Evento nos EUA diz que crise 'caseira' do Brasil precisa de solução de casa
Por Diogo Cruz
O conturbado início da administração do presidente em exercício Michel Temer, em meio à grave crise econômica, aos escândalos de corrupção e ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, continua e continuará a repercutir por algum tempo no Brasil e no exterior. Nesta última quinta-feira (9), o Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars promoveu um evento em Washington D.C, nos EUA, com o tema "Brazil under acting President Michel Temer" (Brasil sob administração do presidente em exercício Michel Temer), para discussão dos atuais desafios que o Presidente interino enfrenta diante de tamanha crise política e econômica.
O painel de discussão contou com a participação de Juliano Basile, correspondente em Washington do jornal "Valor Econômico"; Mônica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute of International Economics; Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas; David Fleischer, professor da Universidade de Brasília; Maurício Moura, diretor da Ideia Inteligência; e Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute.
A discussão girou em torno da atual crise político-econômica enfrentada pelo país, suas causas e os desafios para combatê-la. A recente declaração do ministro Henrique Meirelles repercutiu durante o evento, em que afirmou que a crise atual pode vir a ser a maior da história do país.
O diretor do Brazil Institute, Paulo Sotero, enfatizou que o grande desafio no Brasil hoje é o problema do déficit fiscal, em que se revelou maior que o esperado. Ele considera que o foco do presidente em exercício deve ser na solução deste problema e que, sem ajustar essa questão, ficará difícil endereçar outras questões relevantes para o país.
A pesquisadora Mônica de Bolle foi na mesma linha ao considerar que o maior problema na economia hoje é de ordem fiscal, com causa relacionada ao desmonte, após a Crise Financeira de 2008, da estrutura macroeconômica que funcionou durante muito tempo no país pós estabilização econômica.
Políticas que não levaram em conta a responsabilidade fiscal do país tiveram como consequência o aumento da dívida pública brasileira, que gira em torno de 70% do PIB, avaliada como muito alta para um país emergente.
Também foi unânime que a solução passa pelo Congresso Nacional. O jornalista Juliano Basile ressaltou reformas necessárias, como a tributária, trabalhista, previdenciária e orçamentária.
O professor Cláudio Couto mencionou o grande desafio do atual presidente em conseguir apoio do Congresso para passar medidas de enfrentamento da crise, inclusive através de Emendas Constitucionais, e em construir uma coalização política em que o permita dirigir o país.
Ele considera que a combinação do colapso econômico, dos escândalos de corrupção e da perda do apoio no Congresso foi o principal fator que levou a presidente Dilma a ter que enfrentar o processo de impeachment.
O consultor Mauricio Moura salientou a pesquisa realizada pela Ideia Inteligência, em que 66% da população não tem expectativas quanto ao governo Temer, sob a ótica de que é necessário esperar um pouco para ver o que irá acontecer, e que 92% não acredita que Dilma conseguirá retornar ao Planalto.
Por fim, os escândalos de corrupção desencadeados pela Operação Lava Jato também foram debatidos. A imprevisibilidade e complexidade da situação foi destacada, na medida em que dezenas de delações premiadas estão em andamento. Apesar de afetar negativamente a já fragilizada economia brasileira, a Lava Jato não é causa, e sim parte da solução, de acordo com Juliano Basile, e conta com apoio maciço da população.
A crença é que a crise brasileira é de natureza interna, foi criada por uma série de decisões equivocadas nos últimos anos. E para crise "caseira", a solução também deve ser "caseira".
Diogo Cruz é administrador e atualmente cursa mestrado em política de desenvolvimento internacional na Duke University.
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