Mesmo sem vencer, Bolsonaro é sinal do fim da política tradicional do país
Independente do resultado das eleições presidenciais no Brasil e do que pode vir a acontecer no país a partir de então, a ascensão de Jair Bolsonaro é um símbolo do fracasso do sistema político tradicional brasileiro como funcionou ao longo dos últimos 30 anos, segundo um artigo publicado na importante revista de política internacional "Foreign Affairs".
Mesmo que Bolsonaro seja derrotado nas eleições, o grande apoio a sua candidatura indica que o modelo atual chegou ao limite e que a necessária transformação do sistema político do país está se aproximando, avalia o texto escrito pelo professor de política da FGV Eduardo Mello.
"A ascensão de Bolsonaro faz sentido quando se considera o cenário da cultura de corrupção política no Brasil. Depois de assistir a políticos de quase todos os grandes partidos serem envolvidos em escândalos de corrupção, os eleitores brasileiros estão dispostos a se rebelar contra um sistema disfuncional", explica a revista.
A ideia de que o sistema político brasileiro não tem condições de funcionar é repetida com frequência nas análises internacionais sobre o país. Desde o debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff, foram muitos os comentaristas que apontaram para problemas em como as decisões políticas são tomadas, e o espaço aberto à corrupção pela fragmentação partidária e falta de alinhamento ideológico.
Para a "Foreign Affairs", independente da polarização e do discurso controverso de Bolsonaro, ele conseguiu convencer muitos eleitores de que ele não faz parte desse sistema político disfuncional, e inovou ao fazer campanha sem seguir a tradição dos grandes partidos nacionais.
Uma reportagem publicada nesta semana pré-eleitoral no "Washington Post" faz análise semelhante. Segundo o jornal americano, a desconfiança dos brasileiros em relação aos políticos tradicionais é o que mais impulsiona os eleitores brasileiros, ao lado da preocupação com a violência.
"A raiz do espetáculo político está no escândalo de corrupção que colocou muitos líderes políticos e empresários do país atrás das grades."
Ainda assim, a publicação rejeita a ideia de que Bolsonaro seja um nome "de fora" da política, e ressalta que ele tem longa experiência como deputado. "Apesar de Bolsonaro ter um histórico sem destaque durante quase três décadas na Câmara, ele é ajudado pelo fato de que não foi envolvido pela Operação Lava Jato", diz.
Bolsonaro se aproveita dessa insatisfação dos eleitores com os problemas desse sistema político, se consolidando como o símbolo de que os brasileiros querem romper com o que existe, "contra tudo o que está aí". Como disse um artigo publicado no jornal "Financial Times" em junho deste ano, o candidato de extrema direita é como uma "granada humana" contra a política do país. Os eleitores estão dispostos a qualquer risco para quebrar o sistema marcado pela corrupção. E, mesmo que Bolsonaro não chegue ao poder, representa que o sistema atual está próximo da falência.
"Quer Bolsonaro acabe ganhando ou não, o fato é que uma transformação maior da política brasileira está se encaminhando. Os políticos tradicionais de centro, que governam desde a transição do fim da ditadura militar dos anos 1980 estão em declínio", diz o artigo na "Foreign Affairs".
A análise também ecoa a atenção que a imprensa internacional tem dado ao "fracasso do centro" nas eleições deste ano, apontando para a incapacidade de candidatos que se propõem como mais moderados de atrair eleitores, enquanto a política se torna cada vez mais polarizada. A ideia é de que os partidos tradicionais perderam a oportunidade de fazer parte da transformação, e estão perdendo força.
Apesar de indicar o processo de mudança, a "Foreign Affairs" avalia que o rompimento com o modelo das últimas décadas não vai se dar pelas mãos do próprio Bolsonaro, e que vai criar problemas imediatos para o país. Será preciso mobilizar a politica em torno de mudanças maiores no sistema para sair da crise.
"O Brasil parece estar se encaminhando para mais uma década perdida, mas, com as reformas certas, o país pode construir um sistema político mais transparente que entregue um governo eficiente a seus cidadãos."
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