Economia global ajuda a recuperação do Brasil, que ainda precisa de reforma
O Brasil é um grande navio que foi apenas parcialmente construído. Quando a maré está calma e favorável, o navio consegue navegar sem problemas, mas quando há problemas a serem enfrentados, ele não resiste de sofre com a entrada de água que sempre ameaça afundá-lo.
A metáfora foi usada pelo economista Edmund Amann, brasilianista e professor da universidade de Leiden, na Holanda, para explicar a atual situação do país depois de anos de crise e em meio a um aparente início de recuperação econômica.
Segundo Amman, os dados favoráveis que a economia brasileira começou a mostrar nos últimos meses são um reflexo de uma melhora do contexto da economia internacional –a situação da maré melhorou e passou a ajudar o país. "O crescimento global está ajudando o Brasil e outros navios com vazamento", disse.
O pesquisador analisou a economia brasileira durante uma palestra aberta no Brazil Institute do King's College de Londres na noite de terça-feira (16). Intitulada "Brazil's Development Challenge: A personal View – From Crisis do Sustainable Recovery" (O Desafio do Desenvolvimento do Brasil: Uma Visão Pessoal – Da Crise à Recuperação Sustentável?), a palestra analisou os motivos da crise, o começo da recuperação e as perspectivas para o futuro do país.
Apesar de ver o contexto internacional ajudando o Brasil atualmente, ele diz que há otimismo em relação ao país –bem mais do que nos anos anteriores, especialmente.
"A economia está num bom momento agora. Não está mais parecendo tão problemática. Agora há espaço para otimismo. E, se um número suficiente de pessoas acha que as coisas vão melhorar, as coisas acabam melhorando", disse.
Entre os motivos para o otimismo, segundo Amann, está o fato de que o Brasil parece ter acordado para a necessidade de reformas estruturais para consertar o citado navio. "Se a crise teve algo a oferecer, foi a possibilidade de galvanizar a importância e a vontade para realizar reformas que permitam o crescimento", disse.
A agenda de reforma do governo de Michel Temer, por exemplo, permitiu uma maior estabilização das finanças e ofereceu maior confiança aos investidores sobre o curto prazo.
"O Brasil resiste a crises, contanto que a economia global ajude o país. Uma recuperação sustentável vai exigir reformas estruturais reais", defendeu. Ele citou especialmente a questão da produtividade como sendo uma prioridade para que o país deixe de ser um "ator passivo da economia global".
O otimismo de Amann vem de antes mesmo do início das reformas atuais. Em 2015, depois que Dilma Rousseff indicou Joaquim Levy para a Fazenda, o brasilianista via uma correção nos rumos do país após anos sem controle fiscal do Estado.
"O Brasil não é mais pensado como um caso problemático, em que o governo está no caminho errado, praticando políticas do passado. Hoje a visão é de que o país ficou mais realista e mais pragmático, menos ideológico economicamente. Estes sinais estão chegando ao resto do mundo", disse Amann então, em entrevista ao autor do blog Brasilianismo, publicada no "Valor Econômico".
O risco agora, segundo ele, vem da situação política do país às vésperas de uma "eleição aberta". "Há um alto nível de incerteza em relação à política", disse. A preocupação dele repete uma tensão do mercado financeiro, que desde o final de 2017 discursa a favor de um candidato "de centro", capaz de levar adiante reformas sem radicalismos –apesar de tal candidato não ter aparecido até o momento, segundo analistas.
"A mobilização de partidos de centro não parece promissora. Não há alguém como Fernando Henrique Cardoso foi no passado, não há um Emmanuel Macron. Falta um candidato maduro e com credibilidade para atrair eleitores. Isso é um reflexo da crise política no país", disse Amnan.
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