Irã se torna símbolo do fracasso da ambição de potência global do Brasil
A falta de voz do Brasil no possível conflito entre os Estados Unidos e o Irã —admitida pelo próprio presidente Jair Bolsonaro-– faz com que o país persa se consolide como um dos principais símbolos do fracasso da ambição brasileira de se tornar uma grande potência internacional. Se antes o Brasil ainda tentava ser um país relevante (ainda que nem sempre conseguisse), a situação atual parece mostrar que o país realmente falhou nesse objetivo. E o Irã esteve no centro de momentos marcantes desse fracasso.
A história das relações internacionais do Brasil mostra que pelo menos desde o início do século 20 o país aspira a uma posição relevante no contexto das negociações globais. A busca por prestígio e por uma forte voz no exterior aparece como ambição brasileira desde a formação do país, e em alguns momentos no início deste século pareceu que a ambição poderia se tornar uma realidade.
Esse objetivo foi muitas vezes representado pela candidatura a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mesmo sem ser uma força bélica, o país tinha ambição de ser uma potência de soft power, e chegou a alcançar papeis importantes em negociações multilaterais em momentos importantes das últimas décadas.
Por mais de um século, a busca por voz internacional pautou os posicionamentos do Brasil em disputas de política externa. Essa ambição até teve momentos que pareciam indicar um caminho positivo para o país, especialmente com um forte papel global na luta contra o aquecimento global, mas agora parece ter sido deixada de lado pelo país. E o Irã pode ser visto, mais uma vez, como representação do fracasso desse projeto.
Mesmo em um momento em que o país viu sua imagem melhorar e seu prestígio ser cada vez mais valorizado no resto do mundo, na primeira década do século 21, foram negociações de paz com o mesmo Irã que mostraram os limites do papel conciliador do Brasil.
O governo brasileiro chegou a avançar nas negociações de um acordo ao lado da Turquia, mas teve sua proposta para limitar o projeto nuclear iraniano ignorada pelos Estados Unidos, que não deram muito valor a um papel de liderança brasileira no Oriente Médio. O fracasso dessas negociações é citado frequentemente por analistas de política internacional como símbolo das limitações globais do Brasil.
Agora, enquanto o Brasil vive uma reviravolta em sua política externa sob Bolsonaro e Ernesto Araújo, o posicionamento vacilante do Itamaraty, e as declarações do presidente de que o país não pode opinar por não ter armas nucleares, parecem enterrar o projeto brasileiro de ser uma voz relevante no contexto da segurança global.
Realmente, o fato de o país não ser uma potência bélica faz com que ele muitas vezes não seja consultado, ou mesmo ouvido, em questões de segurança global. Foi assim nas negociações com o Irã no passado. O problema do atual posicionamento do governo é que ele se junta a uma série de mudanças na política externa do país que parecem deixar de lado a busca por prestígio e por uma voz global.
Se o Brasil tinha ambição em ser uma potência, independentemente das suas limitações militares, isso sempre levou o país a se posicionar internacionalmente, mesmo que em defesa de uma suposta neutralidade. Por mais que o país tenha sido criticado dezenas de vezes no exterior por parecer estar "em cima do muro", havia uma lógica no posicionamento em defesa da soberania nacional de diferentes países.
Na situação atual, entretanto, o que se vê é uma falta de ação para tentar manter uma agenda internacional consistente. O governo parece apoiar os Estados Unidos, mas não quer comprar uma briga com toda uma região de importantes parceiros comerciais, recomenda diplomatas a não fazerem homenagens ao general iraniano, ao mesmo tempo diz que vai manter o comércio com o Irã, vacila, deixa de lado posicionamentos do passado e parece se afundar em insignificância internacional.
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