No 'limite do desastre', Brasil cai uma posição em ranking de soft power
O Brasil parece estar no limite de um desastre político e econômico, e por isso o país caiu uma posição no ranking internacional de soft power, o "poder brando" ou "poder de convencimento", de acordo com o recém-divulgado relatório anual sobre o tema divulgado pela consultoria britânica Portland.
A avaliação mede a capacidade de alcançar objetivos em relações internacionais de forma pacífica e com base no convencimento de outros países. Segundo a pesquisa, o Brasil é o 24º país com mais soft power, e alcançou 47,69 pontos, um a mais do que os 46,63 registrados no ano anterior.
O país ainda é o mais bem colocado entre os BRICS, mas se mostrou mais fraco do que o que era esperado pelo resto do mundo. Ele teve uma boa classificação na avaliação relacionada a envolvimento e cultura, mas foi mal em termos de política e economia.
Em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, "o Brasil tem os olhos do mundo assistindo para ver se ele vai conseguir entregar bem sucedidos Jogos Olímpicos", diz o trecho do relatório que fala sobre o país. Para os brasileiros, os jogos podem oferecer uma oportunidade de esquecer suas preocupações por duas semanas e fazer o que eles fazem de melhor: festa, diz.
O trabalho ecoa outros índices internacionais sobre imagem internacional de países, colocando o Brasil em torno da 20ª colocação e indicando que o país tem uma boa avaliação em áreas culturais e de lazer, mas vai mal na avaliação de temas mais sérios, como política e economia. Esta é a interpretação de que no resto do mundo o país é "decorativo".
O texto da Portland explica que o Brasil foi rebaixado por agências internacionais de classificação de risco de crédito, e que mais de cem personalidades políticas e econômicas do país estão envolvidas em escândalos de corrupção. Fala ainda sobre a epidemia de zika, que assusta o país e afasta visitantes estrangeiros.
A situação do país parece não ser tão ruim, com perda de uma posição, mas o relatório explica que houve um viés negativo na mudança de perspectiva do Brasil: "No ranking do ano passado, dissemos que o Brasil estava entre os paíse mais interessantes a serem observados", diz.
O trabalho ressalta ainda que o país teve a oportunidade de melhorar sua posição no índice. "Mas uma apresentação pobre no sub-índice de Governo e notas baixas em Educação ofiscaram a força do Brasil no sub-índice Cultura, em que ele brilha com o futebol, o samba e o carnaval", explica.
Além de reforçar os clichês que apontam que o Brasil tem uma imagem internacional de ser um país decorativo, mas sem muita utilidade, o trabalho indica ainda que o país ainda tem uma oportunidade para reverter o viés negativo.
"Apesar de estar ofuscado pela instabilidade política e econômica, não se pode ter uma plataforma melhor de que as Olimpíadas", explica, fazendo referência aos efeitos dos jogos de Londres para a imagem da Inglaterra.
"O velho rótulo de que o 'Brasil é o país do futuro… e sempre vai ser' representa a montanha russa que tem sido a economia do Brasil nos últimos anos. O país exótico ainda se beneficia de um perfil verdadeiramente global e tem um ótimo reconhecimento de marca. Mesmo assim, o Brasil continua sendo um país a assistir para vermos se ele pode triunfar em sua eterna batalha contra a corrupção."
Assim como no ano passado, o resultado é frustrante, dado que o soft power tem sido uma das grandes apostas da diplomacia nacional, numa tentativa de ser o "boa praça" das relações internacionais.
Uma vez que o Brasil não dispõe de um poderio militar que o coloque como uma das grandes potências do mundo, o Ministério das Relações Exteriores tem apostado nessa tradição pacífica de engajamento com a comunidade internacional, e muitos analistas chegam a pensar no Brasil como uma grande "potência" em termos de soft power, o que permitiria que se imaginasse que o país teria um posicionamento melhor de que o revelado por este índice.
A lista reúne os 30 países com mais soft power no mundo e é dominada por países ricos e desenvolvidos. O primeiro lugar do ranking são os Estados Unidos (com 77,96 pontos), que ultrapassaram o Reino Unido (75,97), seguidos pela Alemanha (72,60) e pelo Canadá (72,53).
O ranking foi desenvolvido pela empresa de consultoria estratégica e de pesquisas de "place branding" Portland em parceria com o Facebook. Ele é calculado pela combinação de 76 bases de dados de diferentes fontes sobre soft power, classificados em seis categorias: Governo, Cultura, Educação, Envolvimento Global, Empreendimento, e Digital. Além disso, foram entrevistadas mais de dez mil pessoas em 25 países para avaliar a interpretação sobre as diferentes nações do ranking.
O termo "soft power" foi criado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye na década de 1980. Ele faz referência a uma nova modalidade de influência em relações internacionais, mais relacionada à capacidade de convencimento por argumentos de que pela força. Por esta teoria, não basta a um país ter poder militar e bélico para ser uma potência internacional, mas é preciso cativar "corações e mentes" e convencer outros países a agirem em parceria de forma pacífica.
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