Bolsonaro deve dar fim ao ‘soft power’ do Brasil, diz pesquisador dos EUA
A eleição de Jair Bolsonaro deve gerar uma ruptura na política externa tradicional do Brasil, avalia o pesquisador americano Harold Trinkunas em um artigo publicado no site do think tank Brookings (o número um do ranking internacional de instituições pesquisas internacionais deste tipo). Segundo ele, o governo de direita que se iniciará no próximo ano vai destruir o 'soft power' do Brasil.
"Nas últimas décadas, o Brasil procurou influenciar a ordem internacional confiando fortemente no 'soft power' –a capacidade de persuadir outros a se alinharem com suas propostas diplomáticas devido ao apelo do modelo doméstico do Brasil e sua abordagem pacífica para resolver disputas internacionais", explica Trinkunas.
Foi através do 'soft power' que o Brasil se tornou mais importante internacionalmente durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas desde que Dilma Rousseff chegou ao poder o país vinha perdendo parte deste "poder brando".
"No entanto, a eleição de Jair Bolsonaro, um congressista de direita de longa data com tendências autoritárias, provavelmente destruirá o que resta do soft power do Brasil no exterior", avalia.
Para ele, a visão altamente polarizadora do Brasil que o presidente eleito estabeleceu dificilmente atrairá muitos estrangeiros ao país, nem fornecerá novas razões para os parceiros diplomáticos se alinharem com o Brasil.
Além disso, "seu ataque às políticas diplomáticas tradicionais do Brasil reflete a falta de apoio à atual ordem internacional em que, apesar de todas as suas falhas, o Brasil confiou para ampliar sua influência e proteger seus interesses", diz.
Um outro ponto importante, segundo Trinkunas, é que o desejo de alinhar o Brasil com a política externa do presidente dos EUA, Donald Trump, "significa apostar todas as fichas do Brasil em um instável presidente dos EUA e um establishment da política externa de Washington que tradicionalmente pouco se importava com o Brasil ou seus interesses".
De acordo com o pesquisador, as opiniões de Bolsonaro provavelmente serão populares entre os governos populistas de direita em todo o mundo, "mas explicitamente coloridos com racismo, sexismo e homofobia. Embora essas políticas possam atrair sua base em casa, se as reações internacionais a Duterte e Trump servirem de guia, é improvável que as políticas internas de Bolsonaro forneçam uma plataforma para expandir o 'soft power' do Brasil de forma mais ampla".
Chefe do setor da América Latina no centro de estudos Brookings, em Washington, DC, Trinkunas é um dos autores do livro "Aspirational Power: Brazil's Long Road to Global Influence" (Potência aspiracional — O Brasil na longa estrada para a influência global, em tradução livre). A obra trata das ambições do país em política internacional, avaliando que o Brasil é uma potência emergente que tem tentado usar do soft power, o poder de influência, para ganhar relevância no resto do mundo e buscar revisar aspectos da ordem internacional estabelecida.
Em entrevista ao blog Brasilianismo, em 2016, Trinkunas defendeu que o Brasil não queria influenciar a ordem internacional por se achar mais importante do que era. "Ele realmente acha que a ordem internacional tem aspectos negativos sobre a capacidade de se desenvolver, e quer uma ordem internacional diferente, na qual o Brasil tivesse mais voz, o que aceleraria o desenvolvimento do país". Segundo ele, o Brasil e o sistema internacional se beneficiariam de uma maior influência do Brasil.
A análise mais recente, sobre a eleição de Bolsonaro, indica uma mudança no perfil da diplomacia brasileira, que passaria a deixar de lado o "poder brando" para buscar um alinhamento maior com os EUA de Trump. Ainda de acordo com Trinkunas, entretanto, o Brasil sempre quis ser uma potência internacional e defendeu uma ordem global diferente da que existe, mas em muitos momentos acabou "dando um passo maior do que a perna", ou desenvolvendo problemas internos, o que fez o país perder força diplomática.
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