Brian Winter: Ouro do futebol pode marcar fim da crise política do Brasil
A conquista da medalha de ouro inédita do futebol brasileiro na Olimpíada do Rio, na semana passada, e o sucesso da realização do evento, serão lembrados como o começo do fim da longa crise que atingiu o Brasil, segundo a avaliação do editor-chefe da revista "Americas Quarterly", Brian Winter.
Em um artigo publicado nesta semana, Winter admite que essa interpretação pode ser uma busca pessoal pela construção de uma narrativa grandiosa sobre o destino da nação, mas apela à história para mostrar como futebol e política muitas vezes parecem convergir no país, e como isso pode ajudar o atual governo interino de Michel Temer a se consolidar e se fortalecer.
Vice-presidente da Americas Society/Council of the Americas, e autor de quatro livros sobre a América do Sul, Winter compara a atual situação do país ao que aconteceu em 1994. "Um Brasil deprimido precisava desesperadamente de um impulso", diz. Corrupção, crise política após impeachment e hiperinflação se juntavam a um jejum de mais de 20 anos em títulos da seleção de futebol e criavam "um sentimento geral de que o país não conseguia fazer nada certo".
E mesmo assim, naquele ano, a sorte virou enquanto futebol e política convergiam. O Brasil se tornou tetracampeão de futebol na Copa dos Estados Unidos, implementou o plano real, e deu início a um dos períodos de maior estabilidade da história recente do país.
"Não consegui parar de pensar nisso na tarde de sábado, enquanto o futebol brasileiro e a política mais uma vez convergiam de forma impressionante", diz.
"Ao vencer a Alemanha em mais uma disputa de penaltis dramática, o Brasil conquistou o ouro olímpico do futebol pela primeira vez, oferecendo a uma nação deprimida o maior momento de alegria coletiva em anos. Ao fazer isso, o time exorcizou alguns dos demônios da derrota por 7 a 1 na Copa – que por coincidência ou não marcou o início da descida do país a dois anos de humilhações, escândalos e recessão", explica.
Winter diz que é fácil pensar que "pão e circo" podem ser usados para distrair as massas e aumentar a confiança brasileira em meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. Ele alega, entretanto, acreditar que o Brasil amadureceu e que as lições da crise não vão ser esquecidas facilmente.
"Confiança e sentimento são críticos para políticas e para economias, e o otimismo muitas vezes se torna autorrealizável", diz.
A convergência entre política e futebol no Brasil é um tema frequente nas análises de estrangeiros sobre o país.
Enquanto analistas internacionais costumam ver os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva como um período único de estabilidade do país, é comum ler comentários de pesquisadores que associam as vitórias da seleção nas copas de 1994 e 2002 com a situação política do país no momento da eleição dos dois.
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