Operação Lava Jato ajuda a projetar soft power do Brasil, diz pesquisador
A luta contra a corrupção representada pela Operação Lava Jato está ajudando a projetar internacionalmente o soft power do Brasil, segundo o pesquisador e colunista da "Folha" Marcos Troyjo.
"Nesta semana, em debates na Universidade Columbia e na New School, em Nova York, a grande maioria dos acadêmicos, formadores de opinião e tomadores de decisão no campo econômico demonstrou entendimento de que a Lava Jato é mais do que motivo de orgulho para os brasileiros. É importante ferramenta para o Brasil nivelar sua capacidade de competir internacionalmente", diz, em artigo publicado nesta quarta (8).
Troyjo é economista, diplomata e cientista social, e dirige o BRICLab da Universidade Columbia em Nova York. Segundo ele, o movimento de combate à corrupção no país pode servir como modelo de mudança de paradigma no âmbito da economia política mesmo de nações industriais mais avançadas.
"O Brasil sinaliza que, quando o assunto é corrupção, muitas instituições, com apoio da maioria de seus cidadãos, estão fazendo a lição de casa. Isso inspira, e portanto influencia, outros países. Liderar pelo exemplo —eis a essência do soft power", avalia.
A análise de Troyjo encontra paralelo em uma série de reportagens, artigos e estudos publicados no resto do mundo aplaudindo os avanços do país na luta contra a corrupção.
O mais recente relatório anual da ONG Transparência Internacional sobre percepções de corrupção no mundo, por exemplo, diz que 2016 foi um bom ano para a luta contra a corrupção no Brasil e no restante da América Latina.
"Os ricos e poderosos foram colocados cada vez mais sob os holofotes", diz o texto, elogiando os avanços da investigação sobre corrupção na Petrobras e indicando melhora da luta contra a corrupção do país sob os olhos estrangeiros.
Ainda assim, o país caiu três posições no ranking global da Transparência, ficando no 79º lugar entre as 176 nações avaliadas (um aumento de participantes em relação a edições anteriores).
A Transparência Internacional vem acompanhando as investigações sobre corrupção no Brasil e premiou a Lava Jato em dezembro com o Prêmio Anti-Corrupção de 2016.
De forma semelhante, Susan Rose-Ackerman e Paul F. Lagunes, dois pesquisadores americanos especialistas em transparência publicaram um artigo defendendo que o Brasil está vencendo a luta contra a corrupção.
"Sociedades precisam lutar contra a influência e poderosos atores econômicos para defender o interesse público. A rede de brasileiros expondo, processando e sentenciando políticos corruptos mergulhados no mar de lama incorpora este ideal", dizem os autores em um texto publicado no site "The Conversation".
A avaliação também se alinha ao que declarou o editor americano Brian Winter em entrevista ao blog Brasilianismo. "Podemos estar vendo [na atual crise] as dores de um avanço qualitativo na aplicação das leis, o que toda democracia precisa enfrentar", disse.
Apesar de a luta contra a corrupção ajudar a projetar o país internacionalmente, as crises atrapalham o Brasil, que caiu uma posição no ranking internacional de soft power, o "poder brando" ou "poder de convencimento", de acordo com o mais recente relatório anual sobre o tema divulgado pela consultoria britânica Portland.
O termo "soft power" foi criado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye na década de 1980. Ele faz referência a uma nova modalidade de influência em relações internacionais, mais relacionada à capacidade de convencimento por argumentos de que pela força. Por esta teoria, não basta a um país ter poder militar e bélico para ser uma potência internacional, mas é preciso cativar "corações e mentes" e convencer outros países a agirem em parceria de forma pacífica.
A avaliação mede a capacidade de alcançar objetivos em relações internacionais de forma pacífica e com base no convencimento de outros países. Segundo a pesquisa, o Brasil é o 24º país com mais soft power, e alcançou 47,69 pontos, um a mais do que os 46,63 registrados no ano anterior.
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