros por sexo fácil no país e pelo conseqüente incentivo à prostituição adulta e infantil. Além disso, as imagens associadas à sensualidade também geraram conseqüências sociais, como a depreciação da mulher brasileira que é vista no exterior como 'fácil' e provocante", avalia.
É verdade que a declaração de Bolsonaro não faz parte do mesmo tipo de estratégia de publicidade que existiu no passado. Ainda assim, a declaração repercutiu muito na imprensa internacional (especialmente a parte que tem conotação homofóbica), projetando a imagem de que o presidente autoriza estrangeiros a pensarem no país como um destino de turismo sexual –quando o papel do governo seria o de proteger as mulheres brasileiras e sua reputação no resto do mundo.
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