Sexualidade perde espaço para 'não é não' na cobertura do carnaval no mundo
Domingo de carnaval costumava ser um dia de grande repercussão internacional de imagens cheias de estereótipos de sexualidade da maior festa do Brasil. Não era raro ver os jornais internacionais publicarem galerias inteiras de fotos de mulheres seminuas. Era um dos principais momentos de reforço de clichês sobre o país no resto do mundo.
Em 2018, entretanto, o tom parece ter mudado. Movimentos de defesa dos direitos da mulheres e contra o assédio estão ganhando mais destaque na imprensa estrangeira do que a exploração das fotos sensuais que simbolizavam a festa brasileira.
"Carnaval do Rio começa com samba, blocos e aceno ao movimento #metoo", diz o título da reportagem do "New York Times" sobre o movimento contra o assédio que ganhou espaço na festa que simboliza o Brasil. "Mulheres no Brasil lançam campanha anti-assédio 'não é não' durante o carnaval", diz a chamada do "Los Angeles Times". "Mulheres brasileiras dizem "não é não' no carnaval", reforça a agência de notícias France Presse.
Dias antes do começo da festa, a agência Associated Press já indicava essa mudança de tom. Em reportagem sobre o carnaval, dizia que a festa estava se tornando um espaço de luta contra o assédio.
Mas talvez mais importante do que os próprios títulos seja uma análise visual da cobertura que a imprensa internacional está fazendo sobre o carnaval. Fotografias de bundas de brasileiras, que costumavam ser o principal símbolo da cobertura do carnaval no exterior, quase não apareceram até agora neste ano.
Neste ano, até agora quase não há fotos apelativas de mulheres seminuas com destaques no resto do mundo. Enquanto antes seria comum usar as imagens sensuais mesmo para ilustrar as reportagens da luta contra o assédio, agora as fotos usadas são coloridas e representativas, mas sem explorar demais a sexualidade.
Até mesmo no tabloide britânico "Daily Mail", onde o destaque sempre é o que possa atrair a maior audiência possível, há uma exposição de sexualidade carnavalesca menor do que no passado.
Em uma galeria de fotos publicada no site do jornal neste domingo há foliões, fantasias e carros alegóricos coloridos, uma ou outra mulher, mas nenhum destaque em bundas ou seios.
Reforça o comportamento diferente da mídia internacional o fato de que o único destaque dado a mulheres no carnaval do Brasil na mídia inglesa não é sobre brasileiras. "A mulher britânica liderando a dança no Brasil", diz a chamada da rede BBC sobre Samantha Mortner, londrina que se tornou "musa" de uma escola de samba no Rio.
Por outro lado, pode ser cedo para comemorar. Ainda é o domingo de carnaval, e ainda haverá muita festa a ser retratada, e possível que a imprensa internacional acabe voltando a explorar as imagens tradicionais ligadas a sexualidade. Mesmo assim, a tendência registrada até o momento parece um passo decisivo para uma imagem diferente do carnaval e do Brasil.
A mudança de geral de tom nesses primeiros dias é muito importante para a avaliação da imagem internacional do Brasil. Os clichês do carnaval e da sensualidade das mulheres do país são alguns dos mais fortes na mente dos estrangeiros, e isso costuma ser reforçado a cada ano. Com uma mudança de foco e uma exposição menor disso na mídia, talvez o país comece a caminhar para mudar um pouco esta reputação internacional.
Além disso, a visibilidade externa de um movimento contra o assédio mostra ao mundo que as mulheres brasileiras não estão dispostas a serem este estereótipo objetificado de sexualidade. As brasileiras dão um importante passo para romper com este clichê sobre o país.
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