Deu no 'Globo': Kennedy pensou fazer intervenção militar no Brasil em 1963
Uma gravação de uma reunião do então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, revela que ele cogitou uma intervenção militar no Brasil em 1963, antes do golpe de Estado que derrubaria o então presidente brasileiro João Goulart.
A informação foi divulgada pelo jornal "O Globo" em reportagem sobre os documentos colhidos pelo jornalista Elio Gaspari ao longo de 30 décadas, e que agora foram disponibilizados em um arquivo digital.
"O acervo reúne bilhetes, despachos, discursos, manuscritos, diários de conversas travadas pela cúpula e telegramas do governo americano, somando mais de 15 mil itens sobre a ditadura", diz o jornal.
A indagação de Kennedy se deu no primeiro dos dois dias seguidos de reuniões de cúpula do governo americano, em 7 e 8 de outubro de 1963, quando se discutiu a situação do Brasil e do Vietnã, segundo texto divulgado no site dos arquivos.
"Na discussão sobre o Brasil, no dia 7 de outubro de 1963, [o então embaixador dos EUA no Brasil] Lincoln Gordon abriu a conversa com uma introdução sobre a conjuntura brasileira (…) Após o embaixador falar sobre eventuais parcerias culturais entre os dois países, Kennedy o interrompeu. 'Temos alguma decisão imediata para pressioná-lo?', perguntou, referindo-se a João Goulart. 'O que devemos fazer imediatamente no campo político, nada?', prosseguiu. Gordon revelou haver dois planos: 'Goulart abandona a imagem [de esquerdista] e resolve pacificamente. Ou talvez não tão pacífico: ele pode ser tirado involuntariamente'. Antes de concluir, o diplomata indagou: 'Vamos suspender relações diplomáticas, econômicas, ajuda, todas essas coisas? Ou vamos encontrar uma maneira de fazer o que todo mundo faz?'.", diz o texto.
"Ao ouvir de Lincoln Gordon as alternativas do que fazer no Brasil, John Kennedy lhe respondeu com uma pergunta: 'Você vê a situação indo para onde deveria, acha aconselhável que façamos uma intervenção militar?'. Gordon explicou que eles estavam trabalhando com o cenário de intervenção, caso Jango desse uma guinada à esquerda, influenciado pelo que chamou de 'velhos amigos' — um deles, Brizola."
"O plano, segundo o diplomata, fora discutido em Washington, no Rio de Janeiro e também no Panamá, onde os Estados Unidos mantinham o comando de suas forças militares para as Américas Central e do Sul. Mas Gordon alertou que, para tomar a decisão de intervir militarmente, a Casa Branca deveria esperar por iniciativas mais claras de que o governo brasileiro realmente virava a proa para um modelo 'fidelista'. Comentou ter conversado com o general Andrew O'Meara, do comando do Panamá, que o avisara sobre um possível contingente para uma ação no Brasil com 'seis divisões e 90 navios'."
Entrevistada pelo jornal brasileiro, a pesquisadora Barbara A. Perry, da Universidade da Virgínia disse que não é novidade que os Estados Unidos se engajaram nesse tipo de comportamento, para evitar que o comunismo se espalhasse pelo mundo. "Até hoje os Estados Unidos tiram pessoas do poder em outros países quanto sentem que é importante para os interesses americanos", disse.
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