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Paulo Sotero: Polarização política de estrangeiros reflete crise do Brasil

Daniel Buarque

12/04/2016 12h45

Paulo Sotero: Polarização política de estrangeiros reflete crise do Brasil

Paulo Sotero: Polarização política de estrangeiros reflete crise do Brasil

A crise política no Brasil e o procedimento para retirar a presidente Dilma Rousseff do poder está gerando uma polarização internacional. Além da divisão política que se vê no próprio Brasil, observadores estrangeiros começaram a se posicionar publicamente sobre a instabilidade por que o Brasil vem passando, o que culminou com a publicação de manifestos em defesa da democracia e em um racha dentro da principal associação de estudos brasileiros no exterior.

Para Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Wilson Center, nos Estados Unidos, essa polarização externa não é exatamente nova, e apenas reflete o que acontece no Brasil.

"Até onde existe e tem ressonância, a polarização de visões que a crise de governança e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff provocam entre estudiosos de assuntos brasileiros nos EUA e outros países reflete informações e avaliações que leem na imprensa dos dois países e no que ouvem de seus colegas brasileiros, com os quais estão em constante diálogo. Ela não resulta de pesquisa ou de análise original", explicou Sotero, em entrevista.

Segundo ele, sempre existiram diferenças de percepções de política entre os chamados brasilianistas. "Entre eles, os historiadores e os pesquisadores das áreas social e política tenderam a manter uma disposição favorável às ideias reformistas ou progressistas", explicou. Por outro lado, "estudiosos americanos mais voltados para a economia e as áreas de tecnologia e inovação foram em geral mais céticos, por causa da inclinação do PT e da esquerda brasileira ao protecionismo e ao dirigismo estatal."

Sotero explicou ainda que o escândalo do Mensalão já havia dado espaço a uma divisão política entre os estrangeiros. Enquanto o primeiro grupo tomou um susto com as denúncias de corrupção no PT, mas não chegou a mudar de posicionamento. "á muito investidos numa visão positiva, muitos dos pesquisadores compraram a explicação oferecida pelos intelectuais ligados ao PT: ao chegar ao poder, o partido teve que adotar os usos e costumes da política nacional, mas o fez em nome de um bem maior e sem perder virtude. Essa avaliação resultou em parte da torcida benigna pelo país, em parte de simpatia ideológica. Ela está presente nos congressos acadêmicos, que focam em temas cada vez específicos, frequentemente pautados por métodos quantitativos, de duvidosa relevância", disse.

O grupo mais crítico, entretanto, viu seu ceticismo justificado pelas más notícias dos anos recentes. "Estas começaram no segundo mandato de Lula e se multiplicaram no governo Dilma: o fechamento comercial do país e o esvaziamento das políticas voltadas à inovação, reduzida a slogan, a partir do segundo mandato de Lula e, ainda mais, no primeiro mandato de Dilma."

A crise atual, entretanto, radicalizou ainda mais o debate e trouxe interrogações impensáveis há apenas dois anos atrás. "A maior delas é se o Brasil superará a difícil crise atual e emergirá dela fortalecido pela experiência, tornando-se tema ainda mais fascinante de estudo nas universidade dos EUA e do resto do mundo. Ou se, ao contrário, se tornará mais um caso de fracasso na América Latina, a reforçar a visão estereotipada negativa que existe entre os americanos sobre a região", explicou. "A resposta a essa pergunta definirá em grande medida o grau de interesse de scholars americanos e internacionais pelo país nos anos à frente. Para os que já fizeram essa opção, resta por ora a apreensão de que podem ter embarcado em canoa furada."

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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