Deu na 'Folha': Manifesto causa racha entre brasilianistas em conferência
Reportagem do autor deste blog Brasilianismo publicada pela "Folha de S.Paulo" revela que a aprovação de um manifesto oficial alegando que a democracia brasileira está ameaçada pela atual crise política gerou um racha entre os brasilianistas presentes na conferência da Brazilian Studies Association (Brasa), encerrado no fim de semana na universidade Brown, em Rhode Island (EUA).
Leia a reportagem completa na Folha
O ex-presidente da associação, o cientista político Anthony Pereira, que já apareceu aqui no blog em várias outras ocasiões, renunciou a seu cargo no Comitê Executivo da Brasa e solicitou sua desfiliação da entidade. Além dele, pelo menos outros dois brasilianistas pediram para se desfiliar, e há a perspectiva de que outros sigam o mesmo caminho. Segundo um importante cientista político norte-americano que participou da conferência, mas pediu para não ser identificado, o acalorado debate criará uma cisão insuperável dentro da Brasa.
Pereira fazia parte da associação desde 2000, foi presidente entre 2014 e 2016 e organizou a conferência da Brasa em 2014, na universidade inglesa. Ele explicou que não era contra a publicação de um manifesto político pela Brasa, mas que queria que fosse um texto mais bem trabalhado, e que refletisse a opinião da maioria dos cerca de 700 brasilianistas que formam a associação. Segundo Pereira, a Brasa tem uma longa tradição pluralista, e não deveria se apressar para aprovar um posicionamento político sem o devido debate.
Em uma entrevista recente ao jornal "O Estado de S.Paulo", Pereira avaliou que a nomeação de Lula para a Casa Civil criava um novo cenário para a crise política no país, e indicou que o Brasil caminha para sua luta decisiva. Segundo ele, entretanto, o destino desse confronto não deve ser decidido nas ruas, e sim nos tribunais de Curitiba e Brasília e nos corredores do Congresso Nacional.
O brasilianista disse ainda achar um equívoco o uso de comparações da situação atual com o que aconteceu no país em 1964 ou em 1992. "Talvez não haja precedentes, o que explica que as pessoas busquem no passado uma data ou acontecimentos que entender os acontecimentos de hoje", disse ao "Estadão".
O grupo de brasilianistas insatisfeitos com a aprovação do abaixo-assinado alega que o manifesto partidarizou a conferência acadêmica, e deu pouco espaço para um debate a respeito do teor do posicionamento da associação. Muitos acreditam que este posicionamento pode ferir a percepção de objetividade e neutralidade que os acadêmicos americanos e europeus precisam manter ao estudar o Brasil.
Apesar da clara polarização entre os acadêmicos estrangeiros, o historiador Bryan McCann, professor da Universidade Georgetown e novo presidente da Brasa, discorda da ideia de que há uma cisão da associação. O também historiador James Green, autor do manifesto que gerou discórdia, lamentou a disputa interna da Brasa, mas ressaltou que houve uma votação na conferência e que a maioria dos brasilianistas no encontro votou a favor da moção. "A iniciativa do manifesto foi minha. Tenho um histórico de defesa da liberdade, e posicionamento em relação à democracia no Brasil", disse Green, que é autor de "Apesar de Vocês" (Companhia das Letras), livro em que trata da forma como intelectuais norte-americanos se posicionaram contra a ditadura brasileira.
Segundo ele, não há partidarização da Brasa, e o manifesto não é de apoio ao governo. "O texto é muito claro. Minha trajetória é de crítica ao governo do PT. Não defendo o governo, mas somos contra as práticas anti-democráticas que estão acontecendo. As pessoas precisam entender que criticar os procedimentos atuais não é defender o governo", defendeu.
O abaixo-assinado, lançado em 24 de março e endereçado ao "povo brasileiro", alega que ainda que o combate à corrupção seja legítimo e necessário para melhorar a democracia, "no clima político atual, há sério risco de que a retórica anticorrupção esteja sendo utilizada para desestabilizar um governo recém-eleito democraticamente, agravando a séria crise política e econômica do país".
Green já havia se posicionado claramente contra o processo de impeachment em uma entrevista recente à BBC Brasil. Segundo ele o impeachment é não apenas um golpe, mas um atentado contra a democracia. "É uma maneira de derrubar o sistema eleitoral legítimo, as eleições legítimas, com uma medida que vai violar os princípios básicos da democracia. Você pode chamar de golpe, mas fica confuso porque não é um golpe militar. Para mim é um atentado contra a democracia e os princípios democráticos", disse.
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