Bolsonaro é incluído em livro francês sobre líderes autoritários do mundo
O presidente Jair Bolsonaro é apresentado como um governante populista em uma democracia em regressão em um livro francês que reúne perfis dos novos líderes autoritários do mundo. Segundo a obra, a eleição dele em 2018 representa um risco real de desintegração da democracia do país rumo ao autoritarismo.
"Le monde des nouveaux autoritaires" (O mundo dos novos autoritários) é resultado de um projeto desenvolvido pelo think tank francês Institut Montaigne e acaba de ser lançado como livro.
Pesquisadores de várias universidades foram convidados para tratar de figuras públicas com tendências autoritárias a fim de entender melhor quem são esses personagens da política global contemporânea.
A obra busca refletir sobre "a prevalência de um novo tipo de líderes políticos de nossa época: os 'homens fortes', que exercem poder pessoal excluindo, tanto quanto possível, qualquer contrapeso à sua autoridade".
"De um extremo ao outro do mundo, demagogos, 'homens fortes', autocratas e ditadores de todos os tipos se seguem", diz a apresentação do livro. A obra "desenha um retrato psicológico, intelectual e político de cada um deles".
Bolsonaro é apresentado no livro junto a 18 outros desses "novos autoritários". Além do presidente brasileiro, são temas de perfis do livro:
– Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
– Vladimir Putin, presidente da Rússia
– Xi Jinping, presidente da China
– Narendra Modi, premiê indiano
– Benjamin Netanyahu, premiê israelense
– Matteo Salvini, da Itália
– Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas
– Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia
– Paul Kagame, presidente de Ruanda
– Ali Khamenei, líder supremo do Irã
– Nicolás Maduro, presidente da Venezuela
– Viktor Orban, premiê da Hungria
– Bashar al Assad, presidente da Síria
– Mohammed bin Salman e Mohammed bin Zayed, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes (reunidos em um único perfil)
– Kim Jong-un, da Coreia do Norte
– Jaroslaw Kaczynski, da Polônia
– Abdel Fattah al-Sissi, presidente do Egito
Os líderes foram escolhidos por terem algumas características em comum, diz a apresentação do livro, como o domínio de uma ideologia antiliberal e o viés autoritário de suas políticas. Eles podem ser divididos entre ditadores (como Putin e Xi), governantes populistas em democracias fortes (como Trump) e populistas em democracias em regressão (como Bolsonaro, Modi, Orbán e Erdogan).
O Institut Montaigne é um organização voltada à discussão e avaliação sobre políticas públicas na França e também desenvolve estudos sobre geopolítica. Segundo o texto sobre o projeto no site do think tank, a análise sobre essas lideranças autoritárias se faz importante por conta das consequências geopolíticas da ação deles em seus países.
"O nacionalismo, que é seu denominador comum, enfraquece a cooperação internacional ('multilateralismo'); Existem ligações de conivência entre eles, novamente independentemente dos campos, gerando novas alianças mais ou menos ocultas. (…) Há também um estilo de diplomacia 'neo-autoritária'", explica.
"Jair Bolsonaro surgiu do nada", diz uma apresentação sobre o líder brasileiro, chamado de "líder improvável", escrita pelo organizador do livro, Michel Duclos. E continua:
"Ele assumiu o comando de um país importante, que com o presidente Lula e, em certa medida, Dilma Rousseff, teve uma influência significativa no nível internacional graças ao seu status de grande emergente. Um neo-autoritário em Brasília pode ter apenas uma margem de manobra limitada na política internacional, mas sua chegada ao poder é simbolicamente um ponto de virada, dado esse tipo de paradoxo: um retrocesso em um país que acaba de emergir do subdesenvolvimento."
O perfil completo de Bolsonaro foi escrito pelo professor Frédéric Louault, especialista em política brasileira da Universidade Livre de Bruxelas. O texto foi escrito em dezembro de 2018, logo após a vitória de Bolsonaro, que, segundo Louault, "mergulhou o Brasil no desconhecido. Conscientemente ou não, os brasileiros assinaram o maior cheque em branco da sua história".
Apesar de Duclos dizer que o presidente "surgiu do nada", Louault se debruça com atenção sobre a história política de Bolsonaro, sua atuação pouco relevante por três décadas no Legislativo e lista declarações polêmicas e com clara visão autoritária, incluindo sua defesa da ditadura militar e da repressão contra opositores.
"Os brasileiros que votaram nele no segundo turno da eleição presidencial não levaram em conta excessos retóricos, nem sua ineficiência em trinta anos de mandato, nem mesmo o vazio de seu programa. Mas eles não poderão dizer que não sabiam. Jair Bolsonaro é tão claro quanto a água benta. O novo presidente é uma Bíblia aberta: ele diz o que pensa e pensa o que diz. Suas palavras são verdadeiras", diz.
"O risco de a democracia se desintegrar e o governo se desviar para uma forma de autoritarismo não deve ser minimizado, bem como o desprezo de Bolsonaro por instituições democráticas, direitos humanos e liberdades fundamentais."
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