Intervenção no Rio é criticada no exterior: 'Exército não detém violência'
Um artigo de um especialista em conflitos internacionais, terrorismo e criminalidade publicado na revista de relações internacionais "Charged Affairs" nesta semana aumentou o tom da crítica internacional à intervenção federal decretada pelo presidente Michel Temer no Rio de Janeiro. Segundo Michael Dworman, o Exército não vai conseguir parar a violência na cidade.
"O problema é a diferença fundamental entre missões militares e policiais. As forças militares são em grande parte treinadas para usar táticas pesadas para matar inimigos e dominar territórios. Pouco se concentra no envolvimento com a comunidade, na investigação de crimes, no fornecimento de proteção no longo prazo e no trabalho para prevenir os possíveis crimes. Em vez de diminuir a violência, os grandes confrontos entre forças militares e traficantes apenas colocam os civis em maior risco e aumentam o número de mortos", avalia.
A crítica de Dworman se junta a outros artigos e análises publicados por influentes pesquisadores internacionais que avaliam a situação no Rio sob intervenção. O ponto central de críticas é a impossibilidade de as Forças Armadas alcançarem um objetivo de longo prazo, os riscos para a democracia, o aumento do autoritarismo e da militarização do país.
Antes dele, os pesquisadores Nicholas Barnes e Stephanie Savell, do Watson Institute for International and Public Affairs da Universidade Brown, nos EUA, criticaram o que veem como ameaça à democracia do país. Para eles, a medida do governo normaliza o autoritarismo nacionalmente.
De forma semelhante, logo após a intervenção ser anunciada, o acadêmico alemão Christoph Harig também apontou problemas na decisão do governo. Para ele, Temer passou a legitimar a militarização como solução para problemas sociais no Brasil.
A reação negativa no exterior teve início logo após o anúncio da intervenção. Antes mesmo de se debruçar com análises mais cuidadosas, a mídia estrangeira ressaltou o quanto uma intervenção federal com militares trouxe de volta lembranças da ditadura militar que governou o Brasil. Um outro ponto crítico foi o fato de muitos analistass fora do país verem na decisão do governo uma manobra para tentar dar popularidade a Temer e desviar a atenção do fracasso de passa a reforma da Previdência.
Outras críticas veem de instituições de defesa dos direitos humanos internacionalmente, como a ONG Human Rights Watch, que criticou o fato de que militares brasileiros não costumam responder por abusos em ações no país.
Enquanto isso, o instituto internacional de pesquisa sobre criminalidade e violência InSight Crime argumenta, no entanto, que somente a intervenção federal no Rio e a criação do novo Ministério da Segurança podem não ser suficientes e geram questões sobre o uso de recursos financeiros para lidar com essas questões de segurança.
"A economia brasileira tem sofrido há anos, e os cortes no orçamento atingiram os programas sociais, bem como o aparelho de segurança tanto no nível federal como no estadual. As limitações de recursos provavelmente continuarão a ser uma barreira para abordar questões fundamentais como a pobreza, o desemprego e a formação precária e a compensação da polícia civil", diz a análise publicada em seu site.
Segundo Dworman, além dos riscos sociais e políticos para o Brasil, entretanto, um dos problemas centrais é que intervenções do tipo adotado no Rio não costumam funcionar.
"O Exército do Brasil tem uma longa história de se envolver em táticas abusivas. Utilizar os militares em uma função pouco familiar só aumenta a probabilidade de abusos dos direitos humanos serem infligidos à população. Em vez de fornecer segurança e aumentar a confiança da população na governança, esses métodos apenas levarão os marginalizados às mãos das quadrilhas que deveriam ser eliminadas. Como escrevi antes sobre esforços similares em El Salvador e em tentativas pelo México de usar o Exército para eliminar cartéis, os abusos pelos serviços de segurança só servem para perpetuar o ciclo de violência. Não há motivos para acreditar que o Brasil seja diferente."
Para ele, o ideal seria o governo apostar em iniciativas de longo prazo para tentar resolver o problema da violência do Rio. "Idealmente, o governo se concentraria em financiar fortemente as forças policiais bem armadas, mas também treinadas para se envolver com as comunidades em que trabalham e utilizam vigorosamente a força. Em uma escala maior, o financiamento para proporcionar educação, empregos e serviços básicos para comunidades pobres ajudaria a tirar dos traficantes suas fontes de mão-de-obra e proteção. Estas são soluções de longo prazo para um problema complicado. No futuro próximo, é mais provável que a dinâmica de gangues dite a taxa de homicídios em vez de qualquer coisa que o governo possa implementar."
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