Antítese de Davos, Bolsonaro fracassa em Fórum, diz imprensa estrangeira
O discurso de Jair Bolsonaro na abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos não conseguiu atrair a atenção internacional de forma muito positiva para o que ele prometeu ser o "novo Brasil" sob seu governo.
Mesmo que alguns veículos de economia tenham comemorado a promessa de "abertura" do país, a reação da imprensa estrangeira à primeira viagem do presidente brasileiro ao exterior foi relativamente pequena (como próprio discurso de Bolsonaro), e marcada por críticas à falta de detalhes sobre os planos do governo e sobre o que o brasileiro representou na abertura do Fórum.
"O novo presidente do Brasil fracassa em sua estreia no exterior", diz o título da reportagem do jornal americano The Washington Post.
"A abertura do Fórum parecia ter potencial para empolgação. Jair Bolsonaro, fazendo sua viagem de estreia ao exterior como presidente do Brasil, prometia revelar sua visão de um 'novo Brasil' à elite global. (…) Mas seu discurso decepcionou. Bolsonaro falou por pouco mais de 10 minutos, entregando um discurso que observadores caracterizaram como 'sem vida' e 'desajeitado'", diz.
A ausência do norte-americano Donald Trump e o discurso inicial fizeram do presidente brasileiro "a cara do populismo" no encontro mundial, segundo uma reportagem publicada pelo jornal norte-americano The New York Times.
Em um texto sobre o primeiro dia do encontro, a publicação foca o discurso de Bolsonaro e adota um tom muito crítico ao alegar que Bolsonaro representa o oposto de tudo o que o Fórum busca.
"O discurso de abertura de Bolsonaro deu o tom para uma reunião de Davos sem a participação habitual de líderes americanos e europeus, lutando com forças políticas, da América Latina à Europa, que estão em desacordo com a ética da conferência de cooperação global e a ordem liberal internacional", explica o Times.
"Com seus instintos nacionalistas, seu estilo de homem forte e sua história de fazer declarações grosseiras sobre mulheres, gays e grupos indígenas, Bolsonaro é, em muitos aspectos, a própria antítese do 'Homem de Davos' – o termo usado para descrever o tipo de pessoa que participa da conferência anual", diz.
O jornal também voltou a ressaltar a proximidade e a comparação entre o presidente brasileiro e o americano.
"Bolsonaro e Trump cultivam um ao outro assiduamente, e os paralelos entre eles às vezes são impressionantes. Bolsonaro se gabou de vencer a eleição 'apesar de ter sido atacado injustamente o tempo todo", ecoando a vilanização de Trump sobre a mídia", diz. Até a forma de se vestir dos dois é semelhante, segundo o jornal. "Embora ele estivesse falando em uma sala aquecida, Bolsonaro usava um longo casaco de inverno", diz, alegando que Trump faz o mesmo.
Apesar das críticas internas sobre a brevidade do discurso de Bolsonaro –que durou pouco mais de seis minutos dos 45 a que teria direito–, a atenção gerada pela primeira viagem de Bolsonaro ao exterior teve uma cobertura relativamente limitada.
Além das publicações que enfocaram a frustração das expectativas internacionais, o silêncio de grande parte da mídia estrangeira reflete a falta de "notícia" gerada pelo discurso sem novidades e sem detalhes sobre os planos de Bolsonaro para o país.
"Bolsonaro não conseguiu honrar seu título de "Trump dos Trópicos", com um discurso pouco inspirado em Davos, que deixou de lançar luz sobre a direção da oitava maior economia do mundo", diz o britânico Daily Telegraph.
Mesmo com todo o tom crítico, a imprensa de economia do resto do mundo preferiu enfocar as promessas de "abertura" e de reformas. As redes americanas CNN e CNBC, por exemplo, deram atenção a esta nova abordagem da economia brasileira.
O Wall Street Journal até diz que o discurso foi curto e sem detalhes sobre o que de fato vai ser feito. Ainda assim, a publicação destacou que Bolsonaro adotou um tom mais comedido do que o que está normalmente associado a ele, e que prometeu tornar o país mais "amigável" para empresários e investidores internacionais.
De forma parecida, o Financial Times diz que a apresentação de menos de 15 minutos mostrou que o presidente brasileiro buscou fugir das controvérsias à qual costuma ser associado.
"Em uma aparição breve e cuidadosamente controlada, Bolsonaro apresentou uma direção favorável ao mercado enquanto prometeu baixar os impostos de empresas e tornar o país mais aberto ao comércio global", diz.
Segundo o Washington Post, por enquanto, o pêndulo ainda está na direção de Bolsonaro. "Os investidores estão bastante empolgados com sua administração e a opinião pública no Brasil ainda está firmemente a seu favor", avalia.
O britânico The Guardian mais uma vez adotou tom crítico em relação ao presidente brasileiro. Uma reportagem inicial falou sobre a preocupação que o discurso gerou em ambientalistas, e um outro texto diz que o discurso foi ofuscados pelas denúncias de corrupção envolvendo seu filho.
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