Qualidade da imagem do Brasil no exterior despencou em 2015, diz pesquisa
O clima de desastre associado à imagem do Brasil no noticiário internacional ao longo dos últimos meses levou a uma deterioração aguda da imagem do país no exterior. A avaliação é o resultado da pesquisa "I See Brazil", estudo realizado pela agência de comunicação Imagem Corporativa, que busca medir as percepções externas em torno do país a partir do que se lê na mídia estrangeira e do que falam especialistas no assunto. Segundo o levantamento, 2015 foi "um ano para se esquecer".
"O retrato do Brasil como uma 'nova potência', 'economia emergente de destaque' e 'líder hemisférico' se desfez tão rapidamente quanto apareceu", diz o estudo mais recente, que acaba de ser publicado.
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O levantamento mostrou que houve uma clara inversão no teor das reportagens publicadas sobre o Brasil desde o final de 2014. No ano, quase três quartos dos textos que falavam do país apresentaram uma percepção negativa em torno do Brasil. Foram ou 72,3% de reportagens com tom negativo, e apenas 27,7% de matérias favoráveis ao país. Segundo a Imagem Corporativa, esses resultados são praticamente o contrário do verificado em 2011, quando as reportagens positivas somaram 73,5% do total, e as negativas, 26,5%. De "país da moda", o Brasil agora é mais associado a "país das crises".
O Estudo avaliou 1.908 reportagens sobre o Brasil publicadas no ano passado e indica que há nítido um interesse maior sobre assuntos ligados à economia (47,33% do total). Reportagens sobre política e a crise entre os poderes Executivo e Legislativo, além de escândalos de corrupção e ameaça de impeachment aparecem em segundo lugar, com 40,15% da cobertura internacional. Temas socioambientais encolheram para 12,53% do total.
A avaliação da Imagem Corporativa também atribui uma nota para a reputação do país no exterior a partir do levantamento realizado. O índice "I See Brazil" de 2015 resultou numa nota de 1,6 ponto em uma avaliação que vai de 0 (imagem extremamente negativa) a 10 (imagem extremamente positiva). Foi o menor resultado já registrado pelo estudo – uma marca dois pontos inferior à nora obtida em 2014, que foi de 3,77.
A agência de comunicação analisa as reportagens sobre o Brasil publicadas em nove veículos internacionais de imprensa para criar o índice I See Brazil: os argentinos "Clarín" e "La Nación", o alemão "Der Spiegel", o espanhol "El País", os britânicos "Financial Times" e "The Economist", o francês "Le Monde" e os americanos "The New York Times" e "The Wall Street Journal".
Apesar de ser um importante retrato da imagem do país no resto do mundo, é importante ressaltar que o índice é revela uma flutuação que não atinge a essência da "marca Brasil", a reputação que o país tem consolidada na mente das pessoas no resto do mundo – com todos os seus clichês e estereótipos. Esta imagem mais aprofundada, estudada por acadêmicos que pesquisam "identidade competitiva", não costuma flutuar com tanta facilidade, e tem uma característica mais permanente.
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Em uma entrevista concedida no ano passado ao autor deste blog Brasilianismo, o consultor britânico Simon Anholt, principal referência em estudos de imagem internacional e "marca país", dizia que o acúmulo de notícias negativas não afetaria a reputação do Brasil. Por mais que o noticiário dê impressão de estarmos vivendo um desastre real, ele está apenas amplificando um discurso que pode não ter um efeito real sobre a imagem da nação. O consultor é o criador do Nation Brands Index (NBI), índice que avalia a imagem de 50 países, incluindo o Brasil, no resto do mundo.
Os dados mais recentes das pesquisas deste tipo deixam bem claro que as crises pelas quais o país vem passando não afetam a marca do Brasil. Divulgado em novembro do ano passado, já em meio às turbulências econômica e política e depois da perda de grau de investimento, o NBI mostrou que o Brasil na verdade subiu uma posição no ranking global de imagens de nações, e agora é o 20º país mais admirado do mundo. A mudança foi interpretada sem euforia, já que há muitos anos o Brasil costuma oscilar entre a 20ª e a 22ª posição no ranking global de 50 países – mas a manutenção do patamar em meio à crise mostra bem a estabilidade da imagem mesmo com todo o noticiário jogando contra.
Na entrevista, Anholt explicou que as imagens internacionais dos países não costumam sofrer mudanças radicais, e disse que os estereótipos têm grande potencial de se manter fortes na forma como o resto do mundo interpreta as outras nações. Todos esses levantamentos confirmam uma tendência positiva para a "marca Brasil", e o fato de que as crises internas, por piores que pareçam, não afetam a reputação do país no resto do mundo. A imagem do Brasil está muito ligada ao estereótipo de Brasil como país "mais decorativo de que útil", mais "simpático" do que "admirado", como Anholt costuma explicar. Isso porque o Brasil é visto como um "país de festa" e tem uma boa imagem em questões relacionadas a lazer e diversão, mas uma reputação fraca em assuntos sérios como política e economia.
Não se pode negar que há um impacto imediato do noticiário internacional sobre o país na forma como ele é visto no resto do mundo. A situação do Brasil é crítica, e o levantamento "I See Brazil" mostra isso. Mas é importante ter em vista o contraponto desta imagem mais fixa do país. Isso tudo indica que uma estabilização da política e da economia do Brasil no futuro pode retomar o otimismo internacional com o país, melhorando a avaliação que se faz sobre o Brasil no resto do mundo.
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