Mídia internacional retrata Brasil 'em chamas' e critica governo Bolsonaro
A imagem internacional do Brasil está "em chamas". A imprensa internacional vem dado muita atenção à onda de queimadas que vem atingindo áreas protegidas de florestas brasileiras, mostrando a destruição de partes da Amazônia e criticando a atuação do presidente Jair Bolsonaro.
A preocupação ambiental já é um dos principais temas sobre os quais o mundo tem falado ao analisar o Brasil. Desde a eleição de Bolsonaro, muitos analistas internacionais criticaram a postura do novo governo. A destruição da floresta tem afetado a imagem internacional do país e vira alvo de pressão do resto do mundo, ameaçando até mesmo a economia brasileira.
Nesta semana, a atenção global cresceu ainda mais. Foram publicadas centenas de reportagens e artigos falando sobre o aumento das queimadas e responsabilizando o governo pela redução das proteções da floresta.
Veja abaixo como alguns dos principais veículos da mídia estrangeira vem tratando os incêndios.
"Incêndios na Floresta Amazônica aumentaram neste ano", diz o título de uma reportagem publicada pelo jornal americano The New York Times.
A publicação explica que a maioria dos incêndios "foram feitos por fazendeiros limpando suas terras", e "estão devastando áreas desabitadas da floresta tropical e invadindo áreas povoadas no norte do país".
O jornal britânico The Guardian destacou em seu título que o presidente acusou ONGs pelos incêndios apesar de não ter nenhuma evidência disso.
"Presidente brasileiro alega que grupos ambientalistas estão por trás de aumento em chamas, mas não oferece nada para apoiar sua afirmação", diz.
Segundo o jornal, "uma onda de incêndios em vários estados da Amazônia neste mês seguiu relatos de que os agricultores estavam se sentindo encorajados a limpar a terra para plantações e fazendas de gado porque o novo governo brasileiro estava ansioso para abrir a região para a atividade econômica".
O jornal francês Le Monde publicou duas reportagens sobre os incêndios. Uma relatando o aumento das chamas e outra falando sobre a repercussão do caso.
"No Brasil, os incêndios florestais aumentaram 83% desde o início de 2019 em relação ao ano anterior, devido à seca e desmatamento incentivados pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro", diz o jornal.
"Os incêndios na Amazônia são causados principalmente por clareiras de derrubada e queimadas usadas para transformar áreas florestais em áreas de cultivo e pecuária, ou para limpar áreas já desmatadas, geralmente durante a estação seca que termina em dois meses."
O jornal também destacou a campanha virtual #PrayForAmazonia e a divulgação de imagens mostrando a destruição da floresta.
A publicação alega que muitas das imagens postadas na internet não condizem com o contexto das atuais queimadas, e reúne algumas da fotografias mais recentes que ilustram de forma mais realista o que está acontecendo hoje.
O jornal de economia The Wall Street Journal, que costuma ter uma cobertura mais favorável ao governo Bolsonaro por conta da agenda de reformas econômicas, também destacou as queimadas: "Fogo destrói a Floresta Amazônica", diz a reportagem publicada no site do jornal.
"Grandes incêndios, muitos deles causados por madeireiros, estão devastando a Amazônia em um ritmo não visto há anos, enviando nuvens de fumaça que escurecem as cidades brasileiras em um momento em que há uma pressão internacional contra as políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro", diz.
Uma reportagem publicada pela rede de TV norte-americana CNN diz que os incêndios na Amazônia batem recordes.
"Os cientistas alertam que isso poderia causar um golpe devastador na luta contra as mudanças climáticas", diz.
Segundo a CNN, a posição favorável a negócios de Bolsonaro "pode ter encorajado madeireiros, fazendeiros e garimpeiros a assumirem o controle de uma área crescente de terra amazônica".
O jornal britânico The Telegraph noticiou o aumento das queimadas e a troca de acusações entre o presidente contra ONGs ambientais. A reportagem destacou que a fiscalização ambiental foi reduzida desde que Bolsonaro assumiu o poder.
"Os cientistas dizem que as perdas aumentaram desde que Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro, e o aumento do desmatamento no Brasil criou o apelido de 'Capitão Motosserra'. Governos anteriores haviam reduzido o desmatamento através de ações de agências federais e multas, mas as condenações e confiscos de madeira caíram este ano."
Até mesmo a revista de cultura Rolling Stone entrou na cobertura dos incêndios florestais.
"A Amazônia está pegando fogo, e o presidente de extrema-direita do Brasil pode ser o culpado", diz o título do texto publicado pela revista.
"Apesar do que a Fox News e seu tio maluco podem lhe dizer, há uma preponderância de evidências científicas extremamente convincentes de que a mudança climática está acontecendo, que está acontecendo rápido e que pode muito bem ser irreversível. Mas se você estiver procurando por mais evidências de que esse é o caso, agora você pode adicionar 'a Amazônia está em chamas' à sua lista."
A rede de TV americana Fox News, que tem um viés mais conservador, publicou em seu site duas reportagens sobre os incêndios na Amazônia.
Uma delas destaca que imagens da NASA permitem ver do espaço a destruição. A outra noticiou que a cidade de São Paulo ficou escura por causa da combinação de fumaça de incêndios e questões climáticas.
"Bolsonaro tem sido criticado nas últimas semanas, depois que dados do Instituto de Pesquisa Espacial do Brasil indicam um aumento no desmatamento na Amazônia no último trimestre, maior do que no mesmo período dos três anos anteriores", diz a Fox News.
Segundo o jornal The Washington Post, áreas imensas do "pulmão do planeta" estão em chamas, o que pode afetar as mudanças climáticas no mundo. O jornal também ressalta que o caso intensifica a controvérsia em torno das políticas ambientais do governo Bolsonaro.
"Os recentes incêndios na Amazônia se espalharam e alguns ocorreram repentinamente. No estado do Pará, por exemplo, ocorreu um surto de incêndios na semana passada que foi ligado a uma convocação dos agricultores para um 'dia de fogo' em 10 de agosto, de acordo com reportagens locais. O INPE, usando sensores baseados em satélite e outros instrumentos para localizar incêndios e rastrear a quantidade de área queimada, registrou centenas de incêndios no estado à medida que os fazendeiros limpavam a terra para a agricultura e também queimavam áreas intactas da floresta tropical para desenvolvimento adicional. As florestas tropicais desmatadas nessa região são tipicamente usadas para criação de gado e cultivo de soja, e grande parte do desmatamento é feito ilegalmente."
"A Amazônia brasileira arde como nunca antes", relata a reportagem sobre os incêndios no jornal espanhol El País.
A publicação ressalta que nos quase oito primeiros meses do ano houve quase 84% mais incêndios do que no mesmo período de 2018.
O jornal argentino publicou uma reportagem explicando em cinco pontos os motivos para a "importância global" da Amazônia.
A publicação chama a floresta de "tesouro ecológico" e diz que ela está cada vez mais ameaçada por incêndios.
O jornal português Público publicou mais de uma reportagem sobre os incêndios. Em uma delas, diz que "A Amazônia está a arder — e já se vê do espaço".
Entre as notícias mais populares do jornal, aparecia também uma reportagem sobre a acusação do presidente contra ONGs.
"O Presidente brasileiro não apresentou provas. E, quando questionado sobre a propagação de incêndios descontrolados, disse que é a época das queimadas", diz.
O jornal também reuniu uma série de ilustrações sobre a destruição dos "pulmões do planeta".
Em um artigo de opinião, o jornal de economia Financial Times diz que o aumento do desmatamento da Amazônia é o problema mais urgente do mundo e indica que acordos comerciais podem ajudar a criar pressão para salvar a floresta.
O economista Bard Harstad assina o texto e diz que a negociação entre a União Europeia e o Mercosul pode servir para condicionar o acordo a garantias de práticas sustentáveis.
O texto acusa ainda Bolsonaro de ter facilitado o aumento do desmatamento.
Segundo o jornal italiano La Repubblica, o recorde de incêndios na Amazônia é "culpa de Bolsonaro".
"Um ano dramático para o pulmão verde do mundo: a Floresta Amazônica. Os incêndios deste ano superaram em muito os do passado. Isso foi denunciado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE), cujo líder foi torpedeado pelo presidente Bolsonaro porque os dados que ele coletou, de acordo com o líder, são falsos."
Os incêndios florestais apareceram com destaque também na imprensa alemã.
Süddeutsche Zeitung noticiou o crescimento de áreas destruídas pelo fogo e associou a situação à atuação do governo brasileiro.
"O desmatamento da floresta tropical brasileira disparou desde a inauguração de Jair Bolsonaro", diz.
Segundo o jornal, o presidente, desde que assumiu o cargo, deixou claro que seu governo está do lado de mineradoras, agronegócios e fazendeiros, que buscam tirar lucro da floresta "com motosserras, tratores e mesmo com fogo, se necessário".
A rede de TV americana NBC publicou em seu site um artigo escrito pelo pesquisador Bill McKibben. O texto responsabiliza diretamente Bolsonaro pelas queimadas na floresta.
"Não é sempre que você pode identificar uma pessoa como a culpada por algo nessa escala, mas a escuridão do meio do dia [em São Paulo] é o resultado direto da eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do país no ano passado. Bolsonaro, que disse às pessoas, supostamente ironicamente, chamá-lo de "Capitão Motosserra", fez campanha com base na teoria de que o desenvolvimento econômico de seu país havia sido limitado pela afeição do mundo pela Amazônia, e deixou claro que quem quisesse cortá-la tinha pouco a temer de sua administração. Ele até demitiu o chefe da agência federal encarregada de monitorar por satélite a extensão do desmatamento, quando descobriu que o desmatamento estava aumentando."
Em sua edição desta semana, a revista The Economist, que recentemente destacou a destruição da Amazônia em sua capa, trata dos efeitos das queimadas sentidos em São Paulo durante a semana.
A revista voltou a criticar a atuação do governo em relação à floresta e chamou de ridículas as acusações do presidente contra ONGs
"Durante a estação seca da Amazônia, é comum os agricultores colocarem fogo ilegalmente para limpar a terra. O presidente populista do Brasil, Jair Bolsonaro, os encorajou enfraquecendo as agências que reforçam os regulamentos ambientais. Ele acredita que proteger a floresta impede o desenvolvimento econômico. Quando perguntado sobre os incêndios, ele respondeu ridiculamente acusando ONGs ambientais de colocarem fogo para afetar a imagem do seu governo em retaliação por seus cortes em seu financiamento."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.