Senadores dos EUA defendem tratar fogo na Amazônia como crise de segurança
Um artigo escrito por dois senadores dos Estados Unidos e publicado no site de opinião da rede NBC defende que o Congresso norte-americano tome atitudes para combater a destruição da Floresta Amazônica.
De acordo com Brian Schatz (senador pelo Havaí) e Chris Murphy (senador por Connecticut), o presidente Donald Trump preferiu manter sua amizade com Jair Bolsonaro a lutar contra os incêndios, e é preciso agir para evitar uma "catástrofe climática". Se o presidente não quiser tomar uma atitude, dizem, o Senado o fará.
Entre as ações propostas, os senadores incluem a ideia de considerar a destruição da floresta como uma questão de segurança para os EUA.
"Primeiro, devemos deixar claro que os incêndios no Brasil são uma crise de segurança nacional e que estamos dispostos a pausar aspectos de nosso relacionamento bilateral com o Brasil até que o governo deles tome medidas para controlá-los, juntamente com os fazendeiros e madeireiros que supostamente estão começando os incêndios. Nada sobre o nosso relacionamento com o Brasil deve ser tratado com normalidade até Bolsonaro tomar medidas significativas para acabar com os incêndios e proteger a Amazônia", defendem os senadores.
A sugestão segue a linha já defendida por alguns analistas americanos que indicam que a ameaça climática pode ser vista como um risco ao país. A percepção de que a relação entre os incêndios na Amazônia e o aquecimento global permitem ver o fogo na floresta brasileira como uma ameaça à segurança dos Estados Unidos tem ganhado força nos debates públicos, o que abre uma situação pouco confortável para o Brasil.
Desde início da crise das queimadas na floresta, também vem ganhando força o discurso que abre questionamentos sobre a soberania brasileira da floresta e discutem formas de pressionar o Brasil a assumir uma postura mais séria para proteger o ambiente.
"A soberania do Brasil sobre a floresta tropical é única entre as nações, e não se deve esperar que ele assuma a responsabilidade de preservar esse ecossistema crucial por conta própria. No futuro, se o governo de Bolsonaro se comprometer a levar a sério a conservação, devemos estar prontos para ajudar o Brasil a desenvolver sua economia e oferecer oportunidades aos brasileiros comuns que não dependem da destruição da Amazônia", argumentam os senadores no artigo.
Schatz e Murphy falam ainda sobre interromper discussões a respeito de acordo comercial entre EUA e Brasil e sobre possíveis sanções contra produtos de áreas desmatadas.
"Essa é uma crise existencial e precisamos começar a tratá-la como tal", defendem.
Antes do artigo dos senadores, a ideia de relacionar o fogo na floresta com a segurança americana já vinha ganhando espaço na imprensa dos EUA.
O primeiro texto assim ganhou destaque em julho na revista The New Republic. O analista Tyler Bellstrom dizia que os EUA deveriam passar a ver o Brasil como uma ameaça existencial maior do que o Irã e a China, tradicionalmente vistos como maior risco da atualidade pelos EUA, por conta do desmatamento crescente.
Um mês depois, um artigo publicado pela revista The Atlantic escalou o tom. O jornalista e escritor Franklin Foer alegava que o incêndio da floresta deve ser tratado pelo resto do mundo como uma ameaça maior do que as armas de destruição de massa.
Em seguida, o almirante aposentado da Marinha dos EUA James Stavridis, colunista da agência de economia Bloomberg, argumentou que o aquecimento global torna o clima menos previsível e gera tempestades destruidoras. Além disso, completa, a elevação do nível do mar é uma ameaça à Marinha americana.
"Os americanos precisam entender como essas crescentes nuvens de fumaça sobre a Amazônia são uma ameaça direta à nossa segurança nacional", escreveu.
Estes textos se juntam a uma série de análises internacionais que se alinham à postura do presidente francês Emmanuel Macron e abrem espaço para questionamentos sobre a soberania brasileira da Amazônia. O tema vem ganhando força na mídia estrangeira enquanto são debatidas formas de pressionar o governo brasileiro a assumir responsabilidade pela proteção da floresta.
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