Mundo acompanha eleição que pode mudar a imagem internacional do Brasil
Enquanto os brasileiros vão às urnas para escolher o próximo presidente da República, o resto do mundo acompanha de longe, mas atento, tudo o que acontece no país. A eleição deste ano é um dos eventos com maior cobertura na imprensa internacional em muito tempo, e essa análise externa do que acontece no país tem importância e pode ajudar a moldar a percepção que o resto do mundo tem sobre o Brasil a partir de janeiro.
Mesmo depois de o país estar no centro dos holofotes globais com eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, a discussão sobre o futuro da democracia brasileira é um dos temas que mais chamam a atenção nos últimos anos. Somente neste domingo, por exemplo, foram publicados centenas de reportagens e artigos explicando o dia decisivo para o país em jornais, revistas, rádios e TVs em inglês, espanhol, italiano, francês, japonês, chinês e vários outros idiomas.
Em comum em todos eles há uma tentativa de entender o que levou o país à polarização, e uma avaliação sobre o futuro da democracia brasileira após as urnas.
No título e no texto de uma reportagem publicada pelo jornal norte-americano "The New York Times", por exemplo, a eleição é descrita como uma das mais importantes da história do país, podendo marcar a ruptura nos rumos do país desde a redemocratização. Ao longo dos últimos meses, foram muito frequentes as descrições internacionais que apontavam a eleição deste ano como a mais importante da história recente do Brasil.
A cobertura internacional sobre as eleições tem chamado a atenção não apenas pelo grande volume de reportagens e artigos publicados analisando a situação do país, mas também pelo tom quase unânime de crítica ao candidato Jair Bolsonaro.
Desde antes do primeiro turno, a mídia internacional tem se debruçado sobre o passado do capitão reformado, sobre suas propostas políticas e especialmente sobre suas declarações marcadas por autoritarismo. À exceção de publicações menos influentes, como o "Washington Examiner" e "Washington Times", e de um texto ambíguo do "Wall Street Journal", praticamente toda a mídia estrangeira se colocou abertamente contra Bolsonaro em reportagens, editoriais e artigos de opinião. Para este olhar externo, Bolsonaro não apenas ameaça a democracia brasileira como pode ser um presidente desastroso.
Eleitores do capitão reformado reagiram a essas reportagens críticas alegando que a imprensa internacional não tem relevância no Brasil. É muito importante pensar, entretanto, que a imprensa do resto do mundo forma parte da base do que as pessoas nos outros países leem e sabem sobre o Brasil.
Políticos, empresários, diplomatas, e até mesmo turistas podem ter sua percepção do país influenciada por esta cobertura. Se a imprensa internacional como um todo assume um tom crítico falando em risco para a democracia brasileira, é muito provável que as pessoas do resto do mundo passem a ter essa imagem negativa do Brasil.
A imagem de um presidente costuma ser muito vinculada à percepção internacional do país dele. Isso foi evidente, no caso do Brasil, durante o auge da popularidade de Lula, que teve destaque em grandes encontros internacionais, e que chegou a ser chamado de "o cara", o "político mais popular do mundo", pelo então presidente dos EUA, Barack Obama. Os EUA hoje perdem prestígio por causa de Trump, assim como têm imagem negativa as Filipinas por causa de Rodrigo Duterte, a Turquia por conta de Recep Erdogan e a Venezuela de Nicolas Maduro. Os três primeiros são os três líderes internacionais mais frequentemente associados a Bolsonaro na imprensa estrangeira, e há analistas que o comparam até mesmo a Chávez e Maduro, por mais que ele critique tanto a Venezuela.
Foi algo parecido com isso o que aconteceu nos Estados Unidos nos últimos anos. Com o governo de Donald Trump, o prestígio internacional dos EUA se reduziu de forma drástica, independentemente de a economia do país continuar crescendo. O presidente dos EUA chegou a ser motivo de risos durante um discurso na ONU há poucas semanas. A diferença é que os EUA ainda são a maior potência internacional, então seus interesses diplomáticos podem se basear em seu poder militar e econômico, sem depender tanto do "soft power".
No caso do Brasil, as coisas são diferentes. O país não é uma potência militar e econômica, e muito do que o país alcança internacionalmente depende do prestígio do país, da imagem que o resto do mundo tem dele. Então a cobertura que a mídia internacional faz sobre o Brasil pode ter, sim, impactos práticos sobre o posicionamento do país no mundo –e é importante saber o que se pensa sobre o Brasil internacionalmente.
É verdade que os interesses comerciais e políticos das grandes potências e dos principais parceiros comerciais do país provavelmente devem se colocar acima da percepção crítica que se pode ter a um eventual governo de Bolsonaro, e não deve haver ruptura imediata. Mas, se o Brasil continuar querendo ter um papel de destaque em política internacional, vai precisar demonstrar para o mundo que é um país democrático, em que minorias e direitos humanos são respeitados, e onde a Constituição é seguida, e que não caminha para ter um governo autoritário.
Este foi o foco de uma importante análise publicada pela agência de notícias Reuters durante a semana. Segundo o correspondente internacional Dom Phillips, o próximo governo do Brasil pode transformar a forma como o país é visto no resto do mundo, e pode trazer fortes reações às medidas do país que possam afetar o resto do mundo –especialmente quando consideradas questões ambientais, em que a posição do Brasil é fundamental.
O Brasil já tem uma imagem internacional que costuma ser chamada de "decorativa". O país é bem avaliado enquanto destino para turismo e aventura, e é quase sempre associado a festas e carnaval. Por outro lado, é associado a violência, caos, criminalidade e a um sistema político disfuncional. É a imagem geralmente associada à ideia de que o país não é sério.
Nas últimas décadas, especialmente durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, houve um esforço do país para se promover internacionalmente como uma nação que é séria, sim, e que tem um papel fundamental para o planeta. Isso tentou ser construído na base da previsibilidade do país, no respeito às regras, na continuidade da ordem constitucional.
Um rompimento com pilares deste tipo, uma quebra da ordem constitucional e um possível enfraquecimento da democracia tendem a afastar o país ainda mais de qualquer ideia de seriedade em política internacional.
É contra isso que a imprensa internacional tem alertado no caso de uma possível eleição de Bolsonaro. Para muitos analistas estrangeiros, o candidato e suas declarações –como a de que vai banir ou prender opositores– representam um risco à democracia, à estabilidade e às instituições brasileiras. Se este de fato for o rumo seguido, o prestígio do Brasil no resto do mundo tende a se reduzir, fazendo o país perder relevância no cenário internacional.
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