Surto de zika monopoliza noticiário internacional sobre o Brasil
Em novembro do ano passado, enquanto o Brasil lidava com a notícia de que o surto do vírus zika podia estar relacionado ao aumento do número de casos de microcefalia e fazia deste um dos temas mais populares dos meios de comunicação, o resto do mundo ainda tateava tentando entender o que acontecia no país. Pouco mais de dois meses depois, o risco de epidemia global das doenças se tornou um assunto político a ser tratado por diplomatas em encontros internacionais e médicos de todo o mundo na Organização Mundial da Saúde. E agora o zika praticamente mobiliza o noticiário internacional sobre o Brasil.
Mais da metade das menções ao país na imprensa estrangeira tratam do zika. Na última semana, foram centenas de reportagens todos os dias, com diferentes abordagens e com variados graus de aprofundamento. E assim, a associação entre zika e Brasil chegaram ao topo das tendências mais populares do planeta no Google.
O caso fica ainda mais relevante depois de a OMS declarar, nesta segunda-feira (1º), que o zika é uma "emergência internacional".
"O surto de zika, que é transmitido por mosquitos, começou no Brasil em maio do ano passado e desde então já se espalhou por mais de 20 países na América Latina. A principal preocupação é sobre a possível ligação enntre o vírus e a microcefalia, que faz bebês nascerem com problemas no cérebro e má-formação na cabeça. O número de casos relatados de microcefalia cresceram rapidamente no Brasil, marco zero da doença, apesar de pesquisadores ainda pesquisarem uma relação direta entre as doenças", diz o "New York Times" sobre a notícia da OMS.
Da cobertura incerta e sem muito conhecimento do assunto encontrada nas primeiras reportagens, ainda em novembro de 2015, o tom mudou. Agora há artigos científicos, reportagens com análises políticas e sociais, estudos de medicina, e longos estudos que buscam entender o que acontece no país, e qual o risco disso para o mundo.
O aprofundamento é tal, que a revista "Nature", uma das principais publicações científicas do mundo, já se envolveu no tema, tentando diminuir o pânico global e mencionando que há exagero na preocupação.
A publicação destacou um levantamento que questiona o surto de microcefalia no Brasil.
De acordo com estudiosos, é impossível estabelecer o tamanho real do surto de microcefalia, e o aumento de casos da doença poderia ser atribuído ao fato de, após o aparecimento dos primeiros relatos, ter crescido a atenção a problemas de nascença, como a microcefalia, e também por diagnósticos errados.
A reportagem da "Nature" foi reproduzida e citada em diversos outros veículos. A rádio pública norte-americana PRI, por exemplo, tratou os dados divulgados pelo Brasil com desconfiança.
"Veículos da imprensa foram rápidos em aceitar uma conexão assustadora que pensava-se haver entre o vírus que se espalha rapidamente e a má-formação em bebês. Mas uma análise mais detalhada dos dados e da terminologia usada pelo governo sugere que a todos devem parar e respirar fundo", diz a PRI.
Além das análises sobre o impacto real do zika, reportagens mais aprofundadas estão mostrando como a doença está afetando a vida no Brasil.
Um trabalho publicado no domingo pela agência Associated Press abordou a epidemia de zika sob a ótica da desigualdade social brasileira. Uma reportagem publicada por dezenas de veículos em inglês compara as diferentes realidades de mulheres ricas e pobres sob a ameaça de zika e microcefalia, evidenciando o quanto o Brasil vive diferenças sociais. Enquanto mulheres ricas têm dezenas de opções para se proteger, as pobres encaram a falta de chances para evitar a exposição à doença.
Assim como a AP, os jornais "New York Times" e "Wall Street Journal" enviaram seus correspondentes ao Recife, que vem sendo tratado no resto do mundo como o "epicentro da epidemia de zika e microcefalia".
No "NYT", a reportagem é sobre o drama humano vivido na cidade "marcada pela pobreza", enquanto o "WSJ" aborda o trabalho dos médicos que soaram o alarme sobre os riscos da relação entre zika e microcefalia.
A cobertura está por todas as partes, e se fortalece a relação entre a imagem do Brasil e a preocupação com a saúde. Considerando o crescimento do número de reportagens, o tema ainda deve continuar ganhando força na imprensa do resto do mundo.
Além da desigualdade no país, a cobertura tem evidenciado problemas de pobreza no Brasil, especialmente na comparação com outros países. Em um painel sobre o tema na rede de TV CNN, isso ficou claro quando uma entrevistada ressaltou que os americanos moram em cidades com menos gente e têm eletricidade e ar-condicionados. Além disso, eles ficam dentro de casa, o que diminui o risco de picadas de mosquitos. "Nosso estilo de vida não nos expõe tanto a mosquitos quanto os pobres em uma favela brasileira", disse.
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