‘O martírio não serve para nada’, diz brasilianista sobre decisão de Wyllys
Jean Wyllys precisa continuar vivo, defendeu James N. Green, brasilianista professor do departamento de história da universidade Brown, nos EUA, em entrevista ao blog Brasilianismo.
"Ele tem todo o direito de decidir sobre a vida dele, que está sendo ameaçada. Ele não se sente seguro e tem todo o direito de se proteger. Ele é um quadro importante e precisa continuar vivo. Se o governo não oferece proteção, é importante ele se proteger", disse Green.
A avaliação foi feita após o anúncio da decisão do deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro de abrir mão do novo mandato e de não voltar ao Brasil por conta da intensificação das ameaças de morte contra ele.
"Ninguém deve ser mártir. O martírio não serve para nada. O importante é ter pessoas vivas seguindo a luta", disse. "Durante a ditadura, ninguém era cobrado por querer sair do país por causa da repressão", completou.
Eleito pela terceira vez consecutiva, Wyllys, está fora do país, de férias, e disse que não pretende voltar ao Brasil e que vai se dedicar à carreira acadêmica. Desde o assassinato da a vereadora Marielle Franco, Wyllys vive no Brasil sob escolta policial. Com a intensificação das ameaças de morte, o deputado tomou a decisão de abandonar a vida pública. O PSOL confirmou que a vaga de Wyllys deve ser ocupada pelo suplente David Miranda (PSOL-RJ).
A decisão ganhou grande repercussão na imprensa internacional. Publicações importantes como o jornal britânico The Guardian, o americano The New York Times e a rede NBC noticiaram o anúncio de Wyllys, destacando que ele foi o primeiro congressista abertamente gay do Brasil. A mídia estrangeira também ressaltou que o Brasil tem um alto índice de crimes contra a comunidade LGBT.
Green contou que vinha conversando com Wyllys, de quem é amigo, sobre as opções do deputado para se manter seguro, e que não chegou a ficar surpreso com a decisão, apesar de ser um momento triste. Segundo ele, o contexto atual do Brasil é de perigo para ativistas.
"A conjuntura é muito parecida com os piores momentos da ditadura militar, com ataques à imprensa e ameaças às pessoas. O Brasil tem uma conjuntura muito diferente desde a eleição. Por que pensaríamos que não vão matar ele. É possível. Não é uma fantasia", disse. "Vai ter muita impunidade no Brasil."
Green organizou nos EUA no início do ano a National Network for Democracy in Brazil (Rede Nacional pela Democracia no Brasil), reunindo centenas de acadêmicos e ativistas nos EUA a fim de educar o público norte-americano a respeito da situação política do Brasil e defender avanços progressistas e movimentos sociais do país. Ele também ajudou a criar na França uma rede internacional que visa ajudar brasileiros, estudantes e profissionais, que se sintam ameaçados por decisões ou atos do governo brasileiro.
Apesar da pressão elevada desde a eleição e da decisão de Wyllys, Green alega que o movimento LGBT no Brasil não vai se enfraquecer, e que a reação vai ser vista nas ruas.
"As forças conservadoras querem voltar para a Idade Média, mas não vamos voltar para a Idade Média", disse. "As pessoas estão em choque, mas o movimento LGBT não vai perder força."
"Vi grandes indicações de solidariedade, amor e carinho. Ele representa muito. Todo mundo que é consciente torce por ele. Ele é um produto do movimento LGBT, ganhou popularidade por ser uma pessoa especial, mas o movimento não é só ele, são milhões de pessoas que vão às paradas gays todos os anos festejando nossa sexualidade e lutando por um país diferente. Acho que que paradas em todo o país vão ser maiores do que todos os anos. Nós temos razão", defendeu.
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