Marshall Eakin: Impeachment revela guerra cultural por identidade do Brasil
Enquanto o debate global a respeito das crises econômica e política do Brasil focam nos impactos na estabilidade e nas perspectivas da recessão e da legitimidade do governo, o impeachment de Dilma Rousseff pode marcar uma ruptura muito mais grave para o país.
"Acredito que uma ameaça mais profunda gerada por esta crise vai ser o senso de si mesmo dos brasileiros, a própria identidade dos brasileiros", analisou o brasilianista e historiador norte-americano Marshall Eakin, em texto publicado pelo portal "The Conversation".
"Em meus 40 anos estudando a história e a cultura brasileiras, nunca vi o país tão polarizado. Na última década, passei longos períodos no Brasil pesquisando e escrevendo (…). Mais de que muitos outros países, o Brasil teve uma narrativa dominante e poderosa sobre sua identidade nacional por décadas. Mas agora os brasileiros estão amargamente divididos", diz, citando as disputas políticas no país.
"A cultura cívica e a identidade nacional do Brasil podem ser vítimas adicionais dessa crescente divisão política", explicou.
Eakin é um dos nomes mais importantes da mais recente onda de estudos brasileiros nos EUA. Professor da Universidade Vanderbilt, no Tenessee, ele idealizou a criação da Brasa, a Associação de estudos brasileiros nos EUA, grupo que reúne mais de 600 pesquisadores e da qual foi secretário-executivo.
Em entrevista ao blog Brasilianismo, em abril, ele já criticava o processo de impeachment, e dizia que o fato de o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já ter sido manchado por claras e substanciais denúncias de corrupção tornava o processo ainda mais desanimador. "A tragédia do Brasil é que a corrupção há muito tempo é parte do sistema, e se espalhou", disse.
"O afastamento de Dilma Rousseff da Presidência ofereceu forte evidência do que pode ser uma batalha de narrativas culturais e da sociedade cívica", disse.
"Qualquer que seja o resultado final do processo de impeachment, é provável que ele faça retroceder a crescente cultura cívica e participativa em política. Ele vai deixar os brasileiros se questionando quem eles são como um povo e o que eles podem se tornar."
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