Nomeação de Moro gera 'incêndio', mas pode dar mais prestígio a Bolsonaro
A nomeação do juiz federal Sergio Moro para o Ministério da Justiça do governo de Jair Bolsonaro foi recebida com fortes críticas na imprensa internacional, e gerou muitos questionamentos à imparcialidade do próprio Moro e à credibilidade da operação Lava Jato.
Segundo o pesquisador americano Matthew M. Taylor, entretanto, apesar de causar um "incêndio" no curto prazo, a indicação vai aumentar o prestígio de Bolsonaro e pode ser positiva no longo prazo.
Para muitos observadores internacionais, a decisão soa problemática. "Parece um grande erro: são os promotores, não o governo, que deveriam combater a corrupção. E a condenação de Lula por Moro agora parece um ato político", comentou Michael Reid, da revista "The Economist", no Twitter.
Outros analistas avaliam que a impressão é de que Moro foi premiado por ajudar Bolsonaro a ser eleito, e que a nomeação parece comprovar acusações de partidarismo que antes poderiam ser vistas como teoria da conspiração.
Segundo Brian Winter, editor-chefe da revista "Americas Quarterly", a decisão de Moro é questionável. "Algumas pessoas vão usar isso apenas para destruí-lo –incluindo algumas pessoas que eram fãs dele. É inevitável. A narrativa de um juiz que prendeu Lula e depois conseguiu um emprego no governo de seu oponente será muito atraente para algumas pessoas resistirem. E suspeito que ele saiba disso e suspeito que ele acredite que os benefícios sejam maiores que os riscos ", disse ao "Guardian".
Segundo Winter, a decisão reescreve a história da Lava Jato e dá tremenda munição às pessoas que acreditavam que ela era uma cruzada partidária desde o início. "Eu acredito em Sergio Moro. Eu conheço Sergio Moro. Mas sua decisão hoje torna muito mais difícil defendê-lo politicamente ", disse Winter.
A avaliação é parecida com a de Taylor, professor da American University, em Washington, DC. e autor de vários estudos internacionais sobre democracia e corrupção no Brasil. "No curto prazo, a indicação parece confirmar a narrativa do PT de que o sistema jurídico é enviesado contra o partido", disse. Além disso, segundo ele, o debate sobre o partidarismo da Lava Jato vai impedir o PT de refletir sobre seus erros e pensar sobre seu papel na política brasileira.
Ele admite que de imediato o impacto da indicação deve causar problemas, mas vê possibilidades positivas para o futuro.
"É um nome de peso. Poucos entendem o funcionamento e os mecanismos da corrupção no Brasil, e como combatê-la como Sérgio Moro", disse Taylor em entrevista ao blog Brasilianismo.
Taylor é autor de livros como "Corruption and Democracy in Brazil: The Struggle for Accountability" (Corrupção e democracia no Brasil: a luta por fiscalização), e "Judging Policy: Courts and Policy Reform in Democratic Brazil" (Julgando política: Tribunais e reforma política no Brasil democrático). Segundo ele, apesar da primeira reação negativa, Moro tem chances de trabalhar para fortalecer o combate à corrupção no longo prazo. "Ninguém conhece melhor do que Moro os problemas da corrupção no Brasil, e isso pode ajudar no processo de pensar formas de combatê-la", disse.
"Moro dá prestígio ao presidente eleito e beneficia o governo de Bolsonaro. Durante a campanha ele divulgou poucas propostas para o combate à corrupção, mas a indicação mostra que esta deve ser uma prioridade", explicou. "Imagino que Moro tenha aceitado o cargo pela possibilidade de afetar positivamente a luta contra a corrupção."
A própria Lava Jato, avalia, também pode se beneficiar da ida de Moro para o Ministério. Por mais que haja questionamentos agora, diz Taylor, a continuidade da operação pode se mostrar positiva para o funcionamento das instituições brasileiras. "Outros juízes vão ter que assumir a operação, e isso mostra que ela é maior do que Moro."
Apesar da visão otimista no longo prazo, Taylor ressalta que é preciso avaliar como vai ser o trabalho de Moro e a prioridade que o governo de Bolsonaro realmente vai dar à luta contra a corrupção. "O cenário do início do governo vai envolver muitas prioridades, e é difícil saber o que de fato Moro vai poder fazer", disse.
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