Democracia brasileira é reprovada duas vezes por análises internacionais
Dois estudos internacionais sobre o estado da democracia no mundo divulgados quase simultaneamente no Reino Unido e na Alemanha indicam uma percepção internacional de crescente reprovação à democracia no Brasil.
Segundo tanto o Índice da Democracia, estudo do think tank da revista britânica "The Economist" (Economist Intelligence Unit) quanto Atlas das Sociedades Civis, elaborado pela ONG alemã Brot für die Welt, há sérios problemas com a democracia brasileira neste ano de eleição presidencial.
A democracia do Brasil recebeu nota 6,86 no índice de democracias da "Economist", o que faz o sistema do país ser considerado uma "democracia com falhas".
O país voltou a registrar uma piora em sua avaliação pelo terceiro ano seguido, perdendo 0,04 ponto desde a avaliação do ano passado (6,90) e mantendo-se abaixo da nota 7, o que faz desde 2015. Em 2014 o Brasil recebeu nota 7,38, melhor avaliação em mais de uma década.
O estudo é um panorama do estado da democracia em todo o mundo, avaliando a situação em 165 estados independentes e dois territórios. Ele leva em consideração cinco categorias: Processo Eleitoral e Pluralismo, Liberdades Civis, Funcionamento do Governo, Participação Política e Cultura Política. Cada país recebe uma nota por item, para em seguida ser categorizado como "Democracia Completa", "Democracia com Falhas", "Regime Híbrido" ou "Regime Autoritário".
O Brasil recebeu apenas a 49ª nota mais alta no índice. O país até foi bem avaliado no quesito Processo Eleitoral e Pluralismo, com nota 9,58. A avaliação de Funcionamento do Governo (nota 5,36) e Cultura Política (nota 5), entretanto, pioraram a percepção geral do sistema brasileiro.
O país vai mal especialmente por conta de questões ligadas a corrupção, considerada o principal problema da América Latina, segundo o estudo. "Investigações de corrupção continuaram a engolir a classe política brasileira, expondo condutas ilegais entre políticos e várias das maiores empresas do país, incluindo especialmente propina em troca de contratos com o governo e outros favores políticos", diz o relatório.
Apesar de ter sido publicado uma semana após a condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do PT não chega a ser citado, e é o atual mandatário, Michel Temer, que aparece sob críticas no estudo.
"O presidente Michel Temer evitou por pouco um julgamento por acusações de corrupção depois que seus aliados no Congresso votaram para barrar dois pedidos separados do procurador-geral para abertura de inquérito na Suprema Corte."
Além da avaliação negativa do índice elaborado pela EIU, o Brasil também foi criticado pelo atlas de democracias elaborado na Alemanha. Segundo reportagem da rede alemã Deutsche Welle, a análise diz que o Brasil vive uma "grave crise democrática" desde o impeachment de Dilma Rousseff.
O estudo colocou o Brasil entre os países onde a atuação da sociedade civil e o exercício das liberdades individuais é apenas "limitado".
A DW cita o relatório, que indica que, "a participação ativa na política, por meio de movimentos sociais, dá cada vez mais lugar à criminalização de ativistas. O clima político é cada vez mais determinado por um conservadorismo religioso", diz.
A avaliação é ainda mais interessante porque a ONG Brot für die Welt, responsável pelo estudo, é ligada à Igreja Evangélica da Alemanha (EKD).
A avaliação critica ainda a violência policial contra manifestações políticas. "Unidades especiais agem com gás lacrimogêneo, granadas de luz e som, balas de borracha e, em parte, munição letal contra os manifestantes", diz, segundo tradução da rede de notícias alemã.
Além das críticas à situação política do Brasil, os dois estudos também apontam para problemas em democracias por todo o mundo.
A Noruega, a Islândia e a Suécia são considerados os países mais democráticos do mundo segundo o estudo da "Economist", mas apenas 19 das nações avaliadas são consideradas democracias plenas. Já o Atlas das Sociedades Civis diz que apenas 2% da população mundial vive em sociedades onde é possível se expressar e atuar politicamente de forma completamente livre.
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