Retrospectiva: 2017 foi o ano de rebaixamentos da imagem do Brasil no mundo
O ano que chega ao fim no domingo vai ficar marcado pela série de rebaixamentos na reputação do Brasil no resto do mundo. A percepção a respeito do país piorou em todo o planeta nos últimos anos, segundo os principais estudos que avaliam a imagem do Brasil no exterior em 2017. Em muitas das pesquisas de opinião globais, o país apareceu em seu pior momento em mais de uma década de estudos deste tipo.
Um levantamento realizado pelo blog Brasilianismo revela que em sete das principais análises sobre a "marca" do Brasil a imagem internacional do país caiu várias posições nos rankings de nações do mundo. Em alguns dos estudos a queda foi de mais de dez posições em poucos anos, e em outros o Brasil chegou em 2017 a sua pior posição da história.
Todas as medidas de soft power (poder de convencimento sem uso da força), de reputação e sobre a forma como o Brasil é percebido no resto do mundo parecem mostrar que a imagem do país piorou no mesmo período em que mais tentava se promover globalmente, quando sediou a Copa do Mundo e a Olimpíada para atrair a atenção global. Por mais que usem metodologias diferentes, todas as pesquisas confirmam a mesma tendência: o Brasil perdeu seu potencial de atrair e encantar.
A tabela abaixo resume a queda nas percepções internacionais do Brasil de acordo com os diferentes estudos globais, mostrando as posições em que o país aparecia em rankings internacionais em 2016 e em 2017.
Embora não exista um modelo de medida e avaliação de imagem internacional de países aceita de forma unânime, pesquisadores da área argumentam que esses índices com diferentes metodologias normalmente se apoiam e se complementam, o que significa que as medidas têm alguma base no que realmente é a imagem do país.
Apesar de todos esses estudos se basearem principalmente na opinião de cidadãos em diferentes países do mundo, outras duas medidas diferentes de imagem internacional, com diferentes abordagens, também descrevem uma piora no posicionamento global do Brasil –e podem ajudar a explicar a queda de qualidade registrada nas pesquisas.
Em 2017, o país obteve a sua pior posição em mais de dez anos do Anholt-GFK Nation Brands Index, a pesquisa mais citada e respeitada da reputação das nações. Depois de passar anos classificado em torno do 20º lugar até antes da Copa do Mundo, tornou-se o 25º ano após os Jogos Olímpicos.
Em questão de quatro anos, entre 2013 e 2017, perdeu dez posições no levantamento Country RepTrak, caindo de 21º a 31º. Além disso, perdeu seu primeiro lugar como a nação com a melhor reputação na América Latina para a Argentina, no FutureBrand Country Brand Report.
Em uma medida mais diretamente relacionada ao soft power, o Brasil passou do 23º lugar em 2015 para penúltimo (29º) na lista Soft Power 30 em 2017.
Mesmo um novo ranking de reputação internacional, o Best Countries, primeiro desenvolvido após o país sediar a Copa do Mundo, mostrou que o Brasil caiu do 20º lugar em 2016 para o 28º em 2017.
Por um lado, o Índice Good Country desenvolvido mais recentemente mostrou que o Brasil caiu da 49º posição entre os países com maior contribuição para a humanidade em 2015 para o 80º lugar no ranking de 2017. Embora os acadêmicos que desenvolveram o ranking argumentem que não é correto tratar a queda como tal, uma vez que houve uma mudança de metodologia, isso mostra que o Brasil não está se esforçando para ajudar o mundo, o que está fortemente correlacionado com a percepção estrangeira de uma nação.
Por outro lado, um estudo de como o Brasil é retratado na mídia internacional mostra que, em menos de uma década, o tom utilizado pela imprensa internacional para se referir ao país foi 80% positivo para 80% negativo.
De acordo com a análise I See Brazil, entre o ano anterior à Copa do Mundo e o ano após os Jogos Olímpicos, a proporção de reportagens com tom negativo na imprensa estrangeira passou de 3,6 em cada 10 menções em 2013 para o Brasil para 8 em 10 em 2017. Para muitos pesquisadores, a cobertura da mídia está relacionada ao desenvolvimento da imagem de um país, embora seja correto avaliar que a perspectiva negativa da mídia sobre um país mostra problemas reais que a nação enfrenta.
Não existe uma explicação simples para justificar uma piora tão marcante na avaliação do Brasil no mundo em tantos rankings diferentes, mas é fácil de perceber que a situação política e econômica do país bem no momento em que os holofotes globais se concentravam sobre ele tenha contribuído para isso.
Por mais que a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada tenham sido consideradas bem-sucedidas, ao sediar eventos globais de grande visibilidade como estes o Brasil se expôs ao mundo, com todas as suas falhas e em meio a graves crises política, social e econômica. O resto do planeta reconheceu, mais uma vez, que o Brasil sabe realizar grandes festas globais, mas reforçou a sua percepção de que este é o máximo que o país consegue fazer. O Brasil atraiu a atenção internacional, mas, por conta das duas crises, não conseguiu promover sua imagem como uma potência emergente e séria em termos de política e economia.
Alguns dos levantamentos de imagem citados acima chegam a citar a pior recessão da história, os imensos escândalos de corrupção, a crise política, o impeachment de Dilma Rousseff, a perda de credibilidade dos políticos do país, o aumento da violência e, especialmente, a piora na qualidade de vida da população, como causas para esta piora na imagem.
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