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Otimista com eleição no Brasil, mercado aposta em candidato que não existe

Daniel Buarque

08/11/2017 09h50

Para mídia de economia, recuperação depende de candidato que não existe

"Onde está o Macron Brasileiro?", pergunta Martin Wolf, colunista do jornal de economia "Financial Times", em sua coluna mais recente, em referência ao presidente centrista da França, eleito em maio.

"Pergunte à elite financeira de São Paulo quem vai ganhar as próximas eleições para presidente, e eles dizem que será alguém voltado a reformas fiscais e privatização. O único problema? Este candidato ainda precisa aparecer", diz uma reportagem da agência de finanças Bloomberg.

A pouco menos de um ano da escolha do próximo presidente, a falta de um candidato que represente uma proposta política em linha com os interesses do mercado preocupa os analistas de economia estrangeiros.

Segundo Wolf, as crises econômica, política e moral no país podem ser interpretadas como uma grande oportunidade para desenhar o futuro, mas problemas políticos precisam de soluções políticas.

"Quanto a isso, os augúrios para a eleição presidencial de 2018 não são positivos. Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por corrupção, lidera as pesquisas, mas pode ser impedido de se candidatar. O segundo colocado nas pesquisas é Jair Bolsonaro, um direitista perto do qual Donald Trump serviria como exemplo de moderação e autocontrole. Nenhum deles seria capaz de promover as reformas de que o Brasil precisa agora, por motivos diferentes. Lula está desacreditado; e Bolsonaro é um populista autoritário. Existem candidatos melhores. Mas o apoio a eles ainda é modesto", diz.

Segundo a Bloomberg, a confiança do mercado em ter um nome a seu favor no governo a partir de 2019 ainda é alta, mas a ausência de um nome claro para isso é motivo de preocupação.

"Se eles estiverem errados, o mercado de ações do Brasil pode entrar em convulsão", diz. "O otimismo deles pode se provar uma previsão ou inocência, mas uma coisa é certa: 2018 vai se um ponto de inflexão na democracia de três décadas no Brasil", complementa.

O risco, segundo o diretor da agência de avaliação de risco Eurasia, citado pela Bloomberg, é exagerar no otimismo. Segundo ele, o risco de uma vitória do populismo na eleição do próximo ano no país é real.

"O que o Brasil precisa agora, dizem os banqueiros, é de um candidato que perceba o quanto a recuperação é frágil e que a atravesse levando adiante reformas iniciadas pelo atual presidente", diz a Bloomberg.

"O Brasil precisa de um renascimento político e econômico. A crise o torna necessário. Caso não aconteça, o futuro parece triste", finaliza Wolf, no "FT".

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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