Cobertura estrangeira do Rio revela dicotomia e 'circo midiático'
A Olimpíada atraiu centenas de jornalistas da imprensa internacional ao Rio de Janeiro, a cidade que sedia os Jogos, e criou uma dicotomia na cobertura estrangeira sobre a cidade.
Por um lado, há as imagens de competições e da rica Zona Sul da capital fluminense, intercaladas com denúncias sobre problemas da cidade e do país. Por outro, há a análise mais aprofundada de correspondentes que já cobrem o país há muito tempo, e que escrevem sobre uma realidade que costuma ficar mais longe dos holofotes, e com uma perspectiva histórica mais longa.
Isso foi evidenciado pelo chefe do escritório do jornal norte-americano "The New York Times", Simon Romero. Em um artigo publicado nesta semana, ele diz que é "surreal" ver o Rio transformado em "circo midiático".
"Claro que muitos dos jornalistas que caem de paraquedas para os Jogos estão impressionados com o que veem. A cidade, com suas praias e morros, continua encantadora. Equipes de TV não podiam pedir um pano de fundo melhor", diz, contando sua experiência de escrever sobre o Rio há mais de uma década e ver a grande cobertura estrangeira de hoje.
"Ao mesmo tempo, algumas impressões que vejo me lembram o bom e velho texto do [jornal satírico] 'The Onion': 'Mulher que ama o Brasil viu apenas 10 km² do país', sobre uma higienista dental dos EUA que fica encantada após absorver a atmosfera de um resort de luxo no subúrbio do Rio, e sem nunca ir até a cidade", comenta.
O tom de Romero lembra um pouco um comentário similar sobre essa dicotomia publicado por um colunista do mesmo jornal. Roger Cohen, que foi correspondente no Brasil nos anos 1980, escreveu que está cansado do noticiário negativo sobre o Brasil.
Ele relata que morou no país durante um dos momentos de maior dificuldade econômica e instabilidade política da sua história recente, e o momento atual, mesmo com a crise revela uma história de sucesso.
"O Brasil é o cemitério dos pessimistas", defende, em contraposição às críticas internacionais.
O posicionamento desses correspondentes ecoa um pouco o sentimento protecionista dos próprios brasileiros. Desde semanas antes do início da Olimpíada, toda a imprensa nacional começou a acompanhar os comentários sobre o país na mídia estrangeira, e a reagir em alguns casos em que acharam que o país foi mal representado.
O site Plus55, produzido no Brasil, em inglês, para informar o público internacional sobre o país, chegou a publicar um artigo colecionando erros da imprensa internacional ao tratar do Brasil.
Este blog Brasilianismo há tempos se ocupa de entender a imagem internacional do país a partir do que é divulgado na mídia internacional. Em um texto publicado em março, explicava um pouco a importância do que se fala sobre o Brasil no exterior, e tentava analisar a aparente obsessão dos brasileiros pela imagem do país.
O interesse dos brasileiros e a importância dessa imagem internacional também foram temas abordados no livro "Brazil, um país do presente", que trata da reputação do país no exterior. Lá, está explicado que o Brasil sempre valorizou estudos externos sobre sua realidade, e que a própria concepção de "país do futuro" veio de uma análise internacional.
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