Imprensa estrangeira se alimenta de clichês criados no Brasil, diz estudo
A cobertura que a imprensa internacional faz no Brasil é marcada fortemente pelo uso de estereótipos e clichês para descrever o país de forma mais simples (ou simplista, até).
Um levantamento das notícias sobre o Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, por exemplo, revelou que 80% das menções ao país em cinco dos principais jornais estrangeiros continham estereótipos sobre a imagem do país (esta foi a pesquisa de mestrado do autor deste blog Brasilianismo).
Isso poderia ser visto como um problema, considerando que a mídia internacional é uma das principais fontes de informações que os estrangeiros têm sobre o Brasil e que isso ajuda a formar a imagem do país no resto do mundo. Isso também poderia estar relacionado ao fato de que o Brasil é visto como um país decorativo no resto do mundo.
Segundo um estudo acadêmico sobre o trabalho de correspondentes estrangeiros no Brasil, entretanto, o uso de clichês é parte de um processo no qual a imprensa internacional reflete a forma como os próprios brasileiros pensam sobre o país.
A explicação é de Antonio Brasil, professor do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Faz parte do artigo "A construção da imagem do Brasil no exterior: um estudo sobre as rotinas profissionais dos correspondentes internacionais", publicado em 2012, na revista Famecos.
A imagem do Brasil no exterior, diz, é resultado da nossa própria percepção sobre o nosso país. "Seria produto de uma autoimagem, traduzida e divulgada pelos correspondentes baseados no país, que se utilizam do noticiário brasileiro como fonte primária para a formatação da imagem do Brasil no exterior. Ou seja, apesar dos estereótipos culturais dos próprios correspondentes, são os próprios brasileiros que forneceriam a matéria-prima para o noticiário internacional sobre o nosso país."
O pesquisador analisou a produção de duas grandes agências de notícias internacionais para entender como era formada a imagem do Brasil que é mostrada no exterior.
"O Brasil historicamente apresentado na mídia estrangeira é invariavelmente fruto de uma imaginação desbragada sobre os trópicos e de uma projeção de uma utopia cheia de estereótipos e clichês, nos quais prevalecem velhos modelos de representação, calcados na exploração de uma natureza exuberante e de costumes singulares frente ao olhar euro-americano. Trata-se de um repertório de imagens que remonta aos anos de 1930, quando o Brasil ingressava na rota do turismo a partir dos grandes cruzeiros, dos cassinos e da reprodução internacional de um imaginário de um povo cordial e com manifestações culturais particulares. A beleza das mulheres, a musicalidade das gentes e o carnaval são expressões que seriam agregadas à descoberta da Amazônia e, mais recentemente, à violência e à exclusão, numa linha de desenvolvimento histórico que representa a imagem que temos do país", diz Brasil no artigo.
Segundo o trabalho, os dados analisados confirmam que as representações do Brasil no exterior são baseadas em estereótipos como carnaval, futebol e violência, refletindo representações que são criadas e divulgadas internamente no Brasil. "Ou seja, geramos e divulgamos nossos próprios estereótipos."
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