Oliver Stuenkel: Brasil vive cenário ideal para políticos populistas
A crise no Brasil gerou uma forte rejeição aos atores políticos e uma pulverização do poder, o que cria o cenário ideal para populistas, segundo o cientista político Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV e membro não residente do Instituto Global de Política Pública (GPPi), em Berlim.
Em entrevista à rede alemã "Deutsche Welle", Stuenkel disse que, a ideia de realizar novas eleições no país, que foi defendida pela própria "DW", pode gerar riscos. Segundo ele, o Brasil vive um clima parecido com a era pré-Berlusconi, na Itália, e pré-Chávez, na Venezuela.
Leia abaixo alguns trechos da entrevista
Você acha que têm razão aqueles que afirmam que Dilma foi removida do cargo mais por razões políticas do que pela alegada manipulação do orçamento?
Dilma certamente não caiu por causa das supostas pedaladas fiscais, mas porque fracassou em governar adequadamente. Se ela não tivesse caído por isso, tinha caído por outra coisa.
Então, mesmo o governo Temer tendo perdido muito de seu já minguado apoio, é improvável que Dilma volte?
Nem mesmo o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma quer que ela volte, porque todo mundo sabe que ela foi uma péssima presidente. Ela pode ser uma boa pessoa, mas é uma péssima política. Tirando um grupo bastante radical, ela não tem apoio público e nenhuma autoridade política.
O Brasil estaria caminhando para novas eleições?
Temer fez uma série de erros amadores em público. Ele pode simplesmente renunciar, mas a coisa mais provável de acontecer é a seguinte: se o governo Temer se tornar insustentável e protestos crescerem, os tribunais vão mover um processo de impeachment também contra o governo Temer. Não quero dizer que eles venham a emitir sentenças falsas, mas considero que eles têm um senso muito agudo de responsabilidade em evitar mais instabilidade. E há acusações contra ambos, Temer e Dilma, de terem financiado de forma ilícita suas campanhas presidenciais em 2014.
Considerando que não há aparentemente nenhum político com uma ficha limpa, em que novas eleições poderiam contribuir para uma maior estabilidade?
É fato que existe um tipo de pulverização na política brasileira e uma rejeição a toda a classe política – um cenário ideal para os populistas. No Brasil, há um clima pré-Berlusconi ou pré-Chávez. O mesmo aconteceu na Itália durante as investigações da Operação Mãos Limpas no início dos anos 90, que levaram à eleição de Silvio Berlusconi, e também na Venezuela, no processo que ajudou Hugo Chávez a se tornar presidente. Em novas eleições poderá haver dez ou mais candidatos, variando de moderados, como o ex-presidente Lula e seu adversário nas eleições de 2002, José Serra, até o radical de direita xenófobo Jair Bolsonaro. Com tantos candidatos, os radicais têm uma boa chance de avançar para um segundo turno, com apenas 10% dos votos. Essa é a grande preocupação no momento.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.