Imprensa estrangeira destaca caso Marielle e fala em 'assassinato político'
Quase um ano depois de o Brasil ser o foco de centenas de notícias que reforçavam o estereótipo de violência no país, simbolizando a falência da segurança no Brasil, e relatavam o "ultraje internacional" gerado pelo assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, a prisão de dois suspeitos do crime também ganhou muita atenção internacional. A ação da polícia é tema de reportagens em alguns dos principais jornais do mundo nesta terça-feira.
"Policiais prenderam dois ex-policiais suspeitos de executar uma vereadora do Rio de Janeiro –um avanço em um descarado assassinato político que assombra os brasileiros há quase um ano", diz texto publicado pelo jornal americano The New York Times.
Segundo o NYT, as prisões oferecem o sinal mais concreto de que Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, foram alvo de membros de um "submundo do crime dirigido por policiais e ex-policiais".
"Os aliados de Franco há muito suspeitam que esses grupos, conhecidos como milícias, podem ter visado a vereadora em retaliação por seu ativismo contra a brutalidade policial e sua defesa dos direitos humanos", explica.
O jornal britânico The Guardian usa a expressão "ultraje internacional" para se referir ao caso e também trata da motivação política do crime. A reportagem descreve Marielle como uma política inovadora, nascida em uma das maiores favelas do Rio e "uma voz para as pessoas carentes da cidade".
"Ela criticou os assassinatos cometidos pela polícia nas favelas onde cresceu e participou de um inquérito da Assembleia estadual sobre as gangues paramilitares que dominam grandes áreas do estado do Rio de Janeiro. Conhecidos como milícias, esses grupos geralmente incluem policiais", diz o jornal inglês.
O jornal francês Le Monde ressalta que as prisões ocorreram dias antes de os assassinatos completarem um ano, e que o caso vinha gerando protestos em todo o país, incluindo no carnaval, que teve forte tom político.
"O governo conservador do presidente Michel Temer prometeu levar a investigação a uma conclusão rápida, mas ela demorou um ano, em um país onde a esmagadora maioria dos homicídios continua impune, enquanto os defensores de "Marielle" continuaram a buscar justiça", diz o Monde.
A rede árabe Al Jazeera destacou que, apesar as prisões, o caso ainda vai continuar sendo investigado.
"As perguntas 'quem matou Marielle?' e 'quem mandou matar Marielle?" tornaram-se slogans de justiça em todo o país para questões relativas a mulheres e brasileiros negros. Wilson Witzel, o governador do Rio de Janeiro, disse que as autoridades poderiam abrir uma 'segunda investigação' sobre o assassinato de Franco 'se necessário'."
Muitos dos veículos de imprensa internacional, como o NYT e o Guardian, mencionaram que um dos suspeitos de envolvimento na morte de Marielle morava no mesmo condomínio em que o presidente Jair Bolsonaro morava no Rio até o ano passado.
"A polícia não explicou se isso tinha algum significado e até o momento o presidente não esteve de qualquer maneira ligado ao caso", diz o Guardian.
O Times cita um investigador da polícia explicando que isso foi "uma coincidência insignificante", e que "os investigadores não descobriram qualquer ligação entre o suposto assassino e o presidente". O jornal ressalta, entretanto, que a família de Bolsonaro "está sob escrutínio por seus laços profissionais e pessoais com suspeitos de serem parte de milícias".
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