Zygmunt Bauman via no Brasil um 'milagre inacabado' de 'cidades desumanas'
Um dos intelectuais mais populares e respeitados da atualidade, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, morto nesta segunda-feira (9), considerava o Brasil um "milagre inacabado", e se impressionou no passado com o que considerou "desumanidade" de grandes cidades, como São Paulo.
O comentário pessimista do pesquisador, considerado o "profeta da pós-modernidade", sobre o milagre e as perspectivas do país foi feito em 2015 durante entrevista ao programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil.
Questionado sobre a ascensão do país em anos recentes como sendo um "milagre", ele achou importante dizer que as coisas não eram tão boas, e que ainda havia fragilidades no país, mas que a redução da pobreza era algo que fazia do Brasil um exemplo global.
"Vocês estão no caminho certo e eu espero de todo o meu coração que vocês cheguem lá. Eu apenas direi que os representantes de 66 governos do mundo vieram para o Rio de Janeiro para se consultarem, para aprenderem sobre a experiência de retirar 22 milhões de pessoas da pobreza. Ninguém mais repetiu esse milagre, só o Brasil. Desejo que continuem isso, mas também agora algumas deficiências estão vindo à tona. E, por causa da Olimpíada no próximo ano, eu acho que vai fazer com que se repense a situação. Isso pode acontecer porque é um milagre inacabado. Você não poder fazer nenhuma previsão nessa condição. O que inspira é o esforço de evitar o fim prematuro do milagre", disse o sociólogo ao jornalista Alberto Dines.
Bauman já previa problemas no Brasil anos antes de chamar o país de "milagre inacabado". Em uma entrevista publicada pelo JDC International Centre for Community Development, de Oxford, em 2009, ele citou o Brasil –então em um de seus melhores momentos econômicos e de visibilidade global– como um dos países que estavam crescendo, mas que enfrentariam dificuldades (bem como a China e a Índia).
Antes disso, em 2004, quando havia estado apenas uma vez no país, Bauman disse à pesquisadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke que o que o impressionava sobre o que sabia do Brasil era a "desumanidade de cidades como São Paulo", por exemplo, "uma cidade que, como diz, com sua abundância de muros ao redor de residências, prédios, parques etc., mostra 'o lado mais brutal e inescrupuloso das tendências segregadoras e exclusivistas' das cidades metropolitanas".
"O fato de os brasileiros despenderem 'US$ 4,5 bilhões por ano em segurança privada' só acresce a desumanidade de um quadro que considera sintomático da realidade mundial", relatou a pesquisadora.
Bauman concedeu várias entrevistas à imprensa brasileira ao longo das últimas décadas, mas suas análises costumavam ficar mais focadas em temas de sociologia que conhecia tão profundamente. Ele viajou ao Brasil mais recentemente a convite de eventos culturais, e conversou com jornalistas brasileiros quando seus livros eram lançados aqui.
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