Projeção do Brasil sob Lula ampliou visibilidade mundial da prisão dele
É uma ironia da história recente do Brasil que o maior responsável pela grande repercussão internacional da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja o próprio Lula.
Apesar de a preocupação com a busca por reconhecimento externo ser parte do Brasil desde que o país passou a existir, foi durante o governo de Lula que o Brasil passou a investir mais pesado na chamada diplomacia midiática a fim de promover a imagem do país no resto do mundo, conquistar soft power e se tornar mais conhecido e relevante de forma global.
Graças a esta conquista da atenção mundial, impulsionada também pelo bom momento da economia do país, Lula se tornou o "o cara", o "político mais popular da Terra", como Barack Obama o descreveu em 2009. E graças a esta conquista, o mundo assistiu atento à condenação e à prisão do ex-presidente brasileiro nos últimos dias.
Desde a decisão do Supremo Tribunal Federal de negar o Habeas Corpus a Lula, na quarta-feira (4), passando pelo pedido de prisão do ex-presidente, pela mobilização dos seus partidários no sindicato dos metalúrgicos e, por fim, sua ida à prisão, no domingo, o Brasil foi foco de muita atenção internacional.
Tanto na imprensa, quanto nas redes sociais e em sites de busca, a prisão de Lula ofuscou outros temas de política do mundo, como a condenação da ex-presidente sul-coreana Park Geun-hye e o julgamento de Jacob Zuma na África do Sul.
A curva de tendências de buscas pelo termo "Lula" no Google Trends em todo o mundo mostra um grande pico de atenção dada ao ex-presidente nos últimos dias, superando todas as notícias anteriores sobre julgamentos sobre ele. Lula foi um dos assuntos mais frequente na mídia estrangeira, e o Trends permite ver também o quanto o mundo inteiro deu muito mais atenção ao caso de Lula do que os de Park e Zuma –especialmente no Ocidente.
Além disso, o julgamento no STF e o pedido de prisão também dominaram o Twitter, com vários tipos de menção ao ex-presidente brasileiro assumindo posições no topo dos assuntos mais comentados no mundo.
Tudo isso pode ser interpretado como um reflexo prolongado do trabalho desenvolvido por Lula quando era presidente. A busca do seu governo por reconhecimento internacional e por soft power para o Brasil é um tema frequente de estudos de relações internacionais, e faz parte do que incentivou a publicação de vários livros sobre a emergência do Brasil.
Em um artigo acadêmico publicado em 2014, por exemplo, as pesquisadoras Silvia Garcia Nogueira e Caroline Burity analisaram a construção da imagem do Brasil no exterior e a diplomacia midiática no governo Lula.
Elas desenvolveram pesquisa com profissionais que trabalharam na comunicação e divulgação do Brasil no mundo e concluíram que jornalistas e diplomatas que desenvolviam atividades nesses setores possuíam uma preocupação cotidiana com a administração de visibilidade do Brasil e trabalhavam para a promoção de uma imagem ou percepção positiva do país no exterior.
É a chamada diplomacia midiática, que pode ser descrita como uma estratégia que aproveita os novos recursos midiáticos para a diplomacia, conferindo maior importância a empresas jornalísticas, redes internacionais de comunicação, portais de notícia na internet e à indústria cinematográfica no jogo político internacional.
Segundo elas, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso até o de Dilma Rousseff, o Brasil adotou estratégias políticas voltadas para a construção de imagens positivas do país em todos os âmbitos, e a promoção do país passou a pautar muito da atividade diplomática. Foi com Lula, entretanto, que isso ganhou força.
"O governo brasileiro, desde a administração Lula, vem conferindo crescentemente destaque à utilização estratégica dos meios de comunicação de massa (televisão, rádio, internet e mídia impressa) como forma de promoção de um ambiente internacional favorável a negociações externas de várias ordens (econômicas, políticas, culturais etc.)", diz o artigo.
Por mais que o grande foco fosse sempre a promoção de uma imagem "positiva" do Brasil, o fato é que este trabalho de projeção internacional foi eficiente em conquistar a atenção da mídia estrangeira. Com a crise política e econômica, entretanto, esta atenção se concentrou mais em notícias negativas, como mostram muitos levantamentos sobre as citações ao país no resto do mundo.
E, com a condenação e a prisão de Lula, foi o ex-presidente que tanto se preocupou com a projeção internacional do Brasil que se tornou o foco dessa atenção do mundo sobre o país –seja com uma interpretação de que a prisão é um avanço na luta contra a corrupção, ou de que apenas segue interesses políticos.
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