Temer enfrenta desafios para conquistar legitimidade, diz Shannon O'Neil
O fato de Michel Temer não ter sido eleito para ser presidente do Brasil, e de ter assumido por conta do impeachment de Dilma Rousseff, cria um dos maiores desafios para o atual governo do país, o da conquista da legitimidade.
Esta avaliação sobre a "convulsão política" no Brasil e as dificuldades do atual governo foram o foco de uma entrevista concedida pela pesquisadora sênior de estudos latino-americanos do think tank Council of Foreign Relations (CFR), Shannon O'Neil, a um programa da TV dos Estados Unidos.
Em uma conversa com Jim Zirin, membro do CFR e apresentador do programa "Conversations in the Digital Age", O'Neil falou sobre a América Latina e as relações do continente com os Estados Unidos. Ao tratar do Brasil, ela falou sobre política, economia e a realidade do país em meio à crise.
Segundo ela, Temer enfrenta um clima muito difícil por conta da sua legitimidade.
"Ele nao foi eleito, assumiu depois do impeachment de Dilma Rousseff e enfrenta a dificuldades de tentar aprovar grandes reformas na economia, que são necessárias para que a economia volte a funcionar. [É difícil] passar essas reformas quando não se tem o mandato eleitoral, que deveria ter", disse.
Segundo a pesquisadora, Temer tem ainda a dificuldade de fazer mudanças que mudam a Constituição, o que torna o desafio político muito maior.
O'Neil destacou ainda a importância e o impacto da operação Lava Jato na investigação de casos de corrupção na Petrobras.
"Isso sacudiu o establishment político e tornou mais difícil fazer acordos e aprovar reformas", explicou.
A entrevista sobre o Brasil trata ainda de problemas de violência no país, e da realização da Olimpíada.
Para O'Neil, o Brasil e o Rio estão acostumados a realizar grandes festas, mesmo com todos os desafios. Segundo ela, apesar da persistência de problemas de infraestrutura, o país foi bem sucedido no evento.
O maior desafio do país, segundo ela, é o da produtividade. O Brasil poderia ser "uma economia global incrivelmente competitiva. É uma das dez maiores economias do mundo, com 200 milhões de pessoas, potenciais consumidores", explicou.
O'Neil é uma atenta observadora da realidade política e econômica do Brasil. Ela escreve com regularidade no site do próprio CFR, e é uma especialista ouvida com frequência pela mídia norte-americana.
Apesar do tom crítico em relação à falta de legitimidade do governo Temer, ela já havia comentado o processo que retirou Dilma do poder e rejeitou a ideia de que o impeachment foi o mesmo que um golpe de Estado.
Em entrevista ao blog Brasilianismo, em abril, ela disse que mesmo que não seja um processo recomendável, o impeachment é parte da democracia, e deve ser aceito.
"O impeachment é um julgamento legal e político em todos os lugares", disse, se referindo ao processo sofrido pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton, em 1998. "Quando discutiram o impeachment de Clinton, aquilo não foi exatamente por ele ter mentido por ter tido uma amante. Foi um julgamento político. Todos os casos têm motivação política", disse
Ela fez a ressalva, entretanto, de que apesar da motivação política, existe uma infração real a ser julgada. "A pedalada fiscal é um crime, e há uma justificativa para o processo ser julgado", avaliou.
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