Jornal chinês ataca comparação com Brasil: 'não são dispostos ao trabalho'
Um editorial publicado (em inglês) pelo jornal chinês Global Times, ligado ao jornal oficial do Partido Comunista Chinês, faz uma crítica dura à cultura brasileira e à forma como a cultura do país lida com trabalho, economia e desenvolvimento.
"Pode soar racista diferenciar o desenvolvimento baseado na cultura. Mas depois de morar no Brasil por um tempo, você descobrirá a resposta. Os brasileiros não estão dispostos a ser tão diligentes e a trabalhar tanto quanto os chineses. Nem eles valorizam a poupança para a próxima geração, como os chineses. No entanto, eles exigem o mesmo bem-estar e benefícios que os dos países desenvolvidos", diz o artigo.
O texto é assinado por Ding Gang, editor do People's Daily. Ele foi escrito em resposta a um artigo em que o jornal americano The New York Times comparou a China ao Brasil, avaliando os desafios que os dois países enfrentam em busca de desenvolvimento.
"O New York Times recentemente publicou uma série de artigos sobre a China. O último comentário de Bret Stephens tem um título impressionante: "O Desafio da China Real: Gerenciando seu Declínio". Este artigo aparentemente analítico usa o Brasil como uma comparação com a China, que expõe a chocante ignorância do escritor sobre a cultura do povo chinês", diz o editorial publicado na China.
Gang explica que morou três anos no Brasil, e que conhece a realidade do país. Ele argumenta que o Brasil não pode ser comparado à China, e que é preciso analisar as diferenças culturais para entender as diferenças no desenvolvimento dos dois países.
"A questão básica é: por que a China conseguiu a industrialização enquanto o Brasil a abandonou e mudou na direção oposta? Isso não é inteiramente uma questão de economia ou instituições, mas de cultura", avalia, para em seguida fazer o comentário que diz que "pode soar racista" reproduzido no começo deste post.
"A diferença fundamental entre o Brasil e a China é que a cultura do Brasil torna o país inadequado para a indústria. A falta de manufatura não pode levar à industrialização e, finalmente, impossibilita o desenvolvimento sustentável. Como resultado, a economia do Brasil depende apenas da exportação de matérias-primas e commodities. Em outras palavras, recursos abundantes limitaram o desenvolvimento da manufatura no Brasil."
Coincidentemente, na mesma semana em que o texto foi publicado na China, uma palestra no Brazil Institute do King's College London avaliou as relações culturais entre Brasil e China, indicando o grande desconhecimento de um país em relação ao outro.
A pesquisadora portuguesa Carla de Utra Mendes apresentou o trabalho "A relational South: Thinking cultural dynamics between China and Brazil", em que tratou das conexões possíveis entre os dois países, enfocando pontos de distância e de proximidade que podem levar a uma intensificação destas conexões.
Além da questão sobre conhecimento mútuo, do que pode de fato haver de "racista" ou preconceito na opinião do jornal chinês e da polêmica que isso pode gerar, é interessante que o editorial da China tenha se tornado notícia também no site conservador americano Breitbart. "Mídia estatal: 'Pode soar racista, mas a cultura do Brasil é inferior à da China"', diz o título da repercussão do editorial, no Breitbart.
Com a eleição de Jair Bolsonaro, e seu discurso de relações internacionais mais alinhado aos EUA e crítico à China, o Brasil parece estar se tornando o foco de uma disputa global entre os dois países.
O site de jornalismo próximo ao governo de Dolnald Trump parece mandar um recado de que, enquanto o próximo governo brasileiro demonstra que quer se aproximar mais dos EUA de Trump, a imprensa oficial chinesa se coloca de forma mais crítica em relação ao Brasil. Isso em meio a uma movimentação evidente do Breitbart e outros veículos conservadores ligados a Trump na tentativa de gerar uma imagem mais positiva do Brasil de Jair Bolsonaro.
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