Impeachment reforça no mundo a imagem 'disfuncional' da política brasileira
Em vez de fortalecer a democracia do Brasil, o impeachment de Dilma Rousseff pode aumentar a alienação dos eleitores já desiludidos com o sistema político brasileiro, diz uma análise publicada no jornal norte-americano "Washington Post".
Esta avaliação segue a principal linha de argumentação da imprensa internacional e de analistas estrangeiros sobre o longo processo de impeachment no país. Em vez de se alinhar com o discurso dos que defendem o impeachment ou com a teoria de que há um golpe em curso no país, a interpretação externa é crítica a todo o sistema político do país, visto como disfuncional.
Isso ficou evidente desde maio, quando a presidente Dilma foi afastada do cargo e grande parte da imprensa de outros países dedicou editoriais à situação política do Brasil. Para a mídia internacional, a questão não é mais nem a legalidade do impeachment ou a mudança dos governos, mas o fato de que o processo representa o fracasso do modelo político do país.
"Analistas dizem que o caso de Dilma expôs algumas das fraquezas do sistema político brasileiro, no qual um presidente tem que fazer acordos com vários partidos políticos, muitos sem ideologia clara. O sistema encoraja a troca de cargos e a corrupção, dizem", explica o texto mais recente no "Post".
O argumento se alinha a outro texto do mesmo jornal, publicado em junho, quando questionou se o governo Dilma seria substituído por um novo governo "tão sujo quanto".
É a mesma linha de crítica usada pela revista "The Economist" em março do ano passado, quanto apontou o Brasil como o país com a política mais fragmentada do mundo, o que deixa o governo disfuncional..
Além de consolidar o modelo problemático da política nacional, o impeachment também não deve resolver a crise econômica do país, segundo análise publicada na revista "Fortune".
"Apesar de o fim do longo processo de impeachment trazer uma pausa na crise, o próximo governo vai continuar a encarar uma batalha dura para colocar o país de volta nos trilhos", diz o texto assinado pelo diretor de América Latina da consultoria Eurasia Group, João Augusto de Castro Neves.
O próprio Neves escrevia antes, em dezembro do ano passado, na mesma revista, que o impeachment não ajudaria o país. Na época, entretanto, ele argumentava que o impeachmment era improvável.
Consumado o processo, o tom crítico ao sistema político nacional deve se consolidar como a principal linha de abordagem de analistas externos.
Em um resumo da crise política brasileira e do impeachment, publicado nesta semana, a agência de notícias Associated Press finaliza alegando que a "política envenenada" escurece o futuro do país.
Um artigo de opinião assinado por uma jornalista brasileira no "New York Times" nesta semana também reforça este posicionamento crítico à imagem da política nacional.
"Uma economia que afunda e a irritação contra a corrupção geraram protestos sucessivos e intensos que levaram a uma mudança no governo, mas não na política brasileira", resume. "Não há um sinal de reforma política no horizonte."
É este tipo de imagem de política disfuncional, já consolidada aos olhos internacionais e reforçada com o processo de impeachment, que faz com que o Brasil não consiga passar uma imagem de força política no exterior. É isso que faz com que o perfil da imagem do Brasil seja a de um país mais voltado ao turismo, à cultura, e ao encontro de povos, como se percebe nos estudos de "nation branding".
Nessas pesquisas sobre a imagem que o Brasil tem nos outros países, é comum que as características leves da sua personalidades sejam bem avaliadas, e que os estrangeiros achem os brasileiros legais e simpáticos. Ao mesmo tempo, características mais sérias, como a política e a economia, não costumam ser bem avaliadas por estrangeiros. E o impeachment vai fortalecer isso. Ao reforçar a ideia de que o Brasil é um país com política disfuncional, o impeachment vai consolidar ainda mais a ideia de que somos apenas "decorativos" no mundo.
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