Longe da polarização, crítica internacional elogia sem ânimo 'O Mecanismo'
Com 80% de críticas positivas no site "Rotten Tomatoes", a série "O Mecanismo", de José Padilha, parece ter superado a polarização política do Brasil nas análises internacionais sobre ela. Ainda assim, avaliações apontam problemas na narrativa dos oito episódios, e reportagens mais sérias tratam da questão mais ampla sobre corrupção e democracia no Brasil.
A maior parte das primeiras avaliações feitas fora do contexto político do país tratam mais do ritmo da narrativa, dos personagens, da trama policial, e menos da ideologia e possíveis impactos eleitorais da série. O tom geral parece ser positivo, mas sem muita empolgação.
Com economia de elogios, o site "Hollywood Reporter", por exemplo, trata da série com interesse pelo jogo de "intrigas" políticas que é apresentado. Já a resenha do "Capital Times", chama a trama de "fascinante" por ser inspirada por casos reais. Enquanto o "Screen Rant" diz que a série é divertida e tem um "ritmo decente". Nos dois casos, há críticas ao uso excessivo de narração da história em áudio, e a série é constantemente comparada a "Narcos".
"'O Mecanismo' prova ser um procedimento competente, operando em uma enorme escala histórica, que, apesar de compartilhar muito DNA com Narcos, também tem pistas de "The Wire" e até mesmo do recente drama Collateral", diz o "Screen Rant".
Mesmo sem tratar dos impactos políticos da série, a crítica mais negativa foi feita pelo site "Thrillist", que chama a série de longa e sem objetivo.
"O mecanismo leva oito episódios para ir a lugar nenhum", diz. "Um filme de 90 minutos teria melhor servido a narrativa em vez de oito episódios. Nós realmente não precisávamos de uma série inteira, especialmente porque ela não terminaria com uma resolução de qualquer maneira. A Netflix poderia ter nos poupado dessa."
Independentemente dos méritos e dos problemas da série, é preciso ver ainda que ela pode ter efeito sobre a imagem internacional do Brasil. Por mais que a corrupção e os problemas políticos do país já tenham muita visibilidade no resto do mundo, e estejam associados à reputação do Brasil, ao transformar os escândalos em entretenimento, ela arrisca banalizar o problema aos olhos estrangeiros. O que se vê nessas críticas que tratam mais da questão estética e narrativa é que os impactos da corrupção sobre a sociedade brasileira viraram matéria prima para a diversão, e que o desenrolar da investigação é acompanhado como se também fosse entretenimento.
O debate mais político e ligado à situação do Brasil começa a assumir o centro da discussão, entretanto, quando a série é abordada por jornais mais sérios como o "New York Times". Segundo a publicação, os criadores de "O Mecanismo" mergulham em um tema controverso, e que divide a política brasileira, mas o fazem em um formato de thriller político familiar ao público internacional.
Sem avaliar tanto os méritos artísticos da série, o jornal britânico "The Independent" publicou uma entrevista com Padilha, em que ele critica os defensores da esquerda brasileira, e chama a estrangeiros que apoiam o PT, como o linguista americano Noam Chomsky, de ingênuos.
"A coisa toda é corrupta. Qualquer um que defenda uma gangue contra a outra gangue, porque estamos falando de uma guerra de gangues, não é uma guerra de ideologia ou partidos políticos, então qualquer um que pular na onda de uma dessas gangues por razões ideológicas é ingênuo", diz. "Precisamos educar os brasileiros sobre o que está acontecendo", completa.
Segundo a crítica da revista "Jacobin", entretanto, Padilha é que é ingênuo em seu olhar sobre a política brasileira. "O que Padilha consegue ignorar são os poderes econômicos envolvidos, como se a corrupção fosse um fenômeno autônomo contido inteiramente dentro do Estado. No relato de Padilha, era como se o dito 'mecanismo' não fosse também um assunto extremamente lucrativo, completamente cativado pelos interesses das empresas, dos latifundiários, dos rentistas e de toda a gama da velha classe de elite do Brasil. A leitura que Padilha faz da relação entre o poder econômico e o político é culpada de extrema ingenuidade, para dizer o mínimo", diz.
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