Protesto 'histórico' no Brasil tem interesse reduzido no resto do mundo
A foto da multidão vestida de verde e amarelo ocupando a avenida e pedindo impeachment da presidente Dilma Rousseff é impressionante. Olhando de longe, entretanto, parece a repetição de uma mesma notícia – e notícia repetida não atrai tanta atenção.
A realização dos protestos "históricos" contra o governo em todo o Brasil, reunindo cerca de 500 mil pessoas somente em São Paulo, atraiu atenção reduzida no resto do mundo, em comparação com o que se viu em outras manifestações desde antes da Copa do Mundo. Apesar de uma cobertura intensa na imprensa estrangeira, o assunto não atraiu o interesse do público como outros protestos realizados antes.
Uma pesquisa na ferramenta do Google para tendências na internet permite ver claramente o decrescimento no interesse internacional. A cada onda de manifestações desde 2013, é menor o pico de atração da atenção estrangeira.
Os protestos de junho de 2013, com toda a aparência de ineditismo, tiveram muito mais força para atrair o interesse do público estrangeiro. Ali havia a surpresa de os protestos ocorrerem em um país que o mundo ainda via como "potência emergente", havia curiosidade sobre os motivos dos manifestantes e, acima de tudo, preocupação pela realização da Copa do Mundo, um evento de importância internacional.
Durante a Copa era possível ver um novo pico de interesse no assunto, e outras duas ondas de atração internacional ocorreram em março e agosto do ano passado.
Agora, em comparação, o mundo já viu centenas de fotos de protestos no Brasil, e viu isso mudar nada ou muito pouco na política do país. Viu-se ainda que a Copa ocorreu sem maiores transtornos, e que é provável que o mesmo ocorra com a Olimpíada. Além disso, as crises econômica e política são temas constantes na mídia estrangeira, e o mundo já voltou a se acostumar a ler sobre problemas no país.
O menor interesse registrado por ferramentas de busca não significa que o assunto foi ignorado internacionalmente. A imprensa estrangeira fez uma ampla cobertura das manifestações recorde, e é possível encontrar mais de 700 reportagens citando os protestos somente em veículos de língua inglesa – além de outras centenas em espanhol, francês, italiano, alemão e até chinês. Tanto assim que desde o domingo não faltaram veículos da imprensa brasileira republicando capas internacionais e falando na "repercussão internacional".
Mesmo com toda a repercussão global, é possível perceber uma mudança no perfil da cobertura. Apesar de terem sido publicadas longas e excelentes reportagens, com descrição dos protestos e explicação sobre a situação do Brasil em plena crise política e econômica, sobra notícia e faltam análises. A maioria dos textos publicados no resto do mundo se prendem a um relato dos fatos, e faltam análises aprofundadas observando o que acontece no Brasil a partir de uma ótica externa.
As reportagens até citam que o governo está sob forte ameaça de impeachment, mas o tema está sendo debatido há meses, sem que haja um desfecho – e isso só aumenta a sensação de que a notícia é repetida.
Nada disso tira a importância ou o caráter histórico do tamanho da manifestação, é verdade. A redução do interesse talvez diga mais sobre a busca do público pelo sensacionalismo do que pelas notícias reais. O que importa é que o mundo continua atento ao noticiário sobre o Brasil, os correspondentes continuam sua cobertura, e o público vai prestar atenção quando houver notícias que pareçam novidade.
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