Topo

Blog do Brasilianismo

No 'limite do desastre', Brasil cai uma posição em ranking de soft power

Daniel Buarque

15/06/2016 09h10

No 'limite do desastre', Brasil cai uma posição em ranking de soft power

No 'limite do desastre', Brasil cai uma posição em ranking de soft power

O Brasil parece estar no limite de um desastre político e econômico, e por isso o país caiu uma posição no ranking internacional de soft power, o "poder brando" ou "poder de convencimento", de acordo com o recém-divulgado relatório anual sobre o tema divulgado pela consultoria britânica Portland.

A avaliação mede a capacidade de alcançar objetivos em relações internacionais de forma pacífica e com base no convencimento de outros países. Segundo a pesquisa, o Brasil é o 24º país com mais soft power, e alcançou 47,69 pontos, um a mais do que os 46,63 registrados no ano anterior.

O país ainda é o mais bem colocado entre os BRICS, mas se mostrou mais fraco do que o que era esperado pelo resto do mundo. Ele teve uma boa classificação na avaliação relacionada a envolvimento e cultura, mas foi mal em termos de política e economia.

No 'limite do desastre', Brasil cai uma posição em ranking de soft power

No 'limite do desastre', Brasil cai uma posição em ranking de soft power

Em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, "o Brasil tem os olhos do mundo assistindo para ver se ele vai conseguir entregar bem sucedidos Jogos Olímpicos", diz o trecho do relatório que fala sobre o país. Para os brasileiros, os jogos podem oferecer uma oportunidade de esquecer suas preocupações por duas semanas e fazer o que eles fazem de melhor: festa, diz.

O trabalho ecoa outros índices internacionais sobre imagem internacional de países, colocando o Brasil em torno da 20ª colocação e indicando que o país tem uma boa avaliação em áreas culturais e de lazer, mas vai mal na avaliação de temas mais sérios, como política e economia. Esta é a interpretação de que no resto do mundo o país é "decorativo".

O texto da Portland explica que o Brasil foi rebaixado por agências internacionais de classificação de risco de crédito, e que mais de cem personalidades políticas e econômicas do país estão envolvidas em escândalos de corrupção. Fala ainda sobre a epidemia de zika, que assusta o país e afasta visitantes estrangeiros.

A situação do país parece não ser tão ruim, com perda de uma posição, mas o relatório explica que houve um viés negativo na mudança de perspectiva do Brasil: "No ranking do ano passado, dissemos que o Brasil estava entre os paíse mais interessantes a serem observados", diz.

O trabalho ressalta ainda que o país teve a oportunidade de melhorar sua posição no índice. "Mas uma apresentação pobre no sub-índice de Governo e notas baixas em Educação ofiscaram a força do Brasil no sub-índice Cultura, em que ele brilha com o futebol, o samba e o carnaval", explica.

Além de reforçar os clichês que apontam que o Brasil tem uma imagem internacional de ser um país decorativo, mas sem muita utilidade, o trabalho indica ainda que o país ainda tem uma oportunidade para reverter o viés negativo.

"Apesar de estar ofuscado pela instabilidade política e econômica, não se pode ter uma plataforma melhor de que as Olimpíadas", explica, fazendo referência aos efeitos dos jogos de Londres para a imagem da Inglaterra.

"O velho rótulo de que o 'Brasil é o país do futuro… e sempre vai ser' representa a montanha russa que tem sido a economia do Brasil nos últimos anos. O país exótico ainda se beneficia de um perfil verdadeiramente global e tem um ótimo reconhecimento de marca. Mesmo assim, o Brasil continua sendo um país a assistir para vermos se ele pode triunfar em sua eterna batalha contra a corrupção."

Assim como no ano passado, o resultado é frustrante, dado que o soft power tem sido uma das grandes apostas da diplomacia nacional, numa tentativa de ser o "boa praça" das relações internacionais.

Uma vez que o Brasil não dispõe de um poderio militar que o coloque como uma das grandes potências do mundo, o Ministério das Relações Exteriores tem apostado nessa tradição pacífica de engajamento com a comunidade internacional, e muitos analistas chegam a pensar no Brasil como uma grande "potência" em termos de soft power, o que permitiria que se imaginasse que o país teria um posicionamento melhor de que o revelado por este índice.

A lista reúne os 30 países com mais soft power no mundo e é dominada por países ricos e desenvolvidos. O primeiro lugar do ranking são os Estados Unidos (com 77,96 pontos), que ultrapassaram o Reino Unido (75,97), seguidos pela Alemanha (72,60) e pelo Canadá (72,53).

O ranking foi desenvolvido pela empresa de consultoria estratégica e de pesquisas de "place branding" Portland em parceria com o Facebook. Ele é calculado pela combinação de 76 bases de dados de diferentes fontes sobre soft power, classificados em seis categorias: Governo, Cultura, Educação, Envolvimento Global, Empreendimento, e Digital. Além disso, foram entrevistadas mais de dez mil pessoas em 25 países para avaliar a interpretação sobre as diferentes nações do ranking.

O termo "soft power" foi criado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye na década de 1980. Ele faz referência a uma nova modalidade de influência em relações internacionais, mais relacionada à capacidade de convencimento por argumentos de que pela força. Por esta teoria, não basta a um país ter poder militar e bélico para ser uma potência internacional, mas é preciso cativar "corações e mentes" e convencer outros países a agirem em parceria de forma pacífica.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

Blog Brasilianismo